Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 203 de 320.

22/04/2011 - Sexta do silêncio

Hoje, o dia amanhece, entardece e anoitece em silêncio. Hoje, os pássaros não cantam. Hoje, a chuva cai sem trovões. Hoje, a criança se aquieta. Hoje, o carro fica na garagem. Hoje, a lua não diz nada. Hoje, as brigas ficam para depois. Hoje, o grito morre antes de nascer. Hoje, a oração não vai além de um sussurro. Hoje, a televisão é desligada. Hoje, o rio corre em surdina. Hoje, copos não brindam e talheres não batem nos pratos. Hoje, os sinos não tocam. Hoje, o coral silencia. Hoje, o fogo queima dolorida e silenciosamente. ...
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21/04/2011 - Lava-pés

Os pés da mulher que eu amo são duas criaturas próprias e independentes, que caminham paralelas ou perpendiculares aos destinos que a ela convém. Como são belos os seus pés cheios de curvas e carnes, de desenhos e relevos. Caminham pela vida suja, pela noite turva que nos toma como reféns. Tens os pés de um anjo caído, de um desejo proibido, de um tempo perdido. Os pés da mulher que eu amo me levam em seu encalço implantando em mim marcapassos de uma dança que avança pela minha imaginação.
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20/04/2011 - Invenção de deus

E então deus inventou você. Para conceber essa invenção, inspirou-se em romances que havia lido na adolescência. Com pitadas de pimenta e pedaços de chocolate, inventou uma mulher no meio do inverno. Uma mulher quente pra se ficar abraçado numa noite fria ou num dia daqueles de céu carregado de chuva. Deus inventou você em caráter de urgência, num instante de carência, numa total inocência.

Deus inventou você num ôfuro ou no furor da criação. Não quietou enquanto não a fez perfeita. Enquanto lhe inventava, cantava cantigas de amor. No entanto, mesmo no auge da cantoria, não se esqueceu de colocar algumas meadas de silêncio em sua alma. Eis a razão dessa mulher que de repente se cala mesmo vestida de palavras. Porque Deus lhe deu camadas e mais camadas de tecidos sobrepondo crônicas, poesias, contos... ...
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19/04/2011 - Semana santa

Há um padre benzendo ramos, porque é Semana Santa. Há os tradicionais ovos pintados à mão, porque é Semana Santa. Há penitentes de diversas irmandades caminhando mascarados, porque é Semana Santa. Há um ventro frio, triste e cortante, porque é Semana Santa. Há um cristão ortodoxo que toma banho em cerimônia no Rio Jordão, porque é Semana Santa. Há um devoto que carrega um tronco durante uma procissão, porque é Semana Santa. Há louvores à Santa Cruz, porque é Semana Santa. Há um convite à oração, porque é Semana Santa. Há quem jejue, porque é Semana Santa. Há igrejas que se cobrem de púrpura em sinal de luto, porque é Semana Santa. Há atores profissionais e amadores encenando a Paixão de Cristo, porque é Semana Santa. Há muita dor em tudo e em todos, porque é Semana Santa....
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18/04/2011 - Prosador

Como um caçador da saudade, sento-me diante da máquina e busco a mulher amada, em momentos vividos ou somente imaginados, pelas teclas que se espalham sob minhas mãos. Como não sou de fumar, não tenho o artifício do cigarro. Como minha sala não tem janela, não vejo estrelas ou ondas de pássaros ou de um mar bravio. Sou eu e meus sonhos e minhas lembranças dividindo a mesma cadeira. Alívios e correrias. E é assim que letra a letra, espaço a espaço, ponto a ponto, vou compondo-a numa crônica, num conto, num poema... ...
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17/04/2011 - Carrego

Eu carrego essa mulher comigo. Carrego-a nos meus ombros, no meu peito, nos meus braços, nas minhas lembranças, nos meus projetos e em cada uma das minhas células. Eu a carrego como um escudo, como uma arma, como uma santa. Carrego-a como um medicamento controlado, como um enxerto, como uma máxima. Eu a carrego como uma medalha, como um amuleto, como uma oração. Carrego-a a carrego como uma marca, uma tatuagem, uma aliança. Eu a carrego como uma linha do destino, como uma imagem em movimento, como um pedaço do meu corpo, do meu íntimo, da minha personalidade. ...
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16/04/2011 - Jogando com números

Um amor pra vida inteira. Dois corpos na noite se dão. Três, dois, um - ação. Quatro são os cavaleiros do apocalipse. Cinco são os pecados capitais. Seis Marias, sesmarias. Sete mares. O oito deitado vira infinito. Depois de nove meses, o parto. Dez mandamentos. Trem das onze. Uma dúzia de ovos. Treze signos depois do Serpentário. Luis Quatorze, o rei sol. Quinze, vamos ao baile?

Dia dezesseis de abril de 1989, nascia Chaplin. Dezoito: maioridade e irresponsabilidade. Dez e nove... dezenove. Vinte, eu tenho mais de vinte anos. Vinte e um, bati - alguém quer conferir as cartas? Vinte e dois, os famosos patinhos na lagoa. Rua vinte e três de maio. Vinte e quatro: dia de celebrar Nossa Senhora Auxiliadora. Vinte e cinco, bodas de prata. Vinte e seis estados. Roleta, vermelho vinte e sete. ...
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15/04/2011 - Janelas abertas à chuva

De repente, um anjo distraído tropeça e derrama uma lata de nanquim pretejando as nuvens, que, na tentativa de expelir a tinta que as deixa pesadas (gordas), choram. Guardiões da ordem celestial lançam raios na tentativa de iluminar aquela escuridão e castigar quem provocou aquela confusão. O anjo tenta se esconder a todo custo, arrasta móveis para lá e para cá, bate portas e portões... Trovões. O choro aumenta, a chuva aumenta. O vento é convocado para limpar aquela lambança. O choro caído, sentido, colorido, quando carregado pelo vento ganha direções e nações....
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14/04/2011 - No alto do alto

No alto da torre, a mulher avança pelo horizonte como capitã de um imenso navio, que enfrenta as ondas do mar com a mesma desenvoltura que escorrega pelo rio. Ali, no alto do alto, ela se põe a observar a vida e, até mesmo, a morte. Esparrama seus olhos por aquele oceano de gente e de construções com a segurança de quem está atrás de uma janela de cobertura. Mesmo que de forma abstrata, domina a região e seus movimentos. Chega a fingir para si própria que conhece o que pensa e sente sua tripulação. ...
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13/04/2011 - Amor e revolução

Amor se faz com revolução. Aliás, com incontáveis revoluções internas e externas. Ou melhor, o amor é a própria revolução contínua que nos habita do primeiro ao último dos nossos dias. Amor se faz com paixão e guerra. Amor se faz com poesia e com Chico Buarque, com Caetano Veloso, com Milton Nascimento, com Nara Leão. Amor se faz com flores e fuzis. Amor se faz com tortura – afinal, o que dizer da saudade, do ciúme, dos golpes e atentados que pavimentam a nossa estrada amorosa?

Amor, que é amor, transforma, modifica, altera, revoluciona mundos. Amor se faz com protestos e com muita opinião. Amor se faz com fugas, com estratégias e, sobretudo, com resistência, seja ela armada ou não. Amor se faz com doses de ilegalidade, de aventura e coragem. Amor se faz com nascimentos e mortes, sejam eles de pessoas ou lugares ou tempos ou sentimentos. Amor é uma pátria que se quer livre. Amor é o milagre da sobrevivência coexistindo entre o pecado e a penitência. ...
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