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Encontrados 30 textos de setembro de 2009. Exibindo página 3 de 3.
10/09/2009 -
A noiva ipê
Aquele ipê branco perdido no meio do cerrado é a representação de uma noiva tão livre quão presa em um ponto qualquer dessa estrada de meu Deus. Estrada que, a princípio, não se move, não leva ou traz ninguém. Literalmente, aquele corpo geométrico, sujeito ao tempo e ao espaço, vestido com flores brancas é um convite à imaginação. Pelas suas galhas, despidas de folhas, as núpcias de uma primavera em pleno inverno. Será real ou fruto de alguma fantasia temporã?
Embora não existam cruzes ou escadarias no plano de fundo de seu corpo, aquela árvore remete imediatamente ao clima de igreja. É como aquela noiva esperasse pacientemente seu pretendente chegar de algum ponto da estrada. Calma e quieta em sua beleza plástica, ela só dá sinais de vida quando o vento, como um menino curioso, chega de mansinho e suspende sua saia. Por frações de segundo, as flores ganham um tom entre o rosa e o vermelho, num pudor rubro. ...
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09/09/2009 -
Só mais uma assombração
Eu tenho certeza, seu Líbio, de que o senhor preferia estar enfrentando lobisomens e sacis como antigamente, mas não se escolhe adversário nas batalhas da vida. E, por alguma conta ainda a acertar, quis o destino que seu próximo desafio fosse contra um câncer. Não precisa se assustar, afinal o senhor é homem forte. Eu sei que essa força é mais física do que emocional, mas há de se dar um jeito. Depois de passar pela dengue e por inúmeras assombrações chegou o momento de enfrentar mais um inimigo invisível a lho nu. ...
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08/09/2009 -
Ela chegou
Ela chegou como quem já não chega. Ela chegou com uma rosa, cravada de espinhos, entre os dentes. Ela chegou sem dizer a que veio. Ela chegou como um eclipse oculto. Ela chegou em meio ao badalar dos sinos das três horas. Ela chegou em carne viva. Ela chegou pulsando. Ela chegou com um trecho de Garcia Marques à flor da língua. Ela chegou como uma marca d`água. Ela chegou intensa e sem pressa. Ela chegou com o quarto cheio de promessas. Ela chegou calando-me em seu corpo. Ela chegou falando em rapto, em exílio, em cativeiro. Ela chegou com pés de vento. ...
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07/09/2009 -
Independência ou morte
Se tivesse um cavalo branco, faria coisas muito mais importantes do que gritar independência ou morte no dia de hoje. Se eu tivesse um cavalo branco a minha disposição, fugiria com a mulher amada pelos campos. Também não gritaria, mas sim sussurraria palavras de amor aos seus ouvidos. E eu não me preocuparia em romper laços com Portugal, ao contrário, ofereceria meu corpo ao seu na contradança de um fado e, depois de tanto amar, comeria pasteizinhos de Belém em sua boca.
Se fosse Dom Pedro, perderia o horário no dia 7 de setembro embaixo dos lençóis com Maria Leopoldina da Áustria. E também ocuparia minha boca em sua boca, ao ponto de não poder gritar coisa alguma às margens de um riacho. Se eu fosse Dom Pedro seria príncipe, mas deixaria a coroa em seus cabelos. Eu também não me curvaria às ordens de meu pai, dom João, ou de revolucionários como José Bonifácio. Também não queria milhões de alqueires de terra para mim, satisfar-me-ia com as quartas de seu coração. ...
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06/09/2009 -
Lembra-se das flores de antigamente
Lembra-se daquelas flores que enfeitavam o jardim de branco e lilás, simbolizando o bom-dia e o boa-noite, pois bem, desapareceram. Lembra-se daquelas flores vermelhas que se alastravam em moitas verdes com sementes guardadas em cápsulas verdes que estouravam em nossas mãos, pois bem, partiram. Lembra-se daqueles copos de leite que tomavam de conta dos brejos e baixadas, pois bem, ninguém nunca mais os viu. Lembra-se das pequeninas e pontuais onze horas que abriam suas pétalas quando o relógio batia onze vezes, pois bem, sumiram. Lembra-se das flores do campo, pois bem, foram devoradas pela cidade. ...
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Comentários (1)
05/09/2009 -
Livro de feitiços
Senti-me como aquelas bruxas de filmes antigos. Aquelas que mais encantavam do que amedrontavam. Quantas bruxarias ao longo daquelas páginas tão altas quão largas. Um livro imponente e pesado, que trazia em sua capa dura uma aplicação de tinta a óleo. Uma espécie que não se encontra em qualquer prateleira. Veio de longe. Receitas capazes de deixar um exército estático, com a boca cheia d`água. Aqueles ingredientes tinham o poder de fazer e refazer casamentos. Por mais que estivesse guardado por muito tempo, tinha um perfume vivo. Coisas de dona Adélia. ...
