Daniel Campos

Texto do dia

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Encontrados 62 textos de outubro de 2015. Exibindo página 1 de 7.

31/10/2015 - Quando durmo, sumo de mim

O sono é tanto que o meu encanto é me fazer dormir em qualquer canto. O corpo cochila. Os olhos pescam. A cabeça dá apagão. E sonho acordado para além da imaginação. Os carneiros nem precisam pular. As moças nem precisam fazer cafuné. As camas nem precisam ser macias. Onde o corpo encostar ele vai se entregar ao sono. E tem gente que tem fé no sonho. Que bicho vai dar? O que isso vai significar? Pra onde o sonho vai nos levar ou nos levou? Não sei, não fui, não vou... A carne tá cansada e alma é alada. O de fora fica o de dentro vai embora. A alma escapole e bole por aí. Meu corpo é o ninho, o espírito é o bem-te-vi, a alma é o que vale o caminho e pra todo lado ninguém está sozinho. Quando durmo eu sumo de mim.


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31/10/2015 - Flamboaiã

Seu sabiá laranjeira
Dormiu a lua inteira
No pé de flamboaiã
Mas foi só o sol raiar
Na beira da manhã
Pra começar barulhar
Fazer tropé, forfé
Não queria maçã
Semente de romã
Não queria mulher
Nem rapapé
Seu sabiá laranjeira
Só queria zoeira
E ele gritou, bicou,
Estardalhou, zoou,
Voou, pousou,
Falou sabiamente
O seu sabiá
Detrás pra frente
No ouvido
De quem dormia...
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30/10/2015 - Sendo assim

Eu sou aquele que acredita no amor despido de qualquer interesse, no amor maior, no amor que cura, transforma, edifica. E assim amo intensa e verdadeiramente. Tenho começo, mas não tenho fim. Sou feito de mato, de água de mina, de caminhos de terra batida. Preciso de chuva para brotar, florar, madurar. Falo sozinho. Ando com a cabeça nas estrelas. Escuto sempre o que o vento tem para dizer; E quando ele não vem eu o chamo com assovios que não sei. Protejo as árvores como se defendesse a minha família. Não sou de voltar por onde já deixei rastros, mas meu orgulho não me impede de nada. Sou da lua. Sou cíclico e continuo. Cavalgo em pensamentos que me levam pra longe. Tenho raízes, mas também tenho folhas que vão pelo mundo independentemente se carregadas por uma ventania ou ligeiramente enroscadas nos cabelos da mulher que passa. Sou crônica, conto, verso, poema, prosa, romance. Sou texto, pretexto e contexto. Tenho um coração-lamparina que clareia, alumia, relampeia e até incendia. No passado, já fui pássaro. No futuro, já fui homem. Hoje sou menino e escondo minhas asas. Sou branco, preto, mulato, caboclo. Tenho índios e pretos velhos dentro e fora de mim, que me guiam por aqui e ali e ainda a acolá. Estou entre o céu e a terra. Sou medianeiro. Sou jaguar. Amor incondicional, humildade e tolerância são minhas bandeiras. Caminho deixando marcas. Caminho tentando consertar o ontem. Guardo em mim várias vidas, mas tenho a consciência de que esta pode ser a última. Aproveito, portanto, de tudo, com tudo, no tudo. Por mais que a estrada seja longa, tortuosa, íngreme eu sei que atalhos não me são mais permitidos. Não tenho vergonha de chorar. Não nego o que sou. Não fujo do que eu quero. Lanço-me ao mundo como um punhado de semente. Sou dado ao profundo, mas é no raso que labuto e aprendo. Eu não me vendo por nada. Não sou santo, mas uma tentativa constante de ser aqui e agora o que não dei conta de ser lá atrás. Tenho em mim uma centelha de deus, mas sou humano. Busco a todo instante perdoar e me perdoar. Só não perdoo uma colher bem farta de doce de abóbora ou de um pé pretinho de jabuticaba. Não tenho medo de fantasma, de assombração, somente do que eu podia ter feito e não fiz. Sou melódico, sentimental, passional, pródigo quando o assunto é paixão. Apaixono-me perdidamente a ponto de eu me perder por completo. Perder o chão. Perder o juízo. Perder a cabeça. Perder o rumo. Perder o eixo. Porém, é no amor que me encontro e me reencontro e torno a me encontrar quantas vezes por preciso. Sou mais de escrever do que de falar. Sou daqueles que vivem o que só existe no faz-de-conta. Sou encantado por natureza. Emociono-me com porteiras, trilhos, mares, constelações, enfim, caminhos que me levam. Eu tenho meu livre-arbítrio, mas não ando só. Sei que sempre está por perto quem me quer bem e também quem me quer mal. Sou o fiel da balança. Tudo depende dos meus atos, da minha conduta, da minha vibração. Não enjeito trabalho. Se puder eu faço. Eu me coloco à mercê da espiritualidade maior. Estou a serviço do amor. Tenho ainda muito a aprender, a fazer, a desenvolver. Sou só um grão de poeira no visível do universo invisível. Em minha mudança diária quero levar cada vez menos malas, sacolas, caixas... Só me importa a bagagem interior. O corpo é só uma casca. Meus erros reconhecidos adubam meu território para que a próxima safra seja (ainda) mais proveitosa. Não há oportunidade a ser perdida. Tudo é pelos outros e pelos outros sou por mim. Cuido da minha fé em deus, em meus mentores, em mim, em meus conhecidos e desconhecidos... Fé no hoje, no amor, no auxílio, na transformação, na cura, no perdão, no que está por vir. Não mais brigo com o tempo, pelo contrário, deixo o tempo me temporizar ao seu modo. Estou com corpo, alma e espírito tentando pagar minhas dívidas, aprender a amar de verdade e ser o que eu não fui em outras experiências. Sou um caminhador. Sou um trabalhador. Sou um sonhador tentando fazer um ou outro sonho vingar. Sou imortal. Tenho começo, mas não tenho fim. E sabendo que tudo passa, tenho que praticar o desapego, por mais que isso me doa. É preciso desapegar, inclusive de mim, pois o que terminou de escrever o texto já deve ser um tanto melhor em relação ao que começou.


