22/04/2011 - Sexta do silêncio
Hoje, o dia amanhece, entardece e anoitece em silêncio. Hoje, os pássaros não cantam. Hoje, a chuva cai sem trovões. Hoje, a criança se aquieta. Hoje, o carro fica na garagem. Hoje, a lua não diz nada. Hoje, as brigas ficam para depois. Hoje, o grito morre antes de nascer. Hoje, a oração não vai além de um sussurro. Hoje, a televisão é desligada. Hoje, o rio corre em surdina. Hoje, copos não brindam e talheres não batem nos pratos. Hoje, os sinos não tocam. Hoje, o coral silencia. Hoje, o fogo queima dolorida e silenciosamente.
Hoje, o menino não assovia. Hoje, a menina não faz birra. Hoje, os seresteiros ficam em casa. Hoje, os bares seguem fechados. Hoje, não há futebol. Hoje, o sorveteiro não buzina. Hoje, o choro desce quieto. Hoje, das obras às pequenas reformas, tudo para. Hoje, os cachorros não latem. Hoje, as lavadeiras não cantam lavando roupa. Hoje, a procissão passa em silêncio. Hoje, o vento não faz a velha árvore ranger os galhos. Hoje, não há foguetes explodindo no céu. Hoje, não há estouro de champanhes.
Hoje, o galo não acorda ninguém. Hoje, os feirantes não gritam. Hoje, as ruas e praças barulhentas ficam vazias. Hoje, o telefone chama sem quebrar o silêncio que infesta o ar. Hoje, as ondas se quebram sem som nas pedras do cais. Hoje, o trem não apita quando passa pela estação. Hoje, o violão fica num canto. Hoje, o doente sofre sem reclamar da dor. Hoje, por toda tristeza que há, não se diz bom-dia. Hoje, os relógios não badalam nas horas cheias. Hoje, ninguém nasce e todos morrem em silêncio.
Comentários
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