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04/09/2009 -
No final dos tempos
Vai ter saci dançando no meio do redemoinho. Vai ter preto velho soltando fumaça pela boca do cachimbo de barro. Vai ter orixá querendo conversar com o santo de lá. Vai ter menina com medo de assombração. Vai ter gente chamando Zeus de Marte e de Tupã. Vai ter defunto escapando dos túmulos. Vai ter zumbi comprando coca-cola na lanchonete da esquina. Vai ter mula sem cabeça galopando na contramão. Vai ter missa sem padre e padre sem missa. E o medo vai rolar solto no final dos tempos.
Vai ter fogueira e pecadores. Vai ter cachorro sendo idolatrado. Vai ter anjo sendo vaiado. Vai ter uma legião de desconfiados querendo escapar pela porta dos fundos. Vai ter gente querendo aprender a rezar de última hora. Vai ter muita, mas muita espera por um milagre. Vai ter fila no confessionário. Vai ter um desfile de trombetas na Marquês de Sapucaí. Vai ter uma procura exagerada por crucifixos e outros artigos religiosos. Vai ter beata tomando banho de água benta e ateu acreditando em Deus. Vai ter coisa do arco da velha no final dos tempos. ...
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03/09/2009 -
Se´s
Hoje eu não sei se chovo ou se faço sol. Hoje eu não sei se pulo de pára-quedas ou se pulo da ponte. Hoje eu não sei se ilumino ou escureço. Hoje eu não sei se mergulho no mar ou no ralo do banheiro. Hoje eu não sei se sou dominado ou se domino. Hoje eu não sei se semeio ou se colho. Hoje eu não se paro ou se continuo. Hoje eu não sei se vou ou se venho. Hoje eu não sei se bendigo ou se maldigo. Hoje eu não sei se minto ou se me omito. Hoje eu não sei se tento ou se desisto. Hoje eu não sei se minha lágrima é de sal ou de açúcar. Hoje eu não sei se danço um bolero ou blues. ...
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02/09/2009 -
Prece nº 37
Eu ainda acredito em ti. Não sei por que nossos caminhos se desencaminharam, mas eu ainda quero caminhar contigo. Se ainda quiser minha mão, digo que ela está lançada ao ar, esperando você me levar ou me dizer por onde eu tenho que passar. Que o perdão nos absolva ao ponto de nos fazer esquecer os passos errados. Não quero mais saber o motivo, tampouco o pensamento que nos trouxe até aqui: quero apenas continuar adiante, cante o meu caminho que eu ainda sou seu caminhante.
Minhas orações são elevadas para ti. Não sei o que aconteceu, acontece, acontecerá, mas comungo em tuas mãos. Ó dá-me em minha boca o corpo do seu filho, ensinando-me como o amor pode ir além da cruz. Aceita minhas confissões, minhas palavras, meus jejuns como prova e trova de amor e fé, ò minha mãe renova as águas passadas e saiba que ainda me curvo aos seus pés. Magnificat, Ave Maria, Gratia Plena, Santa Maria... É quem reina, é quem auxilia, é quem exemplifica o sentimento maternal. ...
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01/09/2009 -
Petrônio
Quem diria que as bonecas, um dia, ficariam de lado. Para quem duvidou, as bonecas já perderam até mesmo a cama. Mãe e pai também ficaram esquecidos em sua agenda. Mesmo a avó, que tem lugar cativo no coração da pequena, ficou mais sozinha. E tudo isso por conta de Petrônio. Quem? Um amigo? Um namorado? Um ídolo? Um cachorro! Isso mesmo, desde que ganhou um cãozinho não pensa ou fala em outra coisa. Escola, sapateado, francês... tudo ficou em segundo plano depois de Petrônio.
As amiguinhas a esperam em vão no parquinho. Ela não vai aparecer. E se resolver sair de casa, com certeza, levará o cachorro no carrinho das bonecas. Quem diria que uma bolinha de pelos iria causar mudança tamanha na rotina da menina. Ele que já teve um elefante, um boi, um bode, um pato e dezenas de coelhos se encantou pelo mundo canino. "Olha o dente dele". "Olha a barriga dele". "Olha a orelha dele". Tudo é novo. Tudo é descoberta para aquela vida aprendiz....
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