17/04/2011 - Carrego
Eu carrego essa mulher comigo. Carrego-a nos meus ombros, no meu peito, nos meus braços, nas minhas lembranças, nos meus projetos e em cada uma das minhas células. Eu a carrego como um escudo, como uma arma, como uma santa. Carrego-a como um medicamento controlado, como um enxerto, como uma máxima. Eu a carrego como uma medalha, como um amuleto, como uma oração. Carrego-a a carrego como uma marca, uma tatuagem, uma aliança. Eu a carrego como uma linha do destino, como uma imagem em movimento, como um pedaço do meu corpo, do meu íntimo, da minha personalidade.
Eu a carrego como um pecador carrega sua culpa, como um trilho carrega seu caminho, como uma nuvem carrega suas águas. Carrego-a como um cavalheiro carrega sua dama, como um cavaleiro carrega sua bandeira, como um veleiro carrega sua vela. Eu a carrego entre abismos e eufemismos. Eu a carrego tal o atleta carrega o fogo olímpico, qual a bicicleta carrega a criança, tal e qual a orquestra carrega a dança. Carrego-a feito o ar, que carrega o vôo do pássaro; o rio, que carrega as folhas do outono; a morte, que carrega a vida.
Eu a carrego como um pintor carrega suas cores. Carrego-a como algo que quebra, que parte, que some. Eu a carrego tal a cozinheira que carrega no tempero, qual o jardineiro que carrega a primavera, tal e qual a sombra que carrega parte da luz. Eu a carrego como quem carrega um símbolo, um significado, um sentido. Carrego-a como uma carruagem, como um feitiço, como um mago. Eu a carrego assim como o passar dos anos carrega as memórias, como o poeta carrega a realidade, como o silêncio carrega o segredo.
Eu a carrego em toda sua extensão, como única projeção de amor e felicidade. Carrego-a me deixando carregar por seus mundos, profecias, saudades e fantasias. Carrego-a rumo a um tempo fecundo, a um espaço profundo. Eu a carrego em queda livre, por labirintos sem saída e sem fundo. Carrego-a ontem, hoje e amanhã, fazendo-me carregador de poesias.
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