Daniel Campos

Texto do dia

Se você gosta de textos inéditos, veio ao lugar certo.

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Encontrados 60 textos de abril de 2015. Exibindo página 2 de 6.

25/04/2015 - Não abra mão

Por tudo o que somos,
Fomos e havemos de ser
Não abra mão de ti
De mim, de nós
Por favor, por amor
Não se deixe nem me deixe

Não nos deixe só
Mas a sós
Como sempre deixamos
Sob os lençóis
Da fantasia
Por favor
Não abra mão
Do nosso caminho
Sim, do caminho
Que preparamos
Juntinhos
Há tanto o tempo
Cuida do nosso ninho
Aguente, por favor,
Depois da tempestade...
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25/04/2015 - A comitiva vai partir

A noite se joga do seu alto no meio do pasto. O gado dorme orvalhado. Não há mugido nem refestelo qualquer, só o vento que caminha na ponta dos pés agasalhados por meias de lã. O boiadeiro, depois de um dia suado na lida, dorme acalentado pelos seios de sua sinhá. Sabe que a seca está por vir, que o pasto vai secar, que vai ter que tocar o gado pra longe, numa comitiva de sobrevivência, e que a saudade daquela morena vai doer fundo no peito. Por mais que essas preocupações cresçam em sua cabeça como sementeira depois da chuva, encontra paz naquele colo para sonhar seus sonhos. E a morena, do alto de sua meninice, correrá pra janela toda vez que ouvir um berrante pensando que seu amado está voltando ou entoando pra ela. A filha, que começou a engatinhar, não entende muito bem essas idas e vindas do pai, tampouco o choro da mãe quando ele não está. Vai sentir falta mesmo de ver as vaquinhas no pasto, pois gosta tanto de ficar vendo aqueles bichinhos brancos feito algodão no meio do capim verde. E toda vez que escuta um mugido abre um sorriso. Não é à toa que se sente ligada aqueles bichos, pois em razão de não pegar o peito foi alimentada desde sempre pelo leite das vacas. O pai ainda brincava de coloca-la em cima do lombo das mais mansas. Partir com aquela comitiva não seria fácil. Partiria não só o chão trincado como afetos que não se explicam. Mas enquanto o adeus não chegava, aproveita para suspirar naquela pele fresca como a brisa que entra pela janela, sacudindo as cortinas que revelavam uma lua circulada de vermelho, numa profecia ocular de estiagem.


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24/04/2015 - O bobo da corte e a princesa

Bobo da Corte: São de quê?
Princesa: O quê?
Bobo da Corte: Suas unhas?
Princesa: O que têm elas?
Bobo da Corte: São feitas de quê?
Princesa: Descubra você...
Bobo da Corte: São de riso das donzelas?
Princesa: Será? Será?
Bobo da Corte: São do choro apaixonado de anjos?
Princesa: Pode ser, pode não ser...
Bobo da Corte: Será que são de matelassê ou macramê?
Princesa: Chega mais perto pra ver...
Bobo da Corte: São dos mais finos e caros arranjos...
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24/04/2015 - Coração adormecido

Passaram-se séculos até que o coração finalmente sossegou. Foram centenas de anos ainda em chamas, queimando um amor altamente inflamável. Sabia que seria assim, mas quisera apostar todas as suas fichas nesse romance que tinha tudo para dar errado. E deu, mas enquanto foi vivido foi tão intenso quão incrível. Aceitou entrar de corpo inteiro naquele fogo que consome tudo e todos mais e mais numa doação energética crescente. Como vulcão que cessa depois de séculos de erupções seguidas, o coração agora está adormecido. Finalmente pode encontrar a paz, mas apaixonados ainda preveem novas ebulições. Basta que certa boca ou que certos olhos o acordem. Até lá, eis o descanso dos injustos.


