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Encontrados 59 textos de novembro de 2015. Exibindo página 1 de 6.
30/11/2015 -
Mangas da paz
As mangas caem como que oferecendo sua suculência às bocas famintas. E há mais naquela carne amarelada repleta de fiapos do que podemos enxergar a olho nu. Há paixão, desejo, conexão com a infância. Diante de uma manga madura perdemos a compostura, esquecemos a etiqueta, e rendemo-nos ao instinto de morder aquela pele macia. Os dentes fincando naquela carne quente. A língua passeando por aqueles sabores todos. Uma explosão não só na boca, mas no corpo todo. Eis o efeito de uma manga madura. Se no meio de uma guerra, entre as trincheiras, surgisse uma fileira de mangueiras, tenho certeza de que o combate teria fim ou, ao menos, uma pausa. Ninguém tacaria mangas, pois queremos as mangas para nós. Para o nosso deleite, para o nosso prazer, para o nosso desfrute. E depois de nos aventurarmos por tudo o que nos possibilita uma manga, suculenta e perfumada, a guerra perderia o sentido. Portanto, pelo encanto, plantemos mangueiras para colhermos a paz.
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30/11/2015 -
Loucomove
Tudo se loucomove
Dentro e fora de mim
Eu sou parte
Da arte do movimento
As emoções estão vivas
E pulsam da Terra a Marte
Tudo vibra
No ser-sentimento
Dentro e fora de mim
Tudo se loucomove
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29/11/2015 -
Um bicho com outro
Um cachorro sempre cheira o outro. Um macaco sempre coça o outro. Um gato sempre se esfrega no outro. Uma vaca sempre lambe a outra. Um tatu-bola sempre se enrola como outro. Uma onça sempre pinta a outro. Uma galinha sempre bota outra. Um pavão sempre se abre pro outro. Um bicudo sempre bica o outro. Um canário sempre chama o outro. Uma zebra sempre tem a listra da outra. Um porco espinho sempre espinha o outro. Uma hiena sempre ri da outra. Um grilo sempre grila o outro. Um pato sempre empata o outro. Uma cobra sempre envenena a outra. Um sabiá sempre lálálálá pro outro. Um elefante sempre tromba o outro. Uma formiga sempre intriga a outra. Um burro sempre ensina o outro.
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29/11/2015 -
Domingo, quem liga?
Hoje é domingo, e quem liga?
Domingo, dia de acordar mais tarde
De comer melhor, de viver melhor
De ver o padre, de rezar e amar,
Dia de matar a lombriga
Do doce da vovó, do almoço da mama
Da cama, do abraço, do cineminha
De passar o dia como rei ou rainha
Dia de pipoca na frente da televisão
Dia de pedalada no parque
Mas como é o domingo no Afeganistão?
Na Síria? No Iraque? Quem liga?
Hoje é dia de tirar retrato...
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28/11/2015 -
Amor sem lêlêlê
Eu e você, caminhos paralelos
Eu sem você, noiva sem buquê
Eu e você, fome e marmelo
Eu sem você, a e c sem bê
Eu e você, elo atrás de elo
Eu sem você, colo sem bebê
Eu e você, calda e caramelo
Eu sem você, quê sem porquê
Eu e você, prego e martelo
Eu sem você, dança sem balancê
Eu e você, verde e amarelo
Eu sem você, enxergar sem vê
Eu e você, o belo do belo
Eu sem você, amor sem lêlêlê
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28/11/2015 -
Território mulher
Vou abrir picada pelo seu corpo. Adentrar em seus labirintos. Revirar suas marés. Deitar-me em seu chão. Alagar-me em seus olhos. Ver de perto suas florescências. Lamber os seus perfumes. Beber das suas nascentes. Dormir em suas ramas. Acolher-me em seus favos. Pendurar-me em suas copas. Prender-me em suas raízes. Ir pelos seus vales. Pular dos seus chapadões. Descansar na sua lagoa. Tingir-me nos seus jardins. Dependurar-me nas suas costelas. Afagar-me nas suas folhagens. Tocar o seu céu e devorar as suas sete luas.
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27/11/2015 -
Piuíííííííííííí
Viola, violão
Café com pão
E o trem azul
Indo pro sul
Café com pão
Café com pão
Viola, violão
É tanto trilho
Deus cuida
Cuida deus
Do seu filho
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Solta fumaça
Maria fumaça
Menino caça
Mais carvão
Menina acha
Meu coração
Piuíííííííííííí
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Piuíííííííííííí
Me leva daqui...
