Daniel Campos

Ou exibir apenas títulos iniciados por:

A  B  C  D  E  F  G  H  I  J  K  L  M  N  O  P  Q  R  S  T  U  V  W  X  Y  Z  todos

Ordernar por: mais novos  

Encontrados 278 textos. Exibindo página 20 de 28.

08/11/2010 - O uivo do coiote negro

O pio da coruja? O riso da hiena? O choro do sapo? Não! Nada é mais agourento do que o uivo do coiote negro. Um uivo doído capaz de doer à carne, os ossos e até mesmo a alma de quem o escuta. Um uivo inesperado e, ao mesmo tempo, esperado pelo temor que habita o nosso inconsciente. Rezam as lendas que a morte caminha com sua foice e horror sobre as ondas sonoras do uivo do coiote negro. Dizem que essa criatura foi mandada do inferno para agourar toda e qualquer criação divina. Portanto, qualquer filho de Deus pode ser vítima desse uivo. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

03/05/2016 - O último amor

O último amor é sempre o primeiro amor, pois ainda é o primeiro em suas prioridades. Primeiro em saudade. Primeiro em antirealidade. Primeiro em calamidade. O último amor impregna como um perfume cuja fixação extrapola qualquer limite ou imaginação. É fruta madura que teima em não cair do pé. É a catarse da fé. É jardim que mesmo no inverno profundo flori, floreia, floresce zombando do mundo. O último amor nos prega peças. Por isso, não me peça para ser meu último amor, pois é doação mais que completa, é vontade de morrer vivendo por completo, é o ligamento entre o chão e o teto, é a série de tentativas de contornar o despedaçamento. A separação que o dista do último amor é contada em um tempo que rompe com o cronológico e o psicológico. É um tempo de manicômio, indo pra frente e pra trás, fugindo de regras e padrões, é o tempo secreto dos corações. O último amor é sempre o primeiro a doer, a dar esperança, a atiçar o choro, a te transformar numa criança no que diz respeito à necessidade de colo e inocência. Nada me faz ceder mais do que o último amor, que consegue de mim tudo o que quer. O último amor, no meu caso, que foge de todos os acasos, é sempre a minha mulher.


Comentários (1)

17/03/2010 - O último capítulo

Dia 9 de fevereiro de 2010. Depois de seis meses, meus pés tocam novamente aquela terra vermelha. Dava para sentir boa parte de minha infância e juventude misturada aquele chão. Quase trinta anos de uma forte convivência com aquele lugar que acostumei a chamar de sítio do vô Libio. Quantas histórias vividas ali? Impossível calcular. Mas todo livro precisa ter um último capítulo. E o meu foi escrito naquela terça-feira gorda.

Liberato de Lima Barbosa, ou vô Líbio como sempre o chamei, estava com um câncer bastante agressivo na cabeça. Difícil reencontrar um homem sempre tão ativo e vistoso naquelas condições. O tumor malignamente já havia comprometido sua coordenação motora. O homem que percorria aqueles dez alqueires desde criança com passadas rápidas e largas caminhava com extrema dificuldade. Mas fizera questão de ir comigo ao sítio Boa Vista por mais uma ou pela última vez. ...
continuar a ler


Comentários (1)

02/05/2008 - O último suspiro liberal

Depois de ter arrasado as economias dos países menos desenvolvidos e aumentado as desigualdades sociais de forma gritante, intelectuais apregoam o fim do neoliberalismo. Começa a se colocar em xeque a noção de que o mercado seria capaz de equacionar sozinho o problema do desenvolvimento das nações.

A questão chave: "o que substituiria o neoliberalismo?", traz-nos diversas perguntas: Estaríamos diante de uma nova fase do desenvolvimento capitalista? Seria possível retomar o desenvolvimentismo econômico com um Estado interventor? Outra possibilidade é a de que seria esse o início de um período de transição que poderia desembocar em algo novo, numa sociedade pós-capitalista, mas de que forma isso aconteceria? Através de uma ação política? Através de movimentos não governamentais? São todas essas questões que devem ser levadas em consideração na busca de alternativas para o modelo pós-neolibral. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

03/12/2014 - O universo do verso

O progresso do universo é o verso. Verso eu, versa você, versamos nós o que não nos deixa a sós. Tem que versar o que nasce, o que brota, o que rompe, o que invade, o que dá no novo dia. Fazer rima com o que está longe de ser obra-prima. Transformar pedra em nuvem, lâmina em pétala, fogo em água e vice-versa. Versa o que a vida lhe entrega e não nega sua missão de versador, versadora do tempo que passa, esgarça, enlaça, caça... Caça seu verso aqui, ali, acolá. Tem verso na bossa do mar. Tem verso no bico da sabiá. Tem verso no miado do angorá. Tem verso pra lá e pra cá, basta achar e cuidar do seu. O universo já deu!


