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Encontrados 278 textos. Exibindo página 18 de 28.
25/03/2012 -
O sorriso de Isabella
A menina e o sorriso. Na verdade, não se sabia se a menina era o sorriso ou o sorriso era a menina. O fato é que um estava intimamente associado ao outro. Sorriso doce e inocente, marcante e suave ao mesmo tempo. E o seu sorriso era mágico a ponto de fazer todos ao seu redor sorrirem também. Aliás, a menina tinha o poder de tocar a alma alheia com extrema facilidade e delicadeza. Tanto que quando o sorriso se calou o mundo inteiro chorou.
A morte de Isabella desmanchou incontáveis sorrisos. Homens e mulheres, velhos e crianças, sóis e luas, árvores e pedras, ruas e flores, deuses e humanos,..., todos perderam seus sorrisos com a perda da menina que sorria de um jeito único, num infinito particular. O sorriso de Isabella tinha tempo e espaço próprios. Se a pureza tivesse um desenho, certamente seria o contorno da boca risonha de Isabella. ...
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O teatro das luzes seminuas
Com o atraso costumeiro do último convidado, o escuro tomou uma multidão de olhares sem sequer tentar alguma desculpa. Rapidamente, as luzes brancas, amarelas, vermelhas explodiram em milhões de quase-noites. "Quase" porque ninguém se deparou com os rastros de uma estrela ou, com as caudas picotadas de um cometa ou com o vôo tonto de um vaga-lume. Por detrás das cortinas, o teatro se tornava um deserto escuro, povoado por esperas que, de aflitas, ficavam tontas como os vaga-lumes que não existiam ali....
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04/11/2010 -
O tédio
O tédio corrói sem remédio os ossos do tempo. Tudo seca e, quebra e esfarela aos efeitos nocivos, corrosivos, incisivos do tédio. O tédio é o inimigo número 1 dos aventureiros, dos sonhadores e dos apaixonados. O tédio acaba com vidas pessoais, profissionais e sentimentais. O tédio é a falta de futuro, o fracasso do novo, a ausência de sonhos. O tédio é a continuidade do nada, é a vitória do nulo, é o fim da estrada. O tédio é o fantasma, o monstro, o câncer temporal e, até mesmo, atemporal. O tédio é qualquer coisa que enjoa e, que deixe à toa. O tédio é a pausa contínua que ecoa. O tédio é o fim antecipado. O tédio é o assédio da continuidade, a morte da saudade, o conformismo com toda e qualquer realidade. O tédio é a calamidade sem alarde, que chega na ponta dos pés e quando se percebe já ganhou a cidade. ...
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07/10/2010 -
O telefone
O telefone toca, as palavras vão pulando pela boca afora em feitio de pipoca. Os parágrafos e estrofes que giravam pelas espirais, hoje navegam pelo ar em ondas digitais. Será que essas conversas são reais como barcos ancorados no cais ou tudo não passa de ilusão num mar de imaginação. O telefone toca, provoca, sufoca, invoca deuses e demônios. O telefone é agonia, é busca e procura, é fantasia, é suspense sem cura. É ranhura que arranha por dentro. É cavalo salteador que ninguém segura. É o estopim da loucura. ...
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11/11/2014 -
O tempo blefa, cuidado!
Se fosse possível voltar ao menos uma vez no tempo eu voltaria. Faria tudo diferente para seguir trocando passos com quem dividiu a minha estrada em antes e depois de sua passagem. Cometeria bem menos bobagem. Hoje, esta aí a paga de tudo que semeei. Fui menino pra não compreender o canto do destino. Pedras dali, pedras daqui, o tempo blefou e eu cai. Agora, entre perdedores e vencidos, o coração se rende ao choro bandido.
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13/01/2010 -
O tempo como credor
Tenho andado em dívida com o tempo. Muitas cobranças e pouca coisa oferecida em troca. E pior, maldigo-o a todo instante. Isso sem falar que tenho sempre um pé atrás com ele, além, é claro, de tentar agarrá-lo sempre. Posso dizer que sou uma pedra no sapato do tempo. Vivo importunando-o com minha mania de quer mais e mais do que ele pode me ofertar. Pechincho demais, chego a ser chato com os ponteiros. E fazer o quê? É a vida que está em jogo.