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27/11/2015 -
Avôs doutores
Meus dois avôs não tinham nem o primário. Aliás, pouco foram à escola. Trocaram os livros pela enxada. Os dois sabiam ler com dificuldade e assinavam o nome. No entanto, eram dois homens que tinham um conhecimento sem explicação. Liberato tinha olhos topógrafos que colocava qualquer cerca, por mais comprida que fosse, no enquadramento exato. Meu avô media terrenos a passadas, esquadrava linhas exatas, milimetricamente falando, numa engenharia que me deixava boquiaberto. Era preciso no que fazia. Uma mistura de entendimentos milenares e futuristas que fugiam a minha compreensão. Antônio era exímio relojoeiro sem nunca ter tido uma relojoaria nem aprendido a profissão por meio de curso algum. Eu me admirava de vê-lo desmontando e consertando aqueles relógios de bolso num impressionante minimalismo. Um inventor, que se fascinava por ferramentas e parafusos. Ambos conheciam a fundo uma matemática que eu, com anos e anos de estudo, não consegui dominar. Também eram mestres em literatura e história, pois contavam causos ricos em detalhes, indo do classicismo ao romantismo, do barroco ao contemporâneo, com extrema facilidade. Causos que me ensinaram muito, tanto em matéria de composição literária e histórica quanto no que diz respeito ao estilo. Ambos colocavam amor em suas prosas e poesias. Aliás, botavam paixão em tudo o que faziam. Conhecedores da geografia das coisas, da biologia do universo, da química da vida... Sabiam prever o tempo observando a lua, o vento, os bichos... Sabiam da arquitetura que envolvia uma dança de catira e da afinação de uma viola... Engenheiros, sabiam com quantos paus se faz uma canoa e com quantas fiadas de tijolo se ergue uma parede... Falavam muitas línguas, a dos pássaros, do fogo, do tempo, das águas, dos bois de carro... Entendiam de folhas, raízes, frutos, enfim, da natureza como poucos porque simplesmente eram parte integrante dela. Por essas e outras que eu acredito em outros planos astrais, pois o conhecimento desses dois não se limitava a uma existência. Tenho certeza de que Liberato continua fazendo suas plantações geométricas e Antônio segue envolvido com as engrenagens do tempo. ...
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26/11/2015 -
Chegou a cavalaria
Vem ver, vem ver, vem ver a cavalaria. Chega fazendo temporal. Levantando poeira, tirando faísca, espalhando cantos, curando com irradiação os caminhos do coração. Cavaleiros que limpam o dia, que acendem o sol interior, que dão alento. Ai, vem chegando os cavaleiros do tempo. Ai, vem com lanças coloridas movimentando a roda da vida. Cavaleiros de santo, de espírito, de encanto. Cavaleiros que quebram quebranto. Cavaleiros que passam enxugando nosso pranto, apaziguando nossa dor, fazendo cantador. Cavaleiros que desfazem feitiço. Cavaleiros que dão jeito no enguiço. Cavaleiros que não temem o reboliço. Cavaleiros guerreiros. Cavaleiros de amores inteiros. Cavaleiros da energia. Cavaleiros da virgem maria. Cavaleiros da lua. Cavaleiros da valentia. Cavaleiros que clareiam a rua mais escura que há dentro de nós. Cavaleiros que desatam os nós. Cavaleiros verdes, vermelhos, azuis, lilases, negros, brancos, rosas... Cavaleiros da luz. Cavaleiros que irradiam, emanam, planam entre a terra e o astral. Cavaleiros que vêm longe trazendo a bandeira de jesus. Cavaleiros de missão especial.
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26/11/2015 -
Quem fala é o tempo
Quem fala aqui é o tempo
Eu mesmo o senhor das horas
O cara que dá e tira
E que revira
Os minutos num pé de vento
Sou eu o canto do cuco
O cruzar dos ponteiros
O badalar do meio dia
O suspiro da meia noite
Sou eu o que pulsa
O que vibra, o que equilibra
O ser e o não ser
Quem fala aqui é o tempo
Eu o regente das estações
O que está em todo lugar
Mais antigo que deus
O que não morre nunca...
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