Comentar Seja o primeiro a comentar

09/06/2010 - O velho e os bois

Lá vai o velho bem longe se vai tocando seus bois na estrada que a lua cai. Lua rancheira, tombada como pássaro no cano da cartucheira. Os bois vão passando e a lua iluminando os olhos da criação enquanto o velho vai aboiando pelo velho estradão. Já perdeu as contas de quantas cabeças ponteou por aquelas pontas. Já perdeu as contas de quantas moças deixou suspirando pelas varandas daquelas bandas. Só sabe que coração que extravasa em seu peito é marcado como seu gado, a ferro e brasa.

Lá vai o velho bem longe se vai abrindo porteiras cavalgando na ponteira da comitiva. Comitiva solidão o empurrando pelo sertão. Os bois vão marcando a terra rumo ao pasto lá do pé da serra. E o velho, com fé no dia, se benze com um ramo de guiné depois de rezar uma Ave Maria. Ele toca em frente ciente de que a saudade é uma estrada longa, que se prolonga do amanhecer ao anoitecer. Por isso quando a coruja pia o velho dá um jeito de cair nos braços da viola que chora e assovia dentro do velho peito. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

09/01/2013 - O vento

Não há nada mais livre que o vento. Ninguém aprisiona, acorrenta, detém o vento. O vento venta por onde e quando quiser. Não há nada de metódico no dia a dia do vento. Pelo contrário, o vento é marcado pela imprevisibilidade. E que não coloquem obstáculos no caminho do vento. Árvores, construções, barcos... tudo o que se atreve a ficar frente a frente com o vento é destruído. O vento que ora é calmo ora é devastador. O humor do vento oscila rápida e bruscamente, sem muitas explicações. Isso porque o vento não deve satisfações. O vento é soberano. O vento embaralha cartas de tarô, muda planos, encobre a lua e deixa nu o amor. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

25/09/2011 - O vento galanteador

Quando soprou o vento norte, ela estremeceu num típico fricote. Aquela ventania lhe envolveu, lhe roçou, lhe beijou, lhe possuiu. A sensação de frio lhe fez cobrir o decote do vestido. Ouviu vozes. Esconjurou a morte. Redobrou o sentido. Negou o arrepio. Olhou para o vazio com olhos assustados. Recitou baixinho aquele salmo que fala dos prados. Foi tomada por um imenso mal-estar. Ficou tonta e rodou como no balanço de um fado. Havia se afasto de Deus por inúmeras razões pessoais, porém, a aflição lhe fez pedir perdão de seus pecados. Andava para frente, para traz, para os lados. Ficou sem direção. Ensaiou um choro, mas suas lágrimas foram varridas do rosto pela ação do vento. E logo vieram sorrisos. O vento lhe fazia cócegas e ela ria como criança. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

28/09/2010 - O vento virou

O vento virou. Demorou, mas o vento virou. A chuva vem aí. Salve São José e São Benedito dos quilombos de Zumbi. Daqui um pouco ela chega. Benditas sejam as águas do céu, canta o bem-te-vi. Bendita seja a senhora das águas do céu, que torce o pranto de seu véu sobre nós. Que a partir dele, as sementes possam vingar, que os doentes possam se curar, que as bocas possam se alimentar. Santa ceia, santíssima chuva. Bendito seja aquele que transforma água em uva, que multiplica os pães, que manda chuva....
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

23/12/2014 - O violeiro está pra chegar

O violeiro está para chegar trazendo cantigas capazes de botar a moça que não sai do chão para rodar junto das estrelas de um céu crepom. As modas da viola, como batom, ficarão na boca dessa moça que de tanto chorar por um amor em vão fez de sal uma poça. O violeiro está chegando, podem esperar pelo inacreditável. Aquelas dez cordas de aço hão de fazer milagre na vida da moça que com medo de sofrer leva o coração escondido no fundo falso da sua bolsa. Com a chegada do violeiro se acabarão os medos de beijos roubados, de amores proibidos, de peitos flechados. O violeiro chega para dar jeito no que não tem jeito com seu ponteado encantado. Chega, como sempre, enluarado e disposto a juntar um casal apaixonado que em silêncio vive separado e incomodado com a própria solidão que assusta mais do que bicho-papão no meio da escuridão. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

Primeira   Anterior   18  19  20  21  22   Seguinte   Ultima