Tento quase que diariamente flexionar o tempo, esticando o dia, empurrando a noite para debaixo do tapete. Chego a atrasar o relógio para ter a sensação de que fui agraciado com alguns minutos a mais. Pura ilusão. O tempo é arrogante e turrão, não se dispõe a conversar, tampouco fazer um acordo de cavalheiros. Para ele, sou apenas mais um. Mais um de seus escravos. Lá fora há uma multidão de pessoas acorrentadas, torturadas, condenadas ao tempo. ...
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20/08/2010 -
O tempo da descriação
Cabeça cheia. Casa cheia. Lua cheia. É meia noite e meia. Hora de soltar os lobisomens, os vampiros, os cavaleiros do apocalipse. Que as assombrações assombrem as sombras que não cansam de nos colocar medo. Ninguém agüenta mais tanta conversa fiada, tanta prosa errada, tanta desculpa esfarrapada. É hora de mudar o enredo. Chega de ensaios, de rodeios, de devaneios. Chega de tanta promessa, de tanta quebra de expectativa, de tanta vida inativa. Vamos pegar o primeiro trem e ir além do que nos convêm. ...
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02/07/2016 -
O tempo da gente
Tudo tem um propósito de ser. E a distância e o tempo vieram para nos fortalecer, amadurecer, ensinar. Hoje, graças a tudo isso, sou uma pessoa melhor do que antes; a pessoa que você sempre quis que eu realmente fosse. As dores de viver longe de você, o sofrimento de tê-la indiferente comigo, toda a frieza colocada sobre mim... agradeço a tudo isso porque hoje me libertei de medos, de traumas, de inseguranças pela força do amor. De um amor que nunca acabou dentro de mim. Sempre pulsei por você. Sempre me preocupei com você. Sempre busquei você em meus pensamentos e preces. E nesse tempo todo eu sempre imaginei, sonhei, desejei a gente junto. ...
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Comentários (2)
18/03/2011 -
O tempo da ingratidão
Ah! Ingratidão toma tudo que tudo é teu. Não adianta mais disfarçar ou remediar ou parafrasear, o que tinha de sofrer já sofreu. O coração, desvalido, da pobre criatura que se entregou ao amor desafinou. Os sonhos, tão sonhados e tão desejados, apodrecem dia após dia numa sucessão de agonia. A alma marcada pelos seus chicotes, ò ingratidão, segue sua via dolorosa chorando sua própria ilusão. Como pode? Não devia...
Ah! Não faz assim, ingratidão, com quem lhe deu da mão aos versos de sua maior canção. Como pode não acreditar em quem lhe acredita, como pode duvidar de quem lhe colocou acima de qualquer dúvida, como pode não compreender um sentimento tão compreensível. Como pode ser ingrata, ò criatura, a ponto de afirmar que tudo não passou de uma grande errata. ...
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28/06/2015 -
O tempo de seu Antônio
O tamanho, a careca e a simpatia não intimidavam ninguém, mas o olhar firme era capaz de colocar qualquer um pra correr. Os olhos de seu Antônio Bueno de Campos chegavam a gargalhar junto com ele em suas piadas, mas quando se impunham metiam mais medo do que suas histórias de assombração. Muitas vezes, sentado numa cadeira de ferro com tecido esticado, quando me perguntava das notas da escola chegava me dar um frio na barriga. Para minha sorte, sempre trilhei pelas notas azuis. Suas perguntas eram incisivas, feitas repetidas vezes, até que ele se convencesse da resposta. E era melhor não levar problema ou preocupação alguma para ele, pois aquilo não saia de sua cabeça e volta e meia rendia prosa. Era o jeito de ele cuidar da família, de tentar proteger aqueles que ele fazia questão de estarem por perto. Queria cada um cuidando de sua vida, mas a uma distância em que ele pudesse acompanhar. Eu, falando em sorte novamente, tive a oportunidade de pegá-lo mais manso pela velhice. Mesmo assim, tinha uma rigidez, um gosto de ver tudo e todos na linha. Não me lembro de tê-lo visto chorando. Suas lágrimas eram secretas e por escorrerem sempre para dentro foram dando aquele caráter de diamante aos seus olhos: encantadores, mágicos, mas duros. Fruto da criação bruta, por muitas vezes ter sido tratado feito bicho e terem roubado muito do seu futuro. Seu Antônio sempre precisou acordar dia após dia para sobreviver, para dar conta daquele dia. Os dias futuros não importam. Por mais que apreciasse uma viola, uma sanfona, uma roda de catira, seus parceiros de dança tinham de ser a enxada, o machado, as guias do arado puxado por boi. As esporas de uma vida sem regalias lhe deixaram marcas profundas que o faziam, a todo custo, querer que tivéssemos um caminho melhor que o dele. Estudou quase nada, mas via na nossa educação a certeza de uma vida que ele não teve. Ainda guardo até hoje a alegria daqueles olhos de me verem formado em Jornalismo. Tinha orgulho do meu caminho, dos meus feitos. Foi ele quem me deu o meu primeiro e único violão. Foi ele quem me dava público seja levando seus passageiros para verem meus quadros expostos nas paredes de casa ou carregando minhas crônicas, publicadas no jornal da cidade, para suas praças. Aqueles olhos fundos viam em mim o que ele não pode ser e, por mais contentes que estivessem, continuava com aquele quê de dureza para que eu não me perdesse. Aquele homem de aparência frágil, sempre vestido com mais blusas do que o necessário para espantar o frio acumulado em tantas noites passadas na lida dentro de um carro ou na boleia de um caminhão e de sandálias de dedo demonstrando claramente que ele precisava de tão pouco, sempre quis o melhor para mim. E, na cabeça dele, esse melhor era justamente um caminho diferente do dele. Nunca teve estia em sua jornada. Capinou. Carregou, descarregou, voltou a carregar caminhões de lenha. Tocou boi. Arou. Rodou pelas estradas e pelas memórias de muitos. Um dos principais passageiros do seu táxi era o ontem. Seu Antônio quase nunca falava de futuro, sempre nos contava sobre o que já tinha passado. É como se ele, tão direito com as regras de trânsito, insistisse em ir pela contramão da vida. Remoía incontáveis vezes histórias que eram suas ou que pegava emprestado. E contava sempre todas elas com muita riqueza de detalhes. Era navegando no mar de suas histórias que ele rompia com sua realidade que não lhe permitia ousar. Comia praticamente o mesmo arroz branco com frango frito todos os dias. Dormia assim que o dia escurecia e acordava de madrugada e ficava ouvindo modas caipiras num radinho até o dia amanhecer. Sentava no banco do jardim e ficava por horas olhando o movimento dos passarinhos que vinham se refestelar num bebedouro. Ia para suas praças, a do ponto de táxi e a de caminhada, perto de sua casa, tentando fazer o dia passar. Por isso, as histórias vividas por ele de forma direta ou não, faziam-no romper com sua rotina e navegar num oceano de sensações, de impressões, de exclamações. Tornou-se um exímio contador de histórias. Para ele, cada detalhe precisava estar no seu devido lugar de forma da muito da bem feita para que a narrativa alcançar o seu resultado. Colocava tudo no seu lugar, seja cada peça do quebra-cabeça do acontecido, seja cada parafuso que ele achava perdido na rua, seja cada engrenagem dos relógios que ele montava e desmontava com precisão cirúrgica. Perdi a conta de quantas vezes o vi as voltas com seus relógios de pulso ou de bolso. Dava corda, limpava, consertava, acertava a hora. Só se esquecia de dar corda em seu tempo interior que, aos olhos daqueles que não sabiam o compreender, estava sempre atrasado, marcando o ontem, o anteontem, o trasanteontem...
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