28/09/2010 - O vento virou
O vento virou. Demorou, mas o vento virou. A chuva vem aí. Salve São José e São Benedito dos quilombos de Zumbi. Daqui um pouco ela chega. Benditas sejam as águas do céu, canta o bem-te-vi. Bendita seja a senhora das águas do céu, que torce o pranto de seu véu sobre nós. Que a partir dele, as sementes possam vingar, que os doentes possam se curar, que as bocas possam se alimentar. Santa ceia, santíssima chuva. Bendito seja aquele que transforma água em uva, que multiplica os pães, que manda chuva.
O vento virou. Demorou, mas o vento virou. O cheiro da chuva já vem de lá. De lá das terras perfumadas, dos jardins floridos, das longínquas estradas. De lá dos benditos, das ladainhas, dos santos rosários. O cheiro da chuva já vem aí animando as plantas, dando esperança aos povos, infestando os ares. O semeador prepara suas mãos, o vendedor faz o fardo de sombrinhas e a velha acende uma vela diante da santa pra mor de agradecer o novo tempo que está prestes a nascer.
Êe chuva, êe chuvisqueiro, vem lavar meu coração que eu estendi no terreiro. O coqueiro só da coco depois da chuva. O vento virou. A manga só fica doce depois da chuva. O vento virou. A roça só cresce depois da chuva. O vento virou. Demorou, mas o vento virou. A moça só casa depois da chuva. O vento virou. O pasto só esverdeia depois da chuva. O vento virou. A viúva só para de chorar depois da chuva. O vento virou. Demorou, mas o vento virou.
O vento virou, demorou, mas o vento virou. A chuva vem aí. Salve Deus e Nossa Senhora, canta a juriti pedindo pra que a chuva venha logo agora.
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