30/01/2011 - Felinamente assim
A mulher amada se veste felinamente com gatos tatuados no corpo e na alma. Quando menos se espera, coloca as garras pra fora e arranha a criatura que ama provocando arrepios e suspiros. Feito bailarina, equilibra-se sobre superfícies e situações complicadas sem perder a graça. Ao pé do ouvido, ronrona em busca de carícias. Como todo gatuno, usa e desfruta de um universo de malícias.
A mulher amada tem crias e crias de fantasias e outras poesias. É fria, independente, soberana e ao mesmo tempo uma explosão de afeto. Não se importa com teto ou com outras amarras, vivendo o luxo e o lixo com a mesma intensidade. A gata que recebe comida na boca em uma de suas almofadas de cetim é a mesma que se suja em um amor bandido. Afinal, toda gata tem seu dia de rata.
A mulher amada é um mundo de pelos e apelos. Põe seus sentidos, sempre aguçados, à mercê de seus desejos. Caça e é caçada conforme lhe convém. Descende diretamente das leoas e onças pintadas. É a mais shakespeareana dos felinos. Gata por natureza e apelido. Brinca com novelos e lã como brinca com os fios do destino daqueles que se enrola ao longo de suas sete vidas.
Pudera, a mulher que se veste felinamente com gatos tatuados no corpo e na alma tem a sina de nascer e morrer sete vezes ao longo de sua existência. Este é seu prazer e sua penitência.
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