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Encontrados 2480 textos. Exibindo página 219 de 248.
Soneto franco
Arrebentei as cordas do meu violão
E rasguei o seu rosto em fotografia
Joguei meu amor no fogo da ilusão
E jurei a deus que não mais choraria
Nada me sobrou além das suas tristezas
De alguns goles daquela noite ingrata
Fui vítima da mais vil das belezas
De um tempo que hoje só me maltrata
Aproveite, dilacere meu peito
Com teus punhais para que eu enfim me esqueça
Sem cometer um último deleito
Mate! Cumpra sua sina e o meu desejo...
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Soneto galáctico
Depois da nascente do rio que chora
Tem uma galha de jabuticaba
Vestida na seda do açúcar negro
Que dá na gente feito catapora
Depois da dona jabuticabeira
Tem os paus da cancela e um matagal
Tem saúva, joão-de-barro e uma clareira
Em torno da luz da flor espacial
Uma flor com pétalas de plutão
Pólen de mercúrio haste de pano
E espinhos pontiagudos de urano
Quantos corações há no coração
Da mulher que pede anel a saturno...
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Soneto inexistente
Viver!? O melhor agora é morrer
O grande mistério do mundo é a morte
A vida está entre o amor e o padecer
Na morte somos todos iguais. Sorte
Ou azar, quem é que há de se esquecer
De um jogo que a qualquer momento
Nós podemos perder ou nos perder
A morte é forte e nós só somos vento
Há suspense e terror nesse cinema
Onde a nossa estrada está em cartaz
Até quem sabe um dia breve talvez
Ela vem madura, verde ou de vez...
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Soneto matemático
A cada lua, vinte novos poemas
A cada eclipse, cem novos gemidos
A cada rota em rotação, problemas
A cada estrela, heróis e vencidos.
Há quem tente teorizar a teoria
Constante, reta e oblíqua do que é o amar
Mas nos teoremas da nossa poesia
Avançam as parábolas do luar
E a circunferência da solidão
Corta a nossa equação num raio infinito
E há um triângulo de amor e paixão
Formado entre a espada a menina e a cruz....
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Soneto miado
Era uma vez a gata que miava
No telhado cru da rua do riacho
Dando arrepios nos brios de quem passava
Pelos agudos de seu contrabaixo
A gata miava de fome e desejo
Fome de gato desejo de rato
A procura de comida e de beijo
Miava à lua do cio sozinha no mato
Miava cantando miava sussurrando
Miava se entregando miava gozando
Miava amante, miava, miava amada
Ai, miava gemendo miava nascendo
Ai, miava sofrendo miava querendo...
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Comentários (1)
Soneto na roseira
De repente, a chuva cai de cair
Na rosa em botão do velho canteiro
E ela perde a virgindade ao se abrir
Nota por nota nas mãos de um violeiro
Um bruxo triste do encanto caboclo
Que trança o aço da corda no compasso
Da rosa da chuva e guarda no oco
Da viola, todo o seu verde espinhaço.
A chuva escorre no riacho da estrada
Peixe vira rosa água roseiral
Menina que ali bebe vira tal
E qual rosa cabrocha enfeitiçada,...
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Soneto neonatal
Quem há de ser o filho dessa dona
Que caminha com desejo de manga
Com leite nos peitinhos de pitanga
Com uma tontura que leva à lona
Grávida de quem e por que será
Será que é mãe de um prometido mundo?
Será que deus ali se fez fecundo?
Há de nascer uma nova Iemanjá?
Qual fase da lua guarda em sua barriga
Será de quase amor de muita briga
A criatura que vem à luz da vida
Essa dona anda pro sul ou pro norte...
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Soneto no tablado
Nós, atores sem tempo nem espaço
Não temos pele, temos fantasia
E um mesmo roteiro dia vira dia
Perseguindo-nos passo ato por passo.
Cortinas como um decote atrevido
Se rasgam aos olhos dos coronéis
Corações brigam por grandes papéis
Mas nosso teatro é pecado e proibido.
Coadjuvantes e amantes sem pudor
Roubam à cena falando de amor
Enquanto se encena contos de fada
No teatro trágico dos sonhadores...
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Soneto pagão
Ò pagãos, o passo lento vai dar
No alto firmamento do amor maduro
Que é fruta de morder e de chupar
Com dentes e línguas. Eu, poeta, furo
Esse amor com nove flechas proibidas
Faço valer a sina dos guerreiros
Das lendas de princesas mais antigas
Que fazem dos amores prisioneiros
Amar até o irremediável descer
Em medo, gritos e suor pelas mãos
Do esfomeado tempo que vai comer
Cada pedaço desse sentimento...
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Soneto passional
Debaixo de sua quietude quieta
Olhos amanhecem um outro dia
O sol, comum e simples, inebria
Uma solidão vermelha e poeta.
Debaixo do medo e do desespero
Um de repente que se faz calado
Lambendo a amada como um tarado
Que em silêncio goza de seu tempero.
Debaixo de cansados pensamentos
Ela se deita em leveza tamanha
E dança nos braços dos cata-ventos.
Debaixo do desejo de acordá-la
Ele a beija e chora e grita e se estranha...
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