Daniel Campos

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 211 de 320.

05/02/2011 - O mundo rodou

O mundo rodou e Tóquio é apenas uma vila de pescadores e samurais; Paris ainda não teve sua revolução e Nova Iorque não passa de uma colônia inglesa. O mundo rodou e a Alemanha ainda não foi dividida, a Suíça é o relógio do planeta e Roma luta contra os gauleses. O mundo rodou e a Índia ainda não encontrou os índios. O mundo rodou e o Mar Morto ainda pulsa.

O mundo rodou e os poetas de Atenas se casam com as guerreiras de Esparta. O mundo rodou e Espanha é o nome de uma arena onde touros e toureiros se enfrentam com passos de dança. O mundo rodou e as viúvas dos navegantes de Portugal alimentam de sal o Oceano. O mundo rodou e Cuba espera por Che e Fidel. O mundo rodou e o Egito caminha ao som dos faraós. ...
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04/02/2011 - Grita que fica

Se for falar de separação, por favor, não fale agora. Não é hora de lhe perder. Quer porque quer me fazê-la esquecer de um modo que ainda não pude. Mulher,baixe a guarda, esse jeito rude não combina com você. Quem nasce pra fada não tem porque se praguejar tanto assim. Tem pena de si, tem dó de mim. O nosso amor não merece chegar ao fim.

Ao fim dos beijos. Ao fim dos ensejos de nós dois. Ainda há muito pra se fazer depois. Depois de hoje, depois de amanhã, depois do tempo que vem, não lhe convém pegar o primeiro trem. Não lhe convém dar os braços à solidão e sair às ruas sozinha , tão livre e quão minha. Ah! Mulher não me deixe aqui com esses ais, o que vou fazer com os sonhos, costumes e retratos de casais?...
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03/02/2011 - Dito e Nina

Solitários em seu castelo, a princesa Nina foi deixando cair mantos e coroas até se transformar na gata borralheira de uma história que não tem final feliz. O príncipe Dito, da dinastia dos rochedos, cavaleiro altivo, matador de dragões, de mocinho passou a bandido, sendo vilão de si próprio.

Podiam viajar em carruagens pelo mundo afora. Podiam desfrutar de serviços e riquezas. Podiam ser humanos como outros quaisquer se não fizessem tanta questão de viver lustrando e agigantando títulos de nobreza. De nada serviam as jóias de Nina, os vestidos de Nina, as pompas de Nina se Nina vivia a lamber o chão dia e noite até que ele ficasse limpo o bastante para refletir seu rosto. Seu sofrido e castigado rosto. ...
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02/02/2011 - Anúncio de carnaval

Quem é a mulher que entra no carro como se fosse Cinderela. Ao ritmo de Phill Collins, joga suas tranças pela janela. Assim, sonhos e poesias trançados em sua cabeça vão ganhando estrada. Conversa de leis, quebra normas, escreve uma nova constituição enquanto dá trela à bela que reflete no espelho. Será mulher ou a materialização do verso de um poeta esta que agora pede carona e se ajeita na poltrona e ressona. Em poucos minutos se torna dona dos meus enredos e medos.

Quem é a mulher que escorre as pernas pelo assento, que se alimenta de vento como cata-vento? Quem é a mulher que canta uma canção enquanto verseja que sim e que não? Quem é a mulher que cruza o meu caminho no meio da rua e fala de destino no signo da lua? Quem é a mulher que não fala de onde vem nem para onde vai? Ela se torce, se contorce, toma posse dos meus olhares. Ela está ao meu lado, à frente, atrás, enfim, em todos os lugares. ...
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01/02/2011 - Cartas para Julieta

Julieta, como uma dessas santas de altar ou tal qual atriz de novela das oito, recebe cartas e mais cartas diariamente. A mocinha que enfrentou tudo e todos por conta de um grande amor foi transformada ao longo dos séculos em uma espécie de referência feminina para assuntos do coração. Transformou-se em esperança, em milagreira, em oráculo. Cartas de vários tamanhos e línguas são deixadas todos os dias por entre as pedras da parede que sustenta o mais famoso balcão da história. O balcão de Julieta e dos amores impossíveis. ...
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31/01/2011 - O amanhecer do limão galego

Hoje acordei e me assustei: o meu limoeiro estava loiro. O cabelo longo e escuro e verde das folhas deu lugar a um amontoado de luzes. Mas ao contrário de mechas luminosas o que vi foram bolas e mais bolas pondo fim à escuridão. Bolas brilhantes e chamativas como bolas natalinas. Na verdade, bolas amarelas-limão, cheirando a sumo e temperos e caipirinhas e outras coisinhas. Hoje acordei e me assustei: o meu limoeiro amanheceu verdadeiramente galego, como na terrinha de antigamente.

Tão logo o vi, eu me esqueci de relógios e compromissos. Perdi hora. Cheguei atrasado ao serviço. Foi um reboliço. Tudo porque parei e me sentei debaixo do pé de limão galego. Fiquei brincando com pensamentos. Voei no tempo e na imaginação. Quantas lembranças e sensações os frutos pequenos e atrevidos daquele limoeiro me traziam. É como se eu tivesse me reencontrado com um perfume perdido, com um gosto há tempos não sentido e com uma coloração sumida da minha paleta cotidiana. ...
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30/01/2011 - Felinamente assim

A mulher amada se veste felinamente com gatos tatuados no corpo e na alma. Quando menos se espera, coloca as garras pra fora e arranha a criatura que ama provocando arrepios e suspiros. Feito bailarina, equilibra-se sobre superfícies e situações complicadas sem perder a graça. Ao pé do ouvido, ronrona em busca de carícias. Como todo gatuno, usa e desfruta de um universo de malícias.

A mulher amada tem crias e crias de fantasias e outras poesias. É fria, independente, soberana e ao mesmo tempo uma explosão de afeto. Não se importa com teto ou com outras amarras, vivendo o luxo e o lixo com a mesma intensidade. A gata que recebe comida na boca em uma de suas almofadas de cetim é a mesma que se suja em um amor bandido. Afinal, toda gata tem seu dia de rata. ...
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29/01/2011 - Brevidade, o pássaro que não nasceu

De repente, terra e céu se encontram numa queda. À margem da estradinha, entre o lago horizonte e sobrados de concreto, um pássaro. Uma ave pequenina, recém-caída do ninho, sob um sol de suores e tonturas. Solitária, abandonada, perdida. Nenhum sinal da mãe, do pai ou do restante da ninhada. Ali, só havia aquele bocadinho de vida pulsando cinza se equilibrando em uma galha rasteira, com o bico aberto de fome, ou de calor ou de pranto.

Antes da chegada de gatos, crianças e carros distraídos, era preciso resgatá-la. Um drible pra lá, uma corrida pra cá, um mergulho acolá. Pronto. Em pouco tempo a ave já está dentro do carro tomando água mineral. Ao chegar a sua nova casa, ao menos na qual passaria os seus primeiros dias, fica instalada provisoriamente em um ninho de periquito. A comida também é improvisada: alpiste, painço, quirela, angu de fubá, minhoca. Tudo dado diretamente em sua garganta, com muita calma e delicadeza. ...
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28/01/2011 - Venho vindo

Eu venho de longe, de um lugar onde o tempo esconde seus amores, suas dores. Eu venho vindo tocando a estrada como um vaqueiro toca sua boiada. Cavaleiro alado, peão apaixonado. Trago no peito o gosto de um beijo que o vento não levou. Venho vindo resistindo me iludindo perseguindo o brilho de uma estrela que ainda não apagou.

Eu venho distante, de um lugar errante onde amores e amantes não têm final feliz. Venho de uma terra onde a solidão rendeu, cresceu, criou raiz. Venho vindo sozinho, semeando sonhos tintos como vinho. A seca é brava, a lua é cheia, a cova é rasa e a paixão, serpenteia....
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27/01/2011 - Mulher jardim

Pare e olhe à rua, à mulher que passa levando consigo uma saia florida. Passa levando um jardim tatuado no corpo. O mundo enlouquece e louco anuncia uma primavera na qual padece a falta da flor. Muitos querem cheirá-la, apanhá-la, despetalá-la entre o romantismo e o casuísmo contido nos amores à primeira vista e nas paixões de florista.

Olhe lá vem descendo a mulher vestida com pétalas, sépalas, póles e folhas e Eva. Traz em suas pernas, ternas sementes de desejo e doçura. Flor do sexo, botão de beijo, cálice de perfume e cor. Como são macias as pernas da mulher à qual o catavento assovia mesmo sem vento. ...
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