Daniel Campos

Prosas

Ou exibir apenas títulos iniciados por:

A  B  C  D  E  F  G  H  I  J  K  L  M  N  O  P  Q  R  S  T  U  V  W  X  Y  Z  todos

Ordernar por: mais novos  

Encontrados 3193 textos. Exibindo página 138 de 320.

11/05/2011 - Grilado

Não me fale mais nada, somente ouça meus grilos. Ouça os anjos e demônios que se esfregam em minha garganta como as pernas de um grilo. Não me espanta eu ser o ventríloquo de um ser que desconheço. Falo e não me convenço do que digo. Eu sou a voz que escurece o dia, a voz que rasga a fantasia, a voz que amadurece o figo. Eu sou a voz que vem de longe, que esconde um segredo, que treme de medo. Eu sou a voz dos grilos que cantam em estribilhos. Eu sou a voz do trem que vem faiscando nos trilhos. Eu sou a voz daqueles que se ajoelham no milho. Eu sou a voz que ecoa pelo asilo. Eu sou a voz da noz que come o esquilo. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

12/07/2010 - Grilagem

Era só o que faltava: grilos falantes e cantantes invadiram minha casa. Na cozinha, na sala, no banheiro, no quarto... No sapato, na geladeira, no guarda-roupa. Há uma epidemia de grilos. Os orientais dizem que eles são sinônimos de boa-sorte. Por alguns minutos tudo é festa, mas confesso que ficar sem dormir por conta deles é, no mínimo, um atestado de azar. Mau-humor, indisposição, náuseas. Que cantoria de uma nota só é essa pelo amor de Deus?

De onde vieram os insetos ortópteros, da subordem ensifera, da damília dos grilídeos? Será que vieram das nuvens ou das ferrugens do chão. Mas aqui só tem plantação de sonhos e mais nada. Não sei se gostam de sonhar, mas agora que eles acharam direitinho a minha estrada só resta pedir ajuda às fadas, aos duendes, aos elfos... É um reco-reco nascendo sem parar desses bichos esverdeados. Minha esposa já arrumou as malas......
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

04/02/2011 - Grita que fica

Se for falar de separação, por favor, não fale agora. Não é hora de lhe perder. Quer porque quer me fazê-la esquecer de um modo que ainda não pude. Mulher,baixe a guarda, esse jeito rude não combina com você. Quem nasce pra fada não tem porque se praguejar tanto assim. Tem pena de si, tem dó de mim. O nosso amor não merece chegar ao fim.

Ao fim dos beijos. Ao fim dos ensejos de nós dois. Ainda há muito pra se fazer depois. Depois de hoje, depois de amanhã, depois do tempo que vem, não lhe convém pegar o primeiro trem. Não lhe convém dar os braços à solidão e sair às ruas sozinha , tão livre e quão minha. Ah! Mulher não me deixe aqui com esses ais, o que vou fazer com os sonhos, costumes e retratos de casais?...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

18/07/2015 - Guardação

O que você guarda no fundo das suas gavetas? O que você sucumbe sob sua cama? O que você armazena atrás do seu armário? O que você empurrou para debaixo do tapete? O que você colocou no esquecimento? O que você segreda pelos cantos? O que você deposita no seu baú? O que você mantém em seu sótão? O que você abandonou no seu porão? O que você enterra? O que você esconde? Do que você se desfaz não se desfazendo? O que você jogou fora dentro de você?


Comentar Seja o primeiro a comentar

02/11/2013 - Há de haver alguém

Há de haver alguém olhando para a lua todas essas noites muito escuras. Há de haver alguém ouvindo Lulu Santos nas horas mais frias. Há de haver alguém tentando compreender tudo isso que é o amor. Há de haver alguém tentando desvendar retratos do presente, do passado e do futuro. Há de haver alguém buscando semelhanças em duas existências distintas. Há de haver alguém suspirando mais fundo a cada minuto.

Há de haver alguém querendo estar junto e, quando junto, mais junto, e quando mais junto, mais que mais junto. Há de haver alguém repensando caminhos, projetos, expectativas. Há de haver alguém reclamando uma ausência ou agradecendo uma presença. Há de haver alguém esperando o vermelho do sinal esverdear para poder seguir. Há de haver alguém fazendo incursões diárias por labirintos físicos, filosóficos, poéticos... ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

23/01/2013 - Há sempre

Há sempre um peixe para fazer um pescador. Há sempre um padre para fazer uma confissão. Há sempre uma vítima para fazer um ladrão. Há sempre um cruzar de pernas para fazer um romance. Há sempre uma pista para fazer uma investigação. Há sempre uma lua para fazer um poeta. Há sempre uma onda para fazer um surfista. Há sempre uma vela para fazer um santo. Há sempre um caminho para fazer um descaminho. Há sempre uma ideia para uma mentira para fazer uma verdade.

