Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 139 de 320.

Helicópteros e gatos vira-latas

Dois helicópteros voando feitos balões de hélio. O barulho das nuvens sendo cortadas, dilaceradas, despedaçadas por aquelas lâminas. Lâminas que depilavam os sonhos de uma mulher que via o mundo passar da janela de um ônibus. Assim como aquelas duas máquinas ovaladas, vestia-se de luto. Vestia a noite em seu próprio corpo. Corpo sem pêlos, sem apelos e com tantos dramas enrolados em feitio de novelos. Novelos prontos para serem tecidos. Mas ao invés dos teares, preferia entregar esses novelos para a brincadeira dos gatos vira-latas. Gatos que apareciam e sumiam de sua casa num piscar de olhos. ...
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04/04/2013 - Heróis?

Heróis choram, na maior parte das vezes, escondido. Heróis têm sono pesado. Heróis têm carne e osso. Heróis se vendem. Heróis ajoelham. Heróis têm medo. Heróis reclamam. Heróis nem sempre fotografam bem. Heróis comem porcaria. Heróis cospem e arrotam. Heróis jogam lixo no chão. Heróis envelhecem. Heróis pecam. Heróis bebem, fumam e se drogam. Heróis caem no anonimato.

Heróis têm mal-humor. Heróis traem. Heróis se divorciam. Heróis não guardam segredos. Heróis dão de ombros. Heróis têm rugas, olheiras e celulite. Heróis abusam de seus super-poderes. Heróis se escondem atrás de seus super-poderes. Heróis não são nada além de seus super-poderes. Heróis engordam. Heróis violam as regras. Heróis morrem sem cerimônia. Heróis têm seu momento vilão.


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08/02/2015 - Hibernação

Ai meu amor hiberna em meus braços em posição de compasso circulando todo o meu ser. Ai meu amor o tempo invernou, o frio por todo lado se instalou e é hora, mais do que hora, de você não ir embora de mim nunca mais. Ai meu amor não há coberta mais quente do que sua pele poente sem dizer da sua língua de palavras ferventes aos ouvidos meus. Ai meu amor não se pode mais ir lá fora, nem pássaro consegue voar, nem o sol consegue raiar, a chuva fria tomou conta do tempo que corria contra nós. Ai amor tudo o que quero são dois corpos em seus devidos postos como lençóis sobrepostos numa cama onde do atrito há de nascer infinita chama. Ai meu amor esquece o quanto nos faltamos e abraça-me, por favor, e não fala mais nada que não provoque ou invoque ou dê suporte ao calor que tanto precisamos. Ai meu amor queima os pesadelos, queima os dias de solidão, queima a saudade atravessada, queima o choro de ser tão só, queima os caminhos sozinhos, queima as partes de uma vida que não conseguiu ser inteira, para ver se desse fogo sobra, nasce, fica algo de nós. Ai meu amor queimemos feito fênix pelos céus pelas cinzas pelas verdades rabiscadas nas nossas quatro paredes. Ai meu amor internemo-nos urgentemente ao fundo mais fundo da nossa caverna entrelaçando nossas pernas como ursos hibernados, sem futuro sem passado, com corações aos soluços ao pulso de chorar e de esperar por um novo tempo ao acordar.


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13/12/2012 - Hino ao desespero

O que eu faço? Para onde eu vou? Só há esculacho por toda parte? Basta de guerra eu quero arte. Basta de terra eu quero marte. Chega de tanta selvageria, competição, hipocrisia... Não sou feito de aço nem de concreto, sou poesia. E como todo poema eu machuco. Por que o mundo está tão maluco? Cadê a fantasia no dia a dia? Se você chama truco eu grito seis. Sou freguês de um faz de conta que já não existe. Por que tudo tem que ser sempre e para sempre tão triste?

