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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 299 de 320.
Carta à procura da felicidade
Pode falar e re-falar. Não me convence quando se diz feliz. Se o for, seu conceito de felicidade é tão restrito quanto seus argumentos. Tudo bem que não queira admitir, mas se enganar faz mal. Mal à saúde física e psíquica. A felicidade não se traduz numa vida mesquinha, àquela que parece perfeita. A felicidade feita só de risos é tão frágil que chega a inexistir. Sorrisos ásperos, amargos, ensaiados não me convencem. A felicidade sofre, chora e suplica como qualquer mortal. A felicidade não é uma deusa, uma santa ou qualquer outro ser mítico. A felicidade é humana. E todos os humanos são feitos de sofrimento. A felicidade é uma dádiva de poucos momentos. Momentos em que somos feitos de um sentimento bruto. E sorrisos não são as únicas formas desse sentimento escorrer. ...
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Cartas e cigarros
Deixou as cartas sobre a mesa e saiu à procura de um cigarro. Um cigarro de pirilume. Um cigarro de lua. Um cigarro de ópio. Um cigarro de si. Ela saiu pelas ruas esfumaçadas e encontrou, em cada esquina, uma ilusão mascarada e um futuro com a cara mais amarrada. Saiu atrás de um cigarro. Procurou nas bocas dos bêbados, dos porteiros, dos taxistas, das prostitutas, dos cafetões, dos garçons, dos policiais, dos violeiros, dos cozinheiros, dos pedintes e dos ouvintes daquela música que ela nunca escutou, mas que alguém havia feito para ela. ...
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Casulo
Sonhava em ter asas. Mas não eram quaisquer asas. Longe de suas costas a idéia de ter asas de pássaros, de anjos, de morcegos. Não queria asas de pluma, de penas, de couro. Queria asas finas. Queria asas de papel de seda. Tão finas a ponto de serem rasgadas por um vento mais afiado. E ultimamente, seu vento norte vinha com lâmina amolada. Eram tantos cortes que a vida vinha lhe fazendo. Profissionalmente, pessoalmente, religiosamente e romanticamente.
De chefes a namorados, de amigos a padres e pastores, de vizinhos a garçons, todos lhe cortavam um pouco. Fosse corte físico ou moral. Alguns cortam sua pele rosada, outros cortam a oitava camada de sua alma. As outras sete já estavam retalhadas. Mas isso não impedia que aquela menina sonhasse em ter asas de papel de seda. E em seu desejo, o papel e a seda também não eram comuns. Eram asas pintadas, bordadas, recortadas. ...
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Causos de mogi-mirim
Mais um causo para o folclore de Mogi-Mirim: o dia em que o governador veio para a cidade e o povo não viu. A cidade (a elite da cidade), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o clima de festa. Embora não vi o governador, (assim como mais de 99% da população eu também não fui convidado), ficaram algumas dúvidas:
Quem veio para Mogi-Mirim foi o governador ou o governador que é candidato a governador? Pode parecer a mesma coisa, mas são duas coisas completamente diferentes, principalmente em política em pleno ano de eleições. Neste ano em que não faltam campanhas políticas, é bom lembrar que somos vistos como votos e não como pessoas. ...
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Chamamento
De repente, como aquela promessa que os sonhos sempre lhe fizeram e que já dava por vencida, ela surge. Se ela fosse uma promessa, ela seria cumprida quando não se acreditasse mais. Se ela viesse por uma rua deserta, quando ela passasse a rua se encheria de lembranças. Saudades de todas as formas e tamanhos. Se ela surgisse do nada como surgem coisas que não se explicam ninguém se assustaria. Impossível se assustar com uma presença, a primeira vista, tão leve. O que importa é que ela surge com os olhos cheios de mar e céu....
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Cheiro da chuva
Como é bom sentir o cheiro da chuva. Cheiro da chuva? Aprendemos na escola que a água matéria-prima da chuva) é inodora, ou seja, não tem cheiro. Então como explicar o aroma que se instala em nossas narinas quando acontece de chover?
Alguns dizem ser o cheiro da poeira presente no ar, na terra, ou ainda, fruto da poluição. Mas não o creio. Contrariando a química, a biologia, e os sabichões, afirmo: a chuva possui cheiro.
