Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 201 de 320.

11/05/2011 - Grilado

Não me fale mais nada, somente ouça meus grilos. Ouça os anjos e demônios que se esfregam em minha garganta como as pernas de um grilo. Não me espanta eu ser o ventríloquo de um ser que desconheço. Falo e não me convenço do que digo. Eu sou a voz que escurece o dia, a voz que rasga a fantasia, a voz que amadurece o figo. Eu sou a voz que vem de longe, que esconde um segredo, que treme de medo. Eu sou a voz dos grilos que cantam em estribilhos. Eu sou a voz do trem que vem faiscando nos trilhos. Eu sou a voz daqueles que se ajoelham no milho. Eu sou a voz que ecoa pelo asilo. Eu sou a voz da noz que come o esquilo. ...
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10/05/2011 - As pílulas de minha avó

Hoje, em especial, se minha avó estivesse aqui, com um riso meio que tímido meio que inseguro nos lábios, traria algumas pílulas na mão. Não me refiro às pílulas de farmácia tradicional ou de manipulação, tampouco pílulas coloridas, sintéticas ou efervescentes, porém, pílulas de papel. Não eram pílulas receitadas por um médico ou, por um farmacêutico ou por um desses programas de televisão. Eram pílulas mágicas, segundo ela. Não tinham bula ou maiores inscrições. Só existia uma indicação: era preciso tomar com fé e confiança. E serviam pra quê? Pra absolutamente tudo, tanto para as dores do corpo quanto para as da alma. ...
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09/05/2011 - Eu vou pra Aruanda

Eu vou lá para Aruanda, para Aruanda lá vou eu. Já tô encaminhado pelo meu babalalô. Mas antes vou tomar um banho com ervas maceradas. Abô. Agô. Licença que eu vou fazer uma entrega para os meus orixás. Amalá. Já comprei velas, comida, fitas, flores e bebida. Depois que eu sair do canzuá, vou pegar a estrada para Aruanda. Lá não tem espírito desencarnado viciado no mal. Mas por precaução, vou levar meu oxê, meu machado sagrado de Xangô.

Em busca do meu odu, destino meu, eu vou lá para Aruanda, para Aruanda lá vou eu. Vou de abadá, tocando um adjá. Vou tocando a sineta invocando os orixás. Vou batendo paô, de palma em palma despertando as energias. Vou fazer um ritual de Bori, oferecer minha cabeça ao orixá. Meu Eledá vai comigo, me guardando de todo e qualquer encosto. Já preparei a fundanga para fazer meu descarrego. A pólvora vai queimando num círculo de fogo, abrindo meu portal para Aruanda. ...
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08/05/2011 - Um dia para poucas

Mãe não é quem gera, pari ou educa, mãe é quem ama. Ama incondicionalmente, independentemente de qualquer fato, tempo ou ação. Mãe é mais do que uma pessoa, é um patamar bastante elevado na escala sentimental. Não é à toa que o amor maternal figura entre as mais puras e intensas manifestações afetivas. Amor de mãe não questiona, não medra, não seca, não julga, não fere, não se transforma em qualquer outra coisa senão em amor. Por isso, o número de mães é bem menor do que se imagina.

Mãe não é quem aborta no período de gestação ou mesmo depois do parto. Mãe não é quem abandona, quem nega, quem magoa, quem confunde amor com possessão. Mãe é uma instituição pública e universal, não condizente com práticas unilaterais ou prejudiciais à preservação da espécie. Mãe não destrói, não corrompe, não deturpa os sonhos e esperanças de um filho. Mãe não semeia trevas no coração daquele que um dia ela deu à luz. Mãe é doação que nunca cessa. ...
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07/05/2011 - A ausência das estrelas cadentes

Por onde caem as estrelas cadentes que ninguém mais vê? Corpos celestes em plena e total queda livre, desafiando a lei da gravidade. Estrelas ausentes que deixam saudades no céu e nos olhos que acompanham sua trajetória oblíqua. Por onde caem as estrelas que roubavam o protagonismo da luta, que embaralhavam os olhares dos casais apaixonados, que recebiam pedidos das mais diversas ordens?