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30/10/2015 - Minha pele minha roupa

A minha pele
É a minha roupa mais íntima
Meu traje de gala
Às horas de plena entrega
Nunca estou nu
Pois a minha pele me cobre
E guarda desenhos
E impressões e sensações
A minha pele
Atiça, atrai, reboliça
A ponto de se arrepiar
E tremer e corar e suar
A minha pele
Fala a sua língua
Entende as suas mãos
Responde ao seu corpo
Tem camadas de intenções
Sendo do elemento ar
Pois quando se desmancha...
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29/10/2015 - Amor que é

O amor que vem
O amor que vai
O amor do bem
O amor que cai
O amor convém
O amor não trai

O amor, o que é?
O amor é o que dá
E o que não dá pé
O amor é o que há
Que não há na fé
E o que mais puder


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29/10/2015 - Sementes ao vento

Eu não tenho medo da morte. Não acredito em azar, mas me considero um sujeito de sorte. Eu não nego o que fiz tentando ser feliz. Não sou santo e nem quero ser, ao meu ver basta manter o encanto. E no encanto me agiganto tocando a lua, libertando a alma que flutua cá dentro em mim. Não exijo demais, apenas o direito de não acreditar no fim. No fim do mundo. No fim das coisas. No fim da vida. Eu não sou profundo, mas vou a fundo. Eu sou giz riscando a lousa. Eu sou a lida do sentimento. E sentimentos são pra sempre. Portanto, faça do seu amor sementes ao vento.


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28/10/2015 - Sete em um

Eu tenho sete vidas, mas um só espírito. Eu tenho sete chegadas, mas uma só partida. Eu tenho sete linhas, mas uma só verdade. Eu tenho sete céus, mas uma só lua. Eu tenho sete ondas, mas um só mar. Eu tenho sete quedas, mas um só chão. Eu tenho sete pecados capitais, mas um só perdão interior. Eu tenho sete virtudes divinas, mas uma só humanidade. Eu tenho sete notas, mas uma só melodia. Eu tenho sete cores, mas um só arco-íris. Eu tenho sete chackras, mas um só corpo. Eu tenho sete dias, mas uma só semana. Eu tenho sete anões, mas uma só branca de neve. Eu tenho sete possibilidades, mas só uma escolha. Eu tenho sete raios, mas só uma tempestade. Eu tenho sete paixões, mas só um amor. Eu tenho sete casas, mas só uma morada. Eu tenho sete reinos, mas um só povo. Eu tenho sete curvas, mas só uma estrada. Eu tenho sete flechas, mas só um arco.


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28/10/2015 - Combinação

Ramas de hortelã
Beijos de cortesã
Roupas pelo chão
Palavras na mão
Riso de bonina
Juízo de menina
Adeus malandro
Olhos de meandro
Caligrafia torta
Fé detrás da porta
Passos ao meio
Gritos de reio
Meias verdades
Loucas saudades
Canto da manhã
Sorte de romã
Fim sem começo
Amor sem preço
Peito vazio
Olhar de rio
Leito que vaza
Par de arrepios


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27/10/2015 - Ilumina, ilumina...

Menina
Do corpo de lamparina
Ilumina
De dentro pra fora sua sina
Pequenina
De queimar como parafina
Cangibrina
Ou qualquer estriquinina
Maquina
Com seu coração arlequina
Colombina
Seja o que for sua bonina
Serpentina
Num prazer sem morfina
Palestina
Guerra eterna e repentina
Cafeína
Age pelo corpo em surdina
Concubina
Da natureza mais feminina
Concertina...
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27/10/2015 - Tateando-me

Tateia meus músculos. Tonteia em meus soluços. Tropeça em minhas linhas. Toma as minhas vinhas. Caia no meu colo. Que tenha intenção, enfim, que tenha dolo. Zanza em meus labirintos. Tateia minha alma e eu lhe sinto. Incendia minha calma. Decola de asa delta das minhas costas. Sirva o meu coração em postas. Apedreje. Troveje. Enseje um pouco mais do mais que eu sou, do mais que eu dou. Escolha se ficou ou se vou. Abra as minhas cortinas. Clareje as minhas retinas. Leia os meus sinais. Cheia seja a minha lua lilás. Durma em minhas retrancas. E que as peças do nosso quebra-cabeça sejam tantas. Que haja conversa entre nossos átomos de Marte e de Vênus. Que haja arte no nosso encontro e que o nosso reencontro nunca seja de menos. Apedreje os meus medos. Verdeje os meus arvoredos. Peleje com meus segredos. Pesque minhas intenções. Que tenha dolo. Que tenha colo. Que tenha sim sem senões. Que tudo clareie. Que tudo incendeie. Que tudo volteie. Que tudo tateie em seus pulsos. Que tudo tonteie aos seus impulsos.


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