Daniel Campos

Texto do dia

Se você gosta de textos inéditos, veio ao lugar certo.

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Encontrados 30 textos de agosto de 2009. Exibindo página 1 de 3.

31/08/2009 - :..:| ..:| |..-.. .::":.., :.:;

Eu quero amar cegamente e, como prova deste ato, inicio este texto com "eu te amo" em braile. O amor dos cegos é sublime. Um amor feito de toque e imaginação. O amor que avista para além do físico. Para nós, dependentes dos olhos, amar cegamente é uma situação desesperadora, quase impossível de se concretizar. No entanto, pode ter certeza de que aqueles que conseguem se desvencilhar das pupilas desfrutam de um mundo-amor completamente arrebatador.

Amar cegamente implica em escutar nitidamente o que a criatura amada quer dizer. Além, é claro, da possibilidade de ouvir, de forma perfeita, os batimentos cardíacos e a melodia da respiração. Há toda uma graciosidade em se vestir e se despir pelas mãos do seu par amoroso. Sob a escuridão dos olhos, as mãos vão, cuidadosamente, navegando por um oceano de temperaturas e texturas. Amar cegamente é confiar em absoluto sua vida, seus dias, seus passos a outra pessoa. E isso é a essência do amor....
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30/08/2009 - Recrie-se

Salve o domingo porque hoje é o dia em que, com raríssimas exceções, o despertador não grita. Há algo pior do que um relógio, um rádio-relógio, um celular ou alguma outra máquina lhe acordar com um barulho estridente ao pé do ouvido? Como ter um bom-dia após ter suas células invadidas por essa barulheira toda. E se não bastasse um, há dias em que há vários despertadores berrando ao mesmo instante ou em frações pequeninas de tempo.

Definitivamente, saudade da época em que os galos não eram mecânicos ou digitais. Tempos em que se acordava com o sol, com o cantar dos pássaros, com o cheiro do café, com o beijo adormecido da mulher amada. Além desses dispositivos eletrônicos há um enxame de carros alvoroçando a rua. Isso sem falar das conversas que caminham inconvenientes pelas ruas ou pelas casas vizinhas. De segunda a sábado, acordar é um castigo. ...
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29/08/2009 - Sábado afônico

Hoje é sábado e eu não quero dizer nada senão o silêncio. Portanto, que hoje digam os pássaros pelo mundo afora. Da minha boca não sairá palavra nova alguma. E aquelas que mesmo depois de lançadas ainda ecoam em minha língua, farei o favor de engolir. Nada de fraseados, gritos, sussurros, gemidos, brados, cânticos, declarações, declamações, recitações... Hoje eu quero ficar mudo, completamente nu de som. Que apenas corra em mim o ruído da minha corrente sanguínea, o barulho das contrações pulmonares e as batidas do meu coração. ...
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28/08/2009 - A cidade, a praça, a igreja, o sino, a escadaria...

Eu queria morar em uma cidade que tivesse uma praça no centro. E que nessa praça houvesse uma igreja. E que nessa igreja badalasse um sino. E que esse sino entoasse uma música diferente do que este tic-tac dos relógios que me acompanham. Ou melhor, eu queria que os sinos falassem. Aliás, eu queria que os sinos se dobrassem toda vez que um eu te amo fosse dito, redito, bendito. Ah! E que essa igreja tivesse uma longa escadaria para fins de fazer e pagar promessa, além de servir de repouso para os enamorados de fim de tarde. Ah! Como é bom namorar vendo o sol cair por detrás das árvores, detrás do mundo....
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27/08/2009 - Cadê Belchior?

Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes desapareceu. E junto com ele o compositor, o cantor e o pintor que lhe habitavam. Mas quem se importa? Ele é apenas "um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior". Já se vão dois anos em que ele não aparece oficialmente. Será que partiu? Será que fugiu? Será que sorriu ao menos mais uma vez por detrás daquele bigode? Diante de tantas perguntas, peguei o celular e procurei seu nome na agenda. O telefone chamou, chamou, chamou e, ao contrário de um alô, olá, oi, me deixe em paz, te ligo depois, ouvi:...
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26/08/2009 - Se for para falar de amor

Se for para falar de amor, eu falo e me calo nesse ato de amar. Se for para falar de amor, eu falo diretamente a sua boca. Se for para falar de amor, eu retiro todas as travas da minha língua. Se for para falar de amor, eu mando entrar as flores. Se for para falar de amor, eu conto histórias. Se for para falar de amor, eu subo no mais alto degrau da imaginação e imagino. Se for para falar de amor, eu fico nu de carne e espírito. Se for para falar de amor, eu prefiro não falar da realidade que me olha atrás do portão. Se for para falar de amor, eu provoco. Se for para falar de amor, eu troco palavras pelo tato....
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25/08/2009 - Deus é que manda

É preciso se calar. É preciso abaixar a cabeça. É preciso não desobedecer a ordem vigente. É preciso contrariar todos os livros de auto-ajuda do mercado e entregar sua vida à vontade dos céus. Cruze os braços. Mate seus sonhos. Desista de lutar. Seja apenas mais uma folha a ser carregada pelo vento, pelas águas do rio, pelas formigas... Não tenha pressa. Não tenha expectativa. Não tente mudar o destino. O paraíso é daqueles que não discordam, que não questionam, que não propõem um caminho alternativo. ...
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24/08/2009 - Trovas de trovões

Os trovões que colocam cachorros para debaixo das camas, que goram ovos ainda nos ninhos, que puxam orações desesperadas, que assustam crianças... deram lugar aos trovões de ninar. É como se eu dormisse nas folhas de um pé de feijão ao som do ronco do estômago do gigante. O que poderia ser uma noite assustadora se tornou uma noite redentora. O ar pesado da seca escorreu pelos ralos, pelos bueiros, pelas bocas de lobo. E os lobos se internaram nas cavernas já que as nuvens negras cobriram a lua.
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23/08/2009 - O tempo e suas cordas de aço

Depois de mais de dez anos, minhas mãos escritoras tornaram a sangrar o aço das cordas de um violão. Ao primeiro toque, ainda sob efeito do cheiro do pinho, sou palco de um enxame de emoções que, por muito tempo, adormeceram entre o mel e o fel de uma colméia. E o choro do reencontro ao contrário de cair dos olhos, caiu no sistema circulatório, percorrendo cada sílaba do meu corpo. Reencontrei-me com o menino que sonhava ser violinista e com o meu avô Antônio, talvez o primeiro e único fã deste sonho. ...
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22/08/2009 - Casa arrumada

Vou arrumar a casa, deixá-la bonita pra quando você chegar. Vou trazer begônias e gérberas coloridas para quebrar a brancura das paredes. Vou colocar aquele tapete de crochê que tanto gosta no corredor. Vou deixar a porta entreaberta, dependendo de um sopro apenas para abrir. Vou trocar as velas dos castiçais e tirar as roupas dos varais. Vou preparar uma massa ao sugo e deixar um vinho tinto ao tempo. Vou estender lençóis de milhares de fios em nossa cama no intuito de espantar o frio e provocar arrepios. ...
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