08/11/2010 - O uivo do coiote negro
O pio da coruja? O riso da hiena? O choro do sapo? Não! Nada é mais agourento do que o uivo do coiote negro. Um uivo doído capaz de doer à carne, os ossos e até mesmo a alma de quem o escuta. Um uivo inesperado e, ao mesmo tempo, esperado pelo temor que habita o nosso inconsciente. Rezam as lendas que a morte caminha com sua foice e horror sobre as ondas sonoras do uivo do coiote negro. Dizem que essa criatura foi mandada do inferno para agourar toda e qualquer criação divina. Portanto, qualquer filho de Deus pode ser vítima desse uivo.
Não adianta fugir, armar-se, tapar os ouvidos ou fingir não acreditar. É preciso ter o corpo fechado para não cair ao primeiro uivo desse bicho. Um uivo forte e duradouro que vai alcançando notas inalcançáveis pelo homem. Um uivo que lembra as trombetas do apocalipse e a escuridão de um eclipse. Um uivo capaz de enlouquecer, de matar e de fazer matar. Quando o coiote negro mira sua vítima com olhos negros, a pelagem negra arrepia, a boca negra vai se abrindo vagarosamente libertando seu canto negro. Um canto de mau-agouro, capaz de invocar bruxas e demônios.
Os livros proibidos revelam que um coiote negro cantou nas proximidades da cruz pouco antes de Jesus morrer. Um canto cortante, vibrante, fascinante. Toda vez que ouvir um uivo desse tipo pode ter certeza de que a morte está condenando alguém. Se o uivo for ao seu encontro, e por ventura senti-lo penetrando seu íntimo, então se prepare: despeça-se de quem ama e se prepare para deixar o mundo dos vivos. O uivo do coiote negro é como flecha lançada, depois que proferido não há mais como ser engolido.
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