Daniel Campos

Prosas

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09/04/2015 - O que brotará?

Dói pensar no que não mais há de ser vivido por nós. A bifurcação dos caminhos, optando-nos escolher entre a ilusão e os espinhos. Cubra-se com lençóis para não ver a tempestade perene ou se entregue à fervura deixando-se encher pelos molhos da vida como se fosse um penne. A paixão não tem cura nem explicação. Jura agora, ora pois, e depois chora por nós dois. É melhor ir embora enquanto é tempo ou ficar para ser devorado pelo sentimento? Eis a questão, a problemática que divide opinião. Se a vida fosse matemática uma mais um dava dois. Mas não há exatidão quando o regente é o coração, mocinho e vilão da nossa história. Depois do abismo será que vem a glória ou ficaremos imersos, submersos, controversos num espaço sem memória? Haverá para sempre uma semente proeminente de esperança ou a deusa da espera também cansa? Até onde vamos chegar ou chegarão com nós sendo assim tão iguais quão diferentes como uma prateleira de retrós? Por mais que doa é preciso desbrotar para crescer. As mulas do destino arrastam arados preparando a terra que mais cedo ou mais tarde nos engolirá. Resta saber o que resistirá e, o que sucumbirá e o que brotará disso tudo que fomos nós.


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08/04/2015 - Semelhanças idênticas

A dor de um romance não correspondido é o grito de uma bailarina que perde seus pés. A relação entre a saudade e a pessoa amada é como a do Cristo que só continua vivo graças a sua cruz. A cegueira da paixão é como a do pássaro que para escapar da morte precisa voar na escuridão. O amor caído é como anjo sem asa, que nunca aprendeu a andar só a voar. Acreditar no amor é como acreditar em deus, é preciso se entregar sem restrições, incondicionalmente, para crer. O fim de uma história é sabido antes do seu começo e todas as partes aceitam esquecê-lo para vivê-la a fundo, sem interferir no que será porque tem de ser.


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07/04/2015 - Naquele tempo

Sou do tempo em que a gente tinha tempo de ter tempo. Tempo de amar, de sonhar, de esperar. Um tempo em que o rio custava a dar no mar. Em que uma casa demorava uma vida para ser erguida. Em que Natal era distante e a dimensão do dia, gigante. Sou do tempo em que o tempo não corria, bailava. E como todo bailado há voltas e volteios, passos que vão e ao mesmo instante não num jogo de ilusão. Sou do tempo em que o tempo levava tempo a nos vencer. Naquele tempo era possível se ater à mudança da lua, à chegada do chuvaredo, à mudança de cor da paisagem. Os filhos demoravam a nascer e a crescer. Uma esperança tardava a morrer, sendo muitas vezes a última a fechar os olhos. Sou do tempo em que a gente se misturava ao tempo, bem diferente de hoje em que parecemos água e óleo. Sou do tempo da inocência, da simplicidade, da paixão acontecendo a cada segundo como se o amor não tivesse teto nem fundo. ...
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06/04/2015 - Licença poética

Eu quero ir além, de direito e de fato, sem mas nem porém. Cantar sem se importar se desafino, rompendo os padrões de certo e errado, de sim e não. Dançar movido pelas músicas da minha cabeça. Voar alto como os pássaros de marte. Quebrar o asfalto em busca da terra. Desfolhar como árvore parindo folhas novas de uma história aberta. Abrir porteiras, cancelas, portões, janelas e tudo o que pode impedir a passagem do vento que traz a mensagem do tempo. Sumir em meio a um amor sem quaisquer preocupações que não seja amar e amar e amar e ser amado. Ser pedra, pau, bicho, planta, água, nuvem, chama, chuva de uma só vez. Mais do que escrever, viver a poesia, com licença poética plena e irrestrita.


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05/04/2015 - Desarranjo

Tem dia em que tudo aparentemente está no lugar de sempre, mas a sensação é de completo desarranjo, como se os demônios estivessem no corpo dos anjos. Uma estranheza nasce em cada canto, mesmo onde a beleza parecer reinar absoluta. O desencanto do desespero de ver tudo ali e ao mesmo tempo não ver nada do que queria ver. Você coloca um bolero de Ravel e o rádio toca tango de Gardel. Você fala, fala, fala, e até grita, mas nem você se escuta. Uma coisa maluca vai embaralhando seu rumo, deixando tudo e todos fora do prumo, quando na verdade é você que perdeu o equilíbrio caindo da corda do destino, rompendo a fronteira entre o real e o surreal, tendo um pé em cada mundo, enxergando o chão, mas tendo a certeza de que nada ao seu redor tem fundo. Você está rodeado e tão só porque tudo o que o rodeia já virou pó. O passado dá um nó e o futuro é o futuro e só, ainda não chegou e talvez nem chegará até você. Por quê? Porque o futuro é o futuro e só. Nada além de uma projeção, de um sonho, de uma ilusão como tudo o que o rodeia é fantasia, pois já aconteceu um dia e não mais acontecerá. Será que a teia existe ou é projetada pela aranha para que ela possa flutuar sem causar assombro? Será que tudo o que juntou lhe conforta, ou na verdade não mais importa, é só escombro? Não dê de ombros pra saudade, pois você nada mais é do que saudade. A realidade, na verdade, é antirealidade, você luta a todo instante para existir, como muito ao seu lado já não existe mais e você finge que está tudo certo, tudo em paz. Você luta de forma alucinante para não sumir, como já sumiram tantos, mas se convence de que isso não lhe causa espanto e se põe a seguir de encanto em encanto, com o coração vendado e de mãos dadas com o futuro-do-passado.


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04/04/2015 - À varanda dos meus olhos

À varanda dos meus olhos vem sol, vem vento, vem poeira, vem chuva, vem menina moça, vem rosa vermelha, vem manhã limpa, vem tarde turva, vem clarão, vem cometa, vem perfume, vem procissão de estrela, vem luz de toda parte, vem sombra também, vem arte, vem um leque de sabores da infância, vem uma sequência de notas de ré, de fá, de mi-bemol, vem pardal, vem vira-lata, vem lua, vem canção, vem dama de tafetá, vem sementeira, vem fogueira de Pedro, de Antônio e João, vem embarcação, vem aceno, vem onda de mar distante, vem fiapo de manga, vem nódoa de jabuticaba, vem paina, vem drible, vem água-de-coco, vem horizonte, vem morro, vem nuvem, vem beijo endereçado ou não, vem cabelo, vem silhueta, vem folha de árvore, de anúncio , de poesia e de manjericão, vem lembrança, vem expectativa, vem a oitiva do tempo, vem átomo e universo, vem com vergonha