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Encontrados 301 textos. Exibindo página 21 de 31.
Soneto da maçã
Manhã tão tristonha sonha a manhã
Que a cegonha rosa traz em seu bico
E aqui, cá embaixo dos demônios, fico
Dividindo-me entre a maçã e a romã.
Eu que sou senhor da vossa beleza
Triste. Poeta eu que desejei e chamei
E agora aqui nesta rua sou eu quem hei
De ter-vos no fim da lua, na certeza
De que por vós, eu hei de entristecer
Flores, pares, bares, mares e cores
Para verdes ao meu mundo nascer
Quero amamentar-vos pólen e alpiste...
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Soneto da matança
Matem-na. Mas que a morte seja lenta
E dolorosa, arranquem-lhe seus ossos
Que a ferida carnal seja violenta
Aterrem-na no pior dos calabouços.
Que ao sofrer perpétuo, condenem-na
Que ela jogue suas longas negras tranças
Da pedra da masmorra. Prendam-na
Ao príncipe dos sonhos de criança
Torturem-na até que não agüente mais
Conversar mais nada além de alguns ais
Que ela espernei e gema e emudeça
Quando amor que ela não se esqueça...
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Soneto da menina da rua
Ah! Na minha rua tem uma menina
O que sobrou de um solto maranhão
Amarelinha e rosa pequenina
Que me dá sonho vermelho em botão
São muitas casas muitos gatos pardos
Muitos pecados e muitos coqueiros
Muitos passados e outros muitos lados
Muitos sonhos e muitos prisioneiros
A menina brinca de pique esconde
Ela ora chora ora ri ora faz hora
E sonha apaixonada por um conde
Livre, a menina desce e sobe a rua...
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Soneto da mulher
A mulher que vai, a mulher que se esvai
A mulher que está cá e lá aqui acolá
A mulher que trai, a mulher que se atrai
A mulher que é ontem amanhã e já
A mulher que eu quero a mulher que espero
A mulher de sim não a mulher de fim
A mulher que se quer mulher bolero
A mulher do inferno e do querubim
A mulher dá carinho e dá caminho
A mulher da chama e a mulher da cama
A mulher dos mapas, do pergaminho
A mulher do mar é a mulher do luar...
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Soneto da mulher amada
A mulher de amor tem olhos de ilha
Um buquê azul de segredos guardado
E quebra o mar do medo em sua quilha
Exalando o perfume do pecado.
A mulher de amor tem boca versada
Embora não diga um verso sequer
No teu céu a migração da passarada
Que semeia suas sementes de mulher.
Há uma pedra, um abismo e uma parede
No meio do caminho do amor que laça
E enlaça o sonho em fiadas de sua rede
Mulher que transpira instinto intuição...
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Soneto da partida
Pobre daquela alma que, só, morreste
Entoem a ela a elegia ainda da janela
Mas mais mísera aquela que ficaste
Velando o choro vermelho da vela
Uma se espalhava por toda estrada
Perdendo-se no desejo dos mórbidos
Enquanto outra observava desolada
A quebra dos fios dos destinos sórdidos
Ainda arde a chama fraca da esperança
Mas a morte vem assopra e não atrasa
E rasga em unhas negras a bonança
Luto. Piedade da alma que partiste...
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Soneto da plenitude
Somos toda a certeza da incerteza
O grito que não se consegue ouvir
Nossos olhos contêm uma tristeza
Mesmo quando nos pomos a sorrir.
Só vivemos quando nos dão lembranças
Nessas andanças surge a epidemia
Da saudade sul que infesta à esperança
Que existiu em nosso horizonte um dia.
O eterno nos entrega ao desespero
Na espera de um encontro derradeiro
Que se desencontra da própria vida.
Presos nas nuas correntes que tecemos...
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Soneto da primavera
Ó primavera porque veio tão torta
Entregara aos pássaros roxas flores
Mas não foi capaz de trazer de volta
Para meu corpo, o amor dos meus amores
Primavera passou e se foi sozinha
Deixando toda a saudade que há
Nas mãos da solidão que é rainha
Da sementeira do choro que já
Brota em mim. Ó primavera vá embora
De uma vez e leva o sal de quem chora
Para florir outros meridianos
Pode ir, ó primavera dos enganos...
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Soneto da receita de um amor
De repente faz do todo o seu instante
Esqueça todo espaço toda a idade
Esqueça a boca que diz o dia adiante
E expulsa do corpo a última saudade.
Inverta a ordem entre emoção e razão
Quebra sem piedade qualquer doutrina
Tranca o medo no mais fundo porão
E, suicida, joga-se à própria sina
Fira a língua em pólen de primavera
E o sexo nas estrelas da quimera
Enquanto da poesia bebe os venenos
Só e somente quando a alma se por nua...
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Soneto da roseira
Do lado de lá daquela cancela
Tem um canteiro de rosa branca
E até uma penca de lua de novela
E um sonho bem medroso que se tranca.
Dizem por ai que a rosa é milagrosa
Que cura qualquer mal de sentimento
Essa é a história da moça amorosa
Que aprendeu a falar na língua do vento
Reza a lenda que um louco sinhozinho
Tomado pelo lampejo do incesto
Sangrou sua própria filha num só gesto
Beijou-a e a tomou e a enterrou pelo caminho...
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