Há sempre uma culpa para desfazer um inocente. Há sempre um defeito para desfazer o perfeito. Há sempre uma traição para desfazer uma paixão. Há sempre um vento para desfazer o penteado. Há sempre um fim para desfazer o começo. Há sempre um estopim para desfazer a paz. Há sempre um passo para desfazer o compasso. Há sempre uma loucura para desfazer a rotina. Há sempre um engano para desfazer o plano. Há sempre um erro para desfazer o acerto. Há sempre uma contraprova para desfazer a prova. Há sempre um não para desfazer um sim.


Comentar Seja o primeiro a comentar

10/11/2008 - Há sempre alguém

Há sempre alguém feliz a andar por aí. Alguém que canta feito passarinho. Alguém que espanta os males. Alguém que acredita na santa e vai, com fé, mesmo a pé, aonde Deus quiser. E é uma gente que se contenta com pouco, afinal o sonho maior é estar vivo. E o melhor desse carnaval é que essa gente agradece pelo que tem e pelo que não tem. É uma gente farta de sorriso e cor, pronta para distribuir amor, seja para que lado for.

É uma gente que vive de dentro para fora, oferecendo-se para o mundo. Uma gente que ajuda, que auxilia, que se põe de guia. Uma gente que não pede nada em troca. Uma gente que é feliz de nascença e marca presença. Uma gente que vibra pela vitória alheia, que comemora cada amanhecer e que faz da alegria um bem-viver. E o sofrer? Bem, o sofrimento é só mais um sentimento a ser destilado pelo teu pensamento. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

23/04/2016 - Há uma voz que canta

Há uma voz que canta pelos confins do tempo me dizendo sins mesmo quando tudo se faz não. Há uma voz que é vela, janela e procissão me guiando e me iluminando quarteirão a quarteirão. Há uma voz falando fundo no profundo da minha incompreensão, querendo levar à tona o que está além, bem além da razão. Há uma voz ralhando comigo - não que eu seja seu inimigo ou seu amigo, mas é uma voz que me dá e me tira o abrigo. Há uma voz dizendo que todo pássaro precisa de um ninho, mas que pássaro algum pode deixar de voar na busca por não viver sozinho.


Comentar Seja o primeiro a comentar

17/02/2012 - Hamlet apaixonado

O trágico Hamlet, filho de Shakespeare, anda mais apaixonado. Não que paixão e tragédia estejam dissociadas, mas é como se ele tivesse tirado um pouco do peso do mundo que carregava consigo. Mudou de tom e de ares. Trocou o frio da Dinamarca pelo verão carioca e a aristocracia pela fantasia do Carnaval. Continua se interrogando em voz alta, mas já não coloca o suicídio como o que há de mais importante para ser discutido e vivido. Afinal, hoje em dia está um tanto démodé o ato de morrer de amor. E Hamlet está mais moderno, com toques contemporâneos. No entanto, a dúvida do ser ou não ser ainda o persegue em tantas questões e variações, como num bem-me-quer ou mal-me-quer, num beber ou não beber, num trair ou não trair......
continuar a ler


Comentários (1)

18/08/2011 - Hei de viajar

Hei de viajar pelo seu corpo, pelas suas linhas geométricas e telefônicas, sem quaisquer cerimônias. Hei de viajar pelas suas ligações umbilicais, zodiacais, extraconjugais. Hei de viajar pelos querubins e pelos seus demônios, entre o enxofre e o jasmim. Hei de viajar pelos seus cantos, dos retos aos mais obtusos, como um perfeito intruso. Hei de viajar até que eu não saiba mais começam meus limites e findam suas afrodites.

Hei de viajar em passos suficientemente longos e pausas mudas, meditando em seu tempo particular todos os meus budas. Hei de viajar tomando para mim partes das suas asas, das suas artes. Hei de viajar pelas suas poeiras, pelas suas lamas, pelos seus desconfortos, pelas suas desordens até que todo sentimento apague as luzes que nos casam num mesmo palco. Hei de viajar trágico e nostálgico pelos seus fatos. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

Primeira   Anterior   136  137  138  139  140   Seguinte   Ultima