Estou perdido. Estou acuado. Estou vencido. Estou jurado. Estou foragido. Estou enfadado. Estou aborrecido. Estou entalado. Por que as ilusões não vingam? Por que os corações empedram? Por que as canções se calam? Por que as estações não mudam? Por que as assombrações imperam? Será que a gente merece terminar sem começar? Será que quem faz o mal se dá bem? Será que deus está de desdém? Será que tudo tem que agourar, tem que falhar, tem que tombar?...
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20/12/2010 - Hipocrisia pra morrer

A vida é exuberante, dona de uma perfeição tamanha em seus rompantes. O céu é azul, o mar é azul, o sentimento é azul. É fato, os pássaros cantam de norte a sul inebriando o ambiente. Há mil e um motivos para comemorar o ato de viver. Há muita sombra e água fresca por aí; glórias e louvores às criações divinas. Os casais andam pelas estradas de mãos e bocas dadas num completo conto de fadas. Todos se dão bem, vão e vem na mais perfeita ordem. As palavras não mordem e os diferentes se entendem.
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22/01/2015 - História dividida

Chora, chora por tudo o que valeu à pena. Chora, chora por ser assim, carne de poema. Chora, chora por amar demais. Chora, chora pelo aparecimento de um “mas”. Chora, chora pelos erros que não teve como consertar. Chora, chora pelos obstáculos que não teve forças para superar. Chora, chora por ter se dedicado mais e mais não sendo o suficiente. Chora, chora sua face mais ausente. Chora, chora a metade que se perdeu. Chora, chora por tudo que feneceu. Chora, chora pelas horas mais lindas das nossas vidas. Chora, chora pela criação da despedida. Chora, chora pela filha que não teve tempo de nascer. Chora, chora porque amor grande, amor poeta, tem que sofrer. Chora, chora o vazio que passa por nós na violência de um rio. Chora, chora o frio da falta do corpo alheio. Chora, chora me lembrando em seu seio. Chora, chora pelos cacos que ficaram. Chora, chora pelas bênçãos que nos devotaram. Chora, chora todo carinho derramado. Chora, chora e declara luto ao passado. Chora, chora não querendo ser mais de ninguém. Chora, chora sem saber se ainda é alguém. Chora, chora essa história dividida. Chora, chora sem querer saber de sono ou de comida. Chora, chora pelo fim do encanto. Chora, chora nas barras de qualquer manto. Chora, chora queimando como vela. Chora, chora sem coragem de olhar se há futuro pela janela. Chora, chora o apocalipse de um tempo. Chora, chora pelo eclipse que houve em nosso sentimento. Chora, chora a saudade de um perfume. Chora, chora sem entender o próprio ciúme. Chora, chora sobre fotografias. Chora, chora pelas rasgadas fantasias. Chora, chora por tudo o que fez sem ou por querer. Chora, chora porque ainda há de muito doer. Chora, chora pelos tempos que não voltam. Chora, chora pelos arrependimentos que não soltam. Chora, chora pela falta de estrada para continuar. Chora, chora porque o amor mais dia menos dia tem que chorar. Chora, chora ainda sentindo seu corpo no amado e desejado corpo. Chora, chora em meio ao torpor. Chora, chora sem guardar rancor de si ou de quem quer que seja. Chora, chora por mais que não mais se veja. Chora pelo destino interrompido. Chora um choro que ora é grito ora é silêncio ora é gemido. Chora, chora em soluços até ficar sem ar. Chora, chora como se a alma, a própria alma, fosse derramar. Chora, chora pelo que se quebrou, pelo que secou, pelo que ficou, pelo que o tempo carregou, pelo que um erro que custou. Chora, chora pelo conto de fadas que escapou das suas mãos. Chora, chora por perdão. Chora, chora tentando se perdoar. Chora, chora porque o mundo não pode parar. Chora, chora esperando quem não vai voltar. Chora, chora tentando entender o que não entendimento. Chora, chora pelo labirinto do tormento. Chora, chora sangue, suor e coração. Chora, chora diante desse muro gigante e alucinante chamado não. Chora, chora de dentro pra fora, de fora pra dentro, dos lados, de cima abaixo, de baixo pra cima. Chora, chora a mudança do clima. Chora, chora pelo que ficou para sempre preso no futuro. Chora, chora o não haver mais um lugar seguro. Chora, chora e pensa e faz e repensa uma besteira. Chora, chora a impossibilidade de uma história inteira. Chora, chora nas garras e nos dentes da solidão. Chora, chora num choro-canção fazendo da dor o seu refrão. Chora, chora de se jogar ao deleite. Chora, chora pelo derramado leite. Chora, chora por descobrir um ponto final no infinito. Chora, chora um choro contrito. Chora, chora fazendo do que não foi o seu muro de lamentação. Chora, chora pelo nascimento da morte no leito da divisão. ...
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27/06/2010 - Histórias de porteira

