21/04/2011 - Lava-pés
Os pés da mulher que eu amo são duas criaturas próprias e independentes, que caminham paralelas ou perpendiculares aos destinos que a ela convém. Como são belos os seus pés cheios de curvas e carnes, de desenhos e relevos. Caminham pela vida suja, pela noite turva que nos toma como reféns. Tens os pés de um anjo caído, de um desejo proibido, de um tempo perdido. Os pés da mulher que eu amo me levam em seu encalço implantando em mim marcapassos de uma dança que avança pela minha imaginação.
São como duas crianças em movimento, andando pra cá e correndo pra lá. Brincam. Vão e voltam sem maiores razões. Parecem não cansar. Parecem flutuar. Sobem pelas paredes, escorregam pelas ladeiras, tropeçam nas flores e se pintam de tantas cores. São pés que andam pelos gramados, pelas areias do parque, pelas folhas secas, pelo asfalto, pelas pedras portuguesas, pelas águas, pela porcelana que cobre o chão em reflexos de ilusão. Sãos pés em feitio de crianças fagueiras, que se cruzam e se lambuzam de prazer.
Os pés da mulher que eu amo são pequenos diante do contentamento que eles proporcionam. Esqueço de relógios e calendários diante deles. Cultuo-os como se cultuam deuses pagãos, entre ritos de temerosidade e celebração. Pés que produzem pegadas de sal e açúcar, rastros de saudade. Pés de valsa, de pop, de rock. Pés que enxergam, que escutam, que devoram. Pés de texturas, formosos de formosura e que ocasionam tonturas. Pés que não cedem, que não pedem. Apenas avançam...
São pés que não canso de adorar, de beijar e de lavar com as águas do rio que corre em mim.
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