25/09/2011 - O vento galanteador
Quando soprou o vento norte, ela estremeceu num típico fricote. Aquela ventania lhe envolveu, lhe roçou, lhe beijou, lhe possuiu. A sensação de frio lhe fez cobrir o decote do vestido. Ouviu vozes. Esconjurou a morte. Redobrou o sentido. Negou o arrepio. Olhou para o vazio com olhos assustados. Recitou baixinho aquele salmo que fala dos prados. Foi tomada por um imenso mal-estar. Ficou tonta e rodou como no balanço de um fado. Havia se afasto de Deus por inúmeras razões pessoais, porém, a aflição lhe fez pedir perdão de seus pecados. Andava para frente, para traz, para os lados. Ficou sem direção. Ensaiou um choro, mas suas lágrimas foram varridas do rosto pela ação do vento. E logo vieram sorrisos. O vento lhe fazia cócegas e ela ria como criança.
O vento não lhe abandonava. Parecia ventar exclusivamente para ela. Seria vento mandado? Vento encanado? Vento virado? Seria brincadeira de alguma divindade ou apenas um fenômeno climático? Seja o que fosse o vento era enfático ao se insinuar para aquela mulher. Seus cabelos esvoaçavam, sua boca se abria, seus olhos rodavam, suas pernas giravam em torno de um eixo imaginário, como bailarina de caixinha de música. Aos poucos, mesmo relutando, se entregava aquele vendaval particular. Enquanto muitos oferecem flores e bombons, um admirador secreto a oferecera vento. Como perfeito cavalheiro, carregou-a no colo, tirando seus pés do chão e dando-lhe a sensação de possuir asas. Ao final, se viu grávida daquele ar em franco movimento.
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