04/09/2009 - No final dos tempos
Vai ter saci dançando no meio do redemoinho. Vai ter preto velho soltando fumaça pela boca do cachimbo de barro. Vai ter orixá querendo conversar com o santo de lá. Vai ter menina com medo de assombração. Vai ter gente chamando Zeus de Marte e de Tupã. Vai ter defunto escapando dos túmulos. Vai ter zumbi comprando coca-cola na lanchonete da esquina. Vai ter mula sem cabeça galopando na contramão. Vai ter missa sem padre e padre sem missa. E o medo vai rolar solto no final dos tempos.
Vai ter fogueira e pecadores. Vai ter cachorro sendo idolatrado. Vai ter anjo sendo vaiado. Vai ter uma legião de desconfiados querendo escapar pela porta dos fundos. Vai ter gente querendo aprender a rezar de última hora. Vai ter muita, mas muita espera por um milagre. Vai ter fila no confessionário. Vai ter um desfile de trombetas na Marquês de Sapucaí. Vai ter uma procura exagerada por crucifixos e outros artigos religiosos. Vai ter beata tomando banho de água benta e ateu acreditando em Deus. Vai ter coisa do arco da velha no final dos tempos.
Vai ter quem se valha de arruda e de outros encantos. Vai ter malandro oferecendo dose pro santo pra tentar escapar. Vai ter chicote estalando por todos os lados. Vai ter um último beijo de namorados. Vai ter invasão nas igrejas, conventos e monastérios. Vai ter uma dúzia de demônios se refrescando em cada piscina. Vai ter muito curioso lendo o capítulo final do Apocalipse. Vai ter gente prometendo o que não tem. Vai ter uma horda de bestas devorando tudo e todos. Vai ter muita gente sendo deixada para trás no final dos tempos.
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