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Encontrados 62 textos de março de 2015. Exibindo página 1 de 7.
31/03/2015 -
Quando a gente ama
Quando a gente ama, o mundo inflama. Quando a gente ama, tudo fica em chama. Quando a gente ama, o coração aclama. Quando a gente ama, começa-se e acaba na cama. Quando a gente ama, o romance é uma trama. Quando a gente ama, vamos do céu à lama. Quando a gente ama, a vontade se alastra feito rama. Quando a gente ama, a realidade se acama. Quando a gente ama, a saudade ganha fama. Quando a gente ama, o perdão naturalmente emana. Quando a gente ama, somos cavalheiro e dama. Quando a gente ama, é lúdico nosso panorama. Quando a gente ama, vemos florido um canteiro de grama. Quando a gente ama, os sentimentos raiam em gama. Quando a gente ama, por mais que hajam planos não há cronograma. Quando a gente ama, permite-se o melodrama. Quando a gente ama, esquentamo-nos como pelo de lhama. Quando a gente ama, misturamos nossos pijamas. Quando a gente ama, o cenário se rediagrama. Quando a gente ama, o bem e o mal se tornam um jogo de fliperama. Quando a gente ama, é curto-circuito o resultado do eletroencefalograma. Quando a gente ama, temos asas e escamas. Quando a gente ama, nossos corpos se trocam como telegramas. ...
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31/03/2015 -
Flor de algodão
Soluça
E chora
A paixão
Tem hora
Vai, tussa
O coração
E ignora
O fato
De ter
O peito
Vazio
Tal mato
Sem flor
Tal leito
Sem dor
Tal rio
Sem pescador
Tal defeito
Sem admirador
Soluça
E chora
E puxa
A paixão
E manda
Embora
As olheiras
De panda
E expulsa
De si
O que não é
Do sorrir...
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30/03/2015 -
Acordamento
Ela acorda e de tão surreal se olha no espelho para acreditar que existe, de fato, que não é apenas mais um sonho que se desintegra ao clarear do dia. Ela acorda e dá corda a tudo o que é acordado ao seu encanto. Ela acorda e instantaneamente poda o sofrimento do mundo. Ela acorda e já roda a roda da vida que começa a colorir a paisagem, a dar perfume às coisas, a dar movimento ao que é do coração. Ela acorda inventando moda de amor. Ela acorda enchendo a boca de beijo e soda. Ela acorda e seus olhos vão dando nodoa na alma dos mortais, impregnando-se para não sair nunca mais.
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30/03/2015 -
Cortação
Corta
Bem entre o passado
Que ainda não foi
E o futuro que já vem
Corta a lembrança
Daquela criança que dói
E a lambança
Da saudade que corrói
Corta
Sem dó ou piedade
Qualquer
Nó
Que impeça a vida
De correr,
Acontecer,
De valer
Corta
E não se importa
De cortar
As malhas
Do destino
Para juntar
Suas linhas
Aos versos meus
Num emaranhado ...
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29/03/2015 -
Conexão
Eu me entrego feito prego ao martelo. Eu me tenho e não me detenho. Eu me dou como marmelo à formiga. Eu amo, amo, amo e fujo de briga. Eu venho cada vez mais pra dentro do lenho. Eu passo e beijo e abraço e tudo se liga. Eu não veto eu conecto. Eu provoco colocando paixão de copo em copo. Eu vou de encontro ao ponto. Eu faço escuridão e clareio o não. Eu alinho o destino, sou menino, sou poeta, sou besouro, sou pirata, sou mar, sou tesouro, sou peixe, sou feixe, sou ave, sou bicicleta, sou nave, sou ingá... Eu dou de comer à boca com fome de sentimento. Eu sou palavra ao vento. Eu sou o que não some, o nome dito pela língua mais rouca. Eu me faço e me traço e me laço. Eu me amolo e me dou colo. Eu sou navio dentro da garrafa. Eu sou o cardume que escapa da tarrafa. Eu balanço a pitangueira, acampo de alma inteira e com meus sonhos acendo qualquer fogueira. Eu ensino a ler para que consigam me ver.
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29/03/2015 -
Lambuzamento
Todo bem-te-vi que bem-se-vê lambreca o bico de goiaba
Toda abelha quando dá na telha deita e rola nos favos do seu mel
Todo leitão deita na lama como se deitasse na própria cama
Todo marimbondo, por mais brabo, banha-se no caldo de manga
Toda vaca acorda com a boca verde de capim sorrindo assim
Todo surfista marina como que se temperando de onda em onda
Todo prazer se aventura por entre caldas nem sempre adocicadas
Todo cozinheiro se maquia de farinha de trigo, de rosca, de milho...