Estrelas que deixavam um traço entre o prateado e o dourado no céu. Estrelas de cortes flamejantes, que deslizavam rasgando a pele negra do universo. Estrelas que pintavam o infinito de amarelo-laranja-violeta. Estrelas que morrem por uma causa, por um capricho, por um prazer. Se considerarmos que essa atitude de cair se assemelha a um suicídio poderia afirmar que as estrelas estão mais felizes, sem motivo para a queda....
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06/05/2011 - Não enche

Dá um tempo. Se ligue. Sai dessa. Desencarna. Desencana. Desenrola. Qual é? Abre o olho. Parei com você. Nem vem que não tem. Acorda. Ta trocando alhos por bugalhos. Dá no pé. Larga mão. Eita lenga-lenga. Só pode estar lelé ou tantã. Ô presente de grego. Nem vem fazer média. Risquei do mapa. Se vire. Pode por a boca no mundo. Não tem negócio. Não tem mais colher de chá. Pernas pra que te quero. Se manca. Ai, que pedra no sapato. Nada de fazer rolo ou cera. Nem te ligo. Fim de papo. Já vai tarde. ...
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05/05/2011 - Descuido

Estou com pressa, vamos nessa, a hora é essa. Vamos correr, vamos fazer, vamos nos ver no próximo segundo. Vou mergulhar fundo, revirar o mundo, me perder até lhe achar. E quando lhe achar, caída na memória de um coração, vou lhe encher de beijos, falar de desejo enquanto lhe assoviarei uma canção. Vou engolir estradas, descer e subir lugares, remar sete, oito, nove mares. Vou pela água, pela lama, pelo sangue. Vou de boca fechada e com a alma gritando seu nome, seu signo, seus sinais...
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04/05/2011 - Galinheiro particular

Ao contrário de Gisele Bündchen, meu avô nunca ganhou os jornais por manter um galinheiro particular. Mesmo assim, a fama de seus ovos e frangos caipiras ganhou a vizinhança. Pudera, as galinhas de meu avô não eram quaisquer galinhas. Eram espécies selecionadas a dedo por ele. Galinhas vermelhas, brancas, pretas, carijós que recebiam tratamentos dignos de princesa: comida de primeira, poleiros cobertos, água de poço, ninhos confortáveis e um terreiro imenso para ciscarem. Também contavam com uma grande ameixeira para se aventurarem entre os galhos e frutos amarelados. ...
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03/05/2011 - Noite pingada

Noite fria. Cama vazia. Lua muda. Estrelas ácidas. Ratos no quintal. Flores secas. Vento cortante. Palpitação. Relógio quebrado. Corpo cansado. Cortinas fechadas. Pirilampos apagados. Santos caídos. Pernilongos aos pés do ouvido. Insônia e pesadelo. Atropelo. Retratos solitários. Sim e não. Horóscopo errado, signo virado. Passado amaldiçoado. Travesseiro sem rosto. Noite sem gosto.

Noite deserta. Nó que aperta. Grilos desafinados. Sonhos amarrados. Balé de baratas. Torneira pingando. Porta que range. Cochicho de almas. Sapatos sem pés. Notícias velhas. Cheiro de azedo. Cegueira e alucinação. Monólogo. Febre de coração. Vontade de falar. Medo de existir. Queixas e deixas. Ausência doída. Penumbra e breu. Anoiteceu nas gerais. Noite de ais, adeus.


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02/05/2011 - A morte de Bin Laden

A morte de Bin Laden não abalou a rotina de bilhões. A morte de Bin Laden não mudou a cor das flores do jardim. A morte de Bin Laden não estancou o choro das crianças com fome. A morte de Bin Laden não trouxe outros mortos de volta. A morte de Bin Laden não mudou o que os apaixonados sentem um pelo outro. A morte de Bin Laden não inventou outro gênero musical. A morte de Bin Laden não modificou as fronteiras dos países. A morte de Bin Laden não calou a saudade dos que sentem falta de algo ou de alguém. ...
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