Quando abria a porteira, meus olhos se abriam para um quintal de folhas no chão e cacarejo de galinhas ciscando. Cada uma de seu jeito, mais tímida ou atirada, as frutas se dependuravam nas árvores que esperavam um ano para dar o que comer. O cachorro me olhava da soleira da porta querendo um doce enquanto um apito de trem cortava a cidade. Perto dali, o namoro seguia nos bancos de praça, o tricô em cadeiras de balanço e a prosa em goles de café. E meus ouvidos, cansados de guerra, fartavam-se dos repiques de sino que convida para as missas da padroeira. E quando o dia escurecia, as estrelas se ajuntavam e faziam no céu uma fogueira. ...
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26/08/2013 - Hoje acordei...

Hoje acordei e o jornal já tinha sido lido pelo cachorro, que latia das principais manchetes do dia até as previsões do horóscopo. Hoje acordei e o bule de café tinha já ido embora com a jarra de leite. Hoje acordei e o mundo estava de pernas para o ar, como se a faxineira se esquecesse de desvirar os móveis ao final do serviço. Hoje acordei e o pão estava com alergia à manteiga e brigado com o requeijão. Hoje acordei e minha roupa de trabalhar estava de folga.

Hoje acordei e a televisão insistia em me dizer o que era para ser feito e desfeito. Hoje acordei com a sensação de ter dormido de menos, mesmo sabendo que havia dormindo demais. Hoje acordei com o sol estapeando minha cara. Hoje acordei com o caminhão do lixo recolhendo o que até ontem era importante para mim. Hoje acordei com a caixa do correio abarrotada de más notícias. Hoje acordei com o destino martelando meus ouvidos. Hoje acordei e os santos não me disseram nada de novo.


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06/08/2013 - Hoje é dia

É dia de levantar inteiro. É dia de lavar o rosto. É dia de enxugar as lágrimas. É dia de sacudir a poeira. É dia de tentar outra vez. É dia de ir de alimentar a fantasia. É dia de lutar pelo que se quer. É dia de buscar ser melhor que ontem. É dia de carregar o que lhe cabe. É dia de flertar com a possibilidade e também com a impossibilidade. É dia de sorrir mais. É dia de aliviar a dor. É dia de se apresentar inédito. É dia de procurar pela felicidade que se escondeu ou, que se perdeu ou que ainda não apareceu. ...
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13/03/2016 - Hoje é dia de domingo

Hoje é dia de pão fresco com manteiga de leite, daquelas bem amarelinhas e cremosas. Hoje é dia de galo cantar acompanhado do sino da igrejinha. Hoje é dia de gordura pingando na brasa. Hoje é dia de moda de viola, de bossa nova, de tamborim e pandeiro. Hoje é dia de comer pipoca no escurinho do cinema. Hoje é dia de jogar bola e de dar bola a alguém. Hoje é dia de praia, piscina, cachoeira, enfim, de se dar com a água. Hoje é dia de ir além do aquém. Hoje é dia de pedalar a bicicleta ou as pernas do seu amor. Hoje é dia daquela comidinha especial, com cheiro e tempero de fazer inveja a qualquer outro dia da semana. Hoje é dia de colo, de abraço, de corpo junto e misturado. Hoje é dia de deixar o relógio de lado e caminhar por um outro lado. Hoje é dia de se encontrar com árvores, com trilhas, com lagos, com feiras, com sabores, com perfumes, com crenças e outras bênçãos. Hoje é dia de vestir a roupa de domingo e sair por aí como que não querendo nada, mas sonhando com tudo, sem espada, nem escudo.


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