Daniel Campos

Texto do dia

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10/09/2009 - A noiva ipê

Aquele ipê branco perdido no meio do cerrado é a representação de uma noiva tão livre quão presa em um ponto qualquer dessa estrada de meu Deus. Estrada que, a princípio, não se move, não leva ou traz ninguém. Literalmente, aquele corpo geométrico, sujeito ao tempo e ao espaço, vestido com flores brancas é um convite à imaginação. Pelas suas galhas, despidas de folhas, as núpcias de uma primavera em pleno inverno. Será real ou fruto de alguma fantasia temporã?

Embora não existam cruzes ou escadarias no plano de fundo de seu corpo, aquela árvore remete imediatamente ao clima de igreja. É como aquela noiva esperasse pacientemente seu pretendente chegar de algum ponto da estrada. Calma e quieta em sua beleza plástica, ela só dá sinais de vida quando o vento, como um menino curioso, chega de mansinho e suspende sua saia. Por frações de segundo, as flores ganham um tom entre o rosa e o vermelho, num pudor rubro.

Eu olho dos lados e procuro pelo tal noivo. Mas só há dois pés de manga conversando entre si, uma roda de pequizeiros e um frondoso flamboyant, ou seja, nada que faça o tipo da tal noiva. Pelo visto ela irá continuar por muitos dias naquela espera, chorando com a chuva e secando junto ao sol. Talvez esse seja o preço de se vestir de noiva e acreditar num conto de fadas. Só depois de algumas semanas, cansada de ilusão, seus véus e grinaldas irão vir ao chão.

E quando não restar mais nenhuma flor branca cobrindo seu corpo ela será apenas mais uma mulher vestida de verde, ocre ou vermelho tão livre quão presa em um ponto qualquer dessa estrada de meu Deus.


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