Clarões, nuvens negras, trovões... Vem o cheiro de chuva e nos avisa dos primeiros pingos. O aroma que a anuncia é diferente do odor que fica após a chuva. O primeiro aroma é mais rústico, invade nosso pulmão sem pedir licença, chegando a ter notas secas. O segundo é o mais intenso, aquele que cala fresco e doce, mas com direito a uma brandura infinda. Quando a chuva acontece em sua plenitude, o aroma que invade o nosso buquê nasal é a mistura entre o rústico e o fresco, entre o seco e o doce, entre o autoritarismo e o delicado. ...
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Coisas de inverno
Chove miúdo. Uma vontade de inverno surge na tarde escura. Uma colcha de nuvens de várias tonalidades. A janela aberta ao vento leve. Um vento que marca. Aquele que não passa sem ser percebido. A lâmpada do quarto acesa e uma sensação de felicidade triste. Se é que isso existe. Os pingos caem nas calhas em feitio de notas de piano. Um querer ir para a cama e se encher de cobertores. Ou então de abrir o guarda roupa e pegar roupas de lã. Se bem que nunca gostei de roupas de lã.
Tempo com cheiro de guardado. Um chá quente. Bem quente. Um bom disco de inverno. Quem sabe camomila com João Gilberto. E um bom livro, mas algo curto, como alguns contos ou algumas poesias. Um romance pode ser muito arriscado. Se a leitura for muito longa e densa pode demorar mais do que o inverno. O ideal é que entre um gole de chá, uma música e uma poesia, os olhos escorram pela janela e se atirem aos braços do frio. ...
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Coisas de torcedor
Hoje é domingo. E domingo de final de Copa do Mundo. Domingos assim só acontecem de quatro em quatro anos. E daí! Grande bobagem. Ainda mais quando o leitor sabe que o escritor aqui não é dos mais apaixonados por futebol. De fato, não sou a melhor pessoa para fazer análises sobre o jogo de hoje. Por isso, vou falar de você aí do outro lado.
Hoje o país (ou quase todo o país) é uma enorme massa verde-amarela. E no meio dessa massa, lá está o torcedor brasileiro. Um torcedor que não tem nome, não tem cor, não tem idade, não tem sexo, enfim, não tem nenhuma daquelas respostas computadas pelo Censo. É apenas mais um. E lá vou eu buscar um modelo clássico de torcedor. Por isso, não me importa os dados específicos acima. Busco um torcedor geral, ou melhor, genérico. E como o remédio genérico, o torcedor genérico só aparece em momentos estratégicos. ...
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Coleira
À primeira vista, um cachorro passa trazendo no final de sua corrente uma mulher. Podia ser um fila, um buldogue, um dálmata, mas era um bigle. Igual ao Snup dos desenhos. Só que não dormia em cima de sua casinha, não tinha um passarinho amarelo como amigo e nem andava iguais aos humanos. Vinha com um laço vermelho na orelha esquerda. Ops, então se corrige a primeira impressão. Uma cachorra passa trazendo no final de sua corrente uma mulher.
A mulher que era puxada pela cachorra não trazia lacinho algum em seus cabelos caramelados. Laka era o nome da cachorrinha que trazia a mulher sem nome. Saindo dos pisos, das calçadas, do asfalto, as duas chegavam a um terreno coberto de grama. Um campo de futebol com traves enferrujadas, sem linhas de cal, sem bola e sem jogadores. Ali, no final da tarde, apenas ela e laka. ...
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Conselhos de um boêmio
Não me lembro a data, só sei que era noite. Embriagava-me com uma garrafa de água mineral na mesa de um botequim. Foi então que entrou um sujeito meio fora de época, da época que o mundo nos impõe. Um homem dos anos vinte, magro, de paletó claro e de chapéu de pano. Caminhava e levava consigo olhares indiscretos.
Sem mais cumprimentos senta-se ao meu lado, repousa o chapéu sobre a mesa, acende um cigarro e enquanto espalha a fumaça pelo ar... - "Sei o que lhe acontece, o que tenta entender, o que lhe tira o sono e lhe traz o drama, sei às mulheres impossíveis". O homem tinha algo de sábio, de feiticeiro, de profeta, de sei lá o que. Voltando-se para o copo vazio, - "Sou apenas um boêmio que já viveu o bastante para entender essas criaturas que se confundem com o amor, posso lhe afirmar que entender a vida é mais fácil do que compreendê-las". ...
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