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28/03/2015 -
E veio a lua
Eu não vi mais nada, absolutamente nada,
Quando a lua apareceu nua no meio da rua
Para falar comigo sobre minhas luas de mel
Eu, altaneiro das núpcias, dividindo a estrada
Com a lua prateada de São Jorge Guerreiro
Falando do amor e do que é o apaixonar
A lua veio com cheiro de flor e rodeada
De estrelas a lhe bajular e lhe enfeitar
Eu que sempre fitei de longe seu crepom
Via agora tão próxima sua seda batom
Quis seu colo, qui-la na minha cama...
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28/03/2015 -
Partes de mim
Meu pai entrava no meu quarto para ouvir Chico Buarque, Tom Jobim, Caetano Veloso. Minha vó criava tartarugas. Acostumei ver minha mãe com as mãos envoltas de linhas, botões e farinha. Meu avô era dono de histórias que me faziam viajar na imaginação. Minha bisavó foi posta num balão e sumiu pelos céus. Meus melhores e únicos amigos de infância e juventude foram lápis, borracha, papel. Meu primeiro cachorro, que não era meu mais do meu pai, chamava Bizuco. Minha avó me passava dentro de seu terço. Meus personagens sempre deixaram as páginas dos romances para conviver comigo. Meu professor de desenho não me deixava criar, só copiar. Meu avô, com seus olhos de catireiro, só me admitia um caminho: ser um homem bom. Meus pés sempre gostaram de pisar descalços na grama orvalhada, na terra fofa, nos botões de algodão que ficavam guardados na tulha. Minha vizinha tinha um mercadinho onde eu marcava tudo na conta de minha mãe. Meus animais de estimação eram cachorros, gatos, porcos, vacas, galinhas, pássaros... Minha tia queria me embebedar com geleia de pinga e licor de jabuticaba. Meu pai sempre me encantou com o barulho de máquina de escrever que fazia em meus ouvidos. Minha língua sempre foi a língua das árvores. Minha professora de inglês dizia que eu só ia aprender a língua quando deixasse de escrever as histórias em português na minha cabeça. Meu tio foi o maior piloto que já conheci mesmo só o tendo visto voar no chão. Minha mãe arrancava as folhas do meu caderno até que a lição estivesse do seu gosto. Meu irmão arrancava meus dentes e ainda fazia cara de santo. Meu pai me deixava caído com seus dribles desconcertantes no campinho do sítio. Muito da minha história foi escrita com terra vermelha. Minhas namoradas eram princesas de reinos distantes, estrelas que viravam mulheres, sereias de mares profundos que vinham flertar comigo e só eu via. Meus pés sempre foram de jabuticaba, manga, goiaba... Meus tios-avôs eram personagens de um enredo grego-mexicano, regado a dramas apimentados. Minha professora do ginásio me achava um ótimo escritor. Minha cachorra, chamada Kika, comia chocolate e pulava de cama em cama para tomar sol. Meu irmão fazia cidades inteiras com pecinhas de montar. Meu professor de violão gostava mais de comer os bolos e doces de minha mãe do que de me ensinar alguma coisa. Meus padrinhos de batismo nunca foram à missa comigo. Meu bisavô tinha um pé de groselha. Meu mundo sempre foi um mundo paralelo, feito de seres fantásticos, de criaturas encantadas, de lendas e magias.
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27/03/2015 -
Vida-rio
Queria ficar na beira, na beira do rio, mas a vida não é beira-rio. É preciso cair de corpo, alma e espírito nas águas correntes que cortam nossa existência. E não pense que há de ficar em águas calmas, mansas e cristalinas. A vida é turbulenta, dada a muitas correntezas e quedas, tão lindas quão perigosas quanto às cachoeiras. E não pense que vá encontrar peixinhos coloridos em suas remadas, pois há muitas pedras pelas corredeiras. É preciso ir de frente, pois não há outra forma de seguir. O passado é como água passada, por mais que exista não volta. E ainda é preciso viver a fundo o que está nas margens, porém, jamais se apegando às paisagens, pois elas mudam durante o curso do rio. As águas muitas vezes ficam turvas, de modo que não se enxerga nada pela frente, por isso é preciso se entregar sem medo ao que vier. Não se assuste se as águas sempre doces ficarem salgadas de uma hora para outra, pois além de muito choro na beira do rio às vezes o mar dá em ressaca. E atente-se para o perigo, pois a vitória régia é a casa de Iara, que com o seu canto leva os apaixonados para o fundo das águas. E as mulheres que pensem sete vezes antes de cair nos encantos do boto-cor-de-rosa. As luas, por mais que flutuem espelhando tais águas, nunca são as mesmas. A vida, assim como as águas, mudam seguindo em frente.
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27/03/2015 -
Cenas de novela
O peito-amarelo cantou na amoreira
Dona sinhá cantarolou indo pra feira
O café esquentou até o bico do bule
A moça sonhou com vestido de tule
O dia amanheceu e tudo aconteceu
Entre quem se encontrou e se perdeu
As notícias na bicicleta do jornaleiro
O barco da vida deixando o estaleiro
O pescador voltava para casa
Enquanto o destino dava asa
A lavadeira batia roupa na pedra
O filhote ia de queda em queda
A manteiga derretia no pão...
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