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23/04/2015 - Revirados

Tudo revirado. Tudo bagunçado. Tudo deslocado. Dentro e fora de mim. Cabeça em órbita. Coração em queda livre. Sonhos como cometas se vão distantes. Estrelas piscam como minha memória. As constelações me dizem muito e nada ao mesmo tempo. Sou navegante do espaço. Enquanto dormem contando carneiros ou expectativas, sou a própria insônia. Estou entre o pesadelo e o sonho bom, atravessando fronteiras entre planos terrestres e astrais. Sou a última nau levando o que sobra de poesia nisso tudo.


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23/04/2015 - O dia da volta

Meu doce e infinito amor,
Amanheci pleno de saudade,
Olhei no espelho e vi você
Fazendo das suas caretas
Meus olhos eram teus olhos
Minha boca, a tua boca
Minhas mãos as tuas mãos

Eu não era mais eu
Eu não era mais meu

Perdi a conta de quantos poemas
Eu coloquei no papel
Dizendo que amo, quero, desejo
Ainda bem que amanhã já é dia
Dia de tê-la perto e mais perto
Bendito seja o dia da tua volta...
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22/04/2015 - O galo do dia

Galo cantou alumiando o dia. Gato roncou no telhado português. Poeta cantou sua poesia pro cachorro maltês. O jornaleiro queria falar de amor, mas amor não vende jornal. O carro não pegou de primeira e diante da ladeira quem é que empurrou? O vento o passado não carregou. E o profeta professou tanto que santo de casa não faz milagre quanto que até o melhor dos vinhos pode virar vinagre. A menina pediu fé. O menino pediu mulher. O galo sem saber qualé cantou puxando o dia que não queria sair da toca. A lua provoca de baby-doll transparente, inocente, envolvente... O cego de paixão tropeça procurando suas lentes. Por entre estrelas atrasadas há dança de salão, dança do ventre, dança de corpo presente. Dizem amém e ah nem com a mesma força. O choradeiro de quem perdeu um amor de verão fez uma poça no meio do estradão. Clareia, mas pela cidade já não passa mais boiada, não tem mais café na cama pra namorada, não se toca mais o sino pra chamar pra benção do galo. O galo já desistiu de se maestro do dia e anda atrás de uma galinha que só quer sabe de encher sua moela. Enquanto isso, o dia, sem freio ou esteio, desce na banguela...


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22/04/2015 - Verdade

Nunca quis ser nunca para nós.
Jamais desejei um jamais para mim ou para você.
Sempre peço sempre.
Se é que ainda posso pedir algo depois que pedi nunca mais pedir.
Desejo o desejo que me deseja, como o beijo que me beija.
Nada me faz pensar em nada.
Bato no ritmo do coração que apanho e no qual me abato.
Entro quando saio, escapo quando adentro.
Não tramo, apenas amo.


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21/04/2015 - Atenção, muita atenção

Se mexer a massa ao contrário, o bolo não cresce. Se capinar de trás pra frente, o mato brota. Se estiver com dó, o porco não morre. Se tiver coragem, já foi metade do caminho pra perca do juízo. Se atrasar o relógio, atrasa-se a vida. Se o pássaro cair é porque o mundo está de ponta cabeça. Se o nó for cego, o corte é certo. Se a encruzilhada estiver aberta, peça licença. Se os porta-retratos estiverem vazios, o passado está por um fio. Se o vento virar, pode esperar pelo que não quer ouvir. Se tentar descobrir quem pintou a onça, devorado será. Se o jardim secou, a primavera falhou. Se o suor for doce, a emoção vazou. Se um beijo for roubado não deve ser devolvido, mas creditado e jurado para render e ser cobrado. Se a roda não virar, o mundo virou um quadrado com um amor perdido em cada canto.


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21/04/2015 - Mulher Brasília

Brasília
Jovem e voluptuosa
Com curvas ousadas
E uma generosa
Carga de frescor
Uma esplanada
De amor e desejo
Cidade
Anti-realidade
De uma dualidade
Esotérica
Nua em suas formas
Estratosféricas
Todas expostas
Tais postas
De sedução
A céu aberto
Mulher sem veto
Com ou sem decoro
Num discurso
De mil cursos
Antagônica
Tônica
Faraônica ...
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