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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 213 de 320.
16/01/2011 -
Dúvidas literárias
Se Machado de Assis pudesse falar se Capitu traiu ou não Bentinho com Escobar? Se fosse para escolher um só, Colombina ficaria com o Arlequim ou com o Pierrô? Se o sol não fosse tão sertanejo será que Baleia viveria até hoje com Fabiano? Se Dona Flor não tivesse Dois Maridos seria ainda lembrada? Se Emília não fosse de pano seria boneca? Se Rapunzel não tivesse trança ganharia liberdade? Se Romeu e Julieta não morressem o romance teria o mesmo apelo? Se ao contrário de cravo e canela Gabriela fosse de pimenta e limão Jorge continuaria sendo Amado? Se Adão e Eva não se amassem nos jardins do paraíso bíblico, existiríamos? ...
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15/01/2011 -
Falações sobre o amor
Éramos dois apaixonados entreolhados. Ambos amantes, convictos do mesmo fluido poético que alimenta o coração. Em longo flerte, entre afinidades e divergências casuais, ouvimos nossas vozes em uníssono: por que é que a saudade nasce antes e morre depois de um grande amor? Concluímos, resignados: que é o amor é utopia, quem falar o contrário pode ser apedrejado. Afinal, ninguém pode dizer que viveu o pleno de um amor sem antes ter seu amor de amar terminado. E amor que termina não é amor.
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14/01/2011 -
Le Jeu de la Séduction
Sua alma é confeccionada em ouro branco, com navetes de rubis e diamantes. Espírito de seiva. Passado de marfim. Alma cortada com a exatidão de um deus ourives a partir da pureza das gemas que contrapõem seu design pouco inocente. Seu corpo físico é desenhado de forma onírica e com um detalhismo que mistura safiras azul, rosa e violeta com pavê de brilhantes. Seu coração é um broche atarracado ao peito e seus cabelos escorrem pelo pescoço como colares sutis que mudam de cor e textura ao sopro de um vento minerador. ...
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13/01/2011 -
Se emenda vá
Bruxa mexeriqueira, leva-e-traz, fofoqueira, sai pra lá. Bruxa dissimulada, sonsa, condenada, não vem cá. Bruxa perguntadeira, falsa, mateira, se emenda vá. Como tem coragem de fazer esse papel? Deveria, ao menos, honrar seus corvos e verrugas. Que decepção. Quanta ilusão. Não tem perdão, não. Ninguém lhe contou que peixe morre pela boca, bruxa louca? Quando vem dessa bruxa toda miséria humana é pouca. Bruxa tirana, insana e carraspana.
Bruxa de araque que quer fazer do meu Éden o seu Iraque. Bruxa agourenta, das histórias a bruxa berebenta. Bruxa amaldiçoada que quer semear o fel na minha estrada. Sai pra lá. Não vem cá. Se emenda vá. Ela devia aprender com velhos ditados como: as máscaras sempre caem e a mentira tem perna curta. Sua língua tem cicuta. Matuta e ladina, faz do meu ouvido a sua latrina. Bruxa canina, caninana, ferina. Bruxa sorrateira, treteira, carniceira. ...
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12/01/2011 -
Grama recém-cortada
O barulho daquelas máquinas cortadoras de grama enerva os miolos. Um barulho rasgado, desafinado e, muitas vezes, engasgado. São notas longas, acordes estridentes. E o pior é que quase nunca surgem desacompanhadas. São duas, quatro, seis máquinas gritando ao mesmo tempo aparando os enormes gramados que se esparramam lá fora. Levando esses braços de corte, homens vestidos com macacões grossos, óculos de proteção, botas e quase nada de dinheiro no bolso. As lâminas vão decepando a grama, sem dó ou piedade, a ponto de tombá-la num jardim sem rosas ou violetas. ...
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11/01/2011 -
Chilihead
Cambuci, tabasco, pimenta-de-cheiro, jalapeño, dedo-de-moça, malagueta, pimenta-de-bode, chora-menino, red savina, biquinho, cumari...
A mulher amada é como pimenta. Quanto mais quente, mais suspiros e gemidos causa. Se fizer chorar então, é perfeita. Se arder, com a licença de Camões, será amor em fogo, aquele que arde sem se ver. Sem pudores ou hipocrisias, a mulher amada deve provocar suadouros e desmaios nos corpos alheios. Deve ser forte e queimar por inteira. Sua pungência deve ultrapassar os limites da escala Scoville. Em contato com a língua, há de causar lágrimas e fortes emoções. A mulher deve incendiar a boca e viciar a criatura amada. ...
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10/01/2011 -
Capítulo 61
Naquela tarde de terça-feira, ao menos de forma temporária, o centro do mundo muda-se para Buenos Aires. Olhares apreensivos. Lentes angulares. Microfones nervosos. Há uma conversão de pensamentos e atenções para a cidade do tango. O nível de tensão extrapola a normalidade. Quando as primeiras ondas do tsunami devastam a costa Argentina, inicia-se o julgamento de Sebastian.
Gritos e correria. Ninguém quer saber se aquele tsunami resulta de fenômenos metrológicos ou erupções vulcânicas. Querem é saber se aquilo tudo tem ou não o dedo de Jhaver. O fator científico é rendido pela comoção espiritual. Tanto que o tribunal está com todas as cadeiras ocupadas. Isso sem falar da multidão que se aglomera do lado de fora. Júri popular. Tudo é grandioso, em matéria de pessoas presentes, testemunhas, repórteres e acusações. ...
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10/01/2011 -
Morrer de amor, demodê?
Antigamente, entre poetas e plebeus, morrer de amor era um gesto nobre, digno de aplausos e suspiros. O amor transcendendo da carne para o espírito numa atitude romântica, sublime e sobre-humana.
Hoje não basta só morrer de amor. É preciso ressuscitar por amor, reencarnar por amor, tornar-se anjo por amor. Juras terrenas são pequenas e o suicídio é breve demais diante da promessa de esperar a criatura amada em outro plano e lá amá-la por toda eternidade. Fazer valer essa história de alma gêmea não é para qualquer um. Exige esforço, dedicação e fé. Fé em vida após a morte e fé em si mesmo. Afinal o que está em jogo é uma existência física....
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09/01/2011 -
Literatus
Se for mentir, Pinóquio. Se for aprontar, Emília. Se for duvidar, Capitu. Se for amar, Iracema. Se for provocar, Gabriela. Se for comer, Lobo Mau. Se for pegar no sono, Bela Adormecida. Se for amar além da conta, Romeu e Julieta. Se for voar, Mari Popies. Se for se apaixonar, Fantasma da Ópera. Se for roubar a cena, Baleia. Se for confundir vitória com batatas, Quincas Borba. Se for iludir, Maya. Se for se devorar, Narciso. Se for investigar, Sherlock Homes. Se for se aventurar, James Bond. Se for se espantar, o corcunda de Notre-Dame. ...
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08/01/2011 -
Belmont
Lembro das vezes que na calada da noite eu descia, vigiado pelos olhos de meu avô, a Rua São Miguel. Ia me espreitando pelas calçadas de pedras portuguesas e atravessava a esquina que dava acesso à Rua Santos Dumont guiando-me pelo som das tacadas das mesas de sinuca do bar do Furigo. Um bar feio, freqüentado por uma gente feia e por uma feiúra de espírito. As luzes amareladas iluminavam as garrafas velhas que ficavam empoleiradas sobre o balcão. Era naquele ambiente que buscava espaço entre um bêbado e outro me equilibrando na ponta dos pés para pedir uma carteira de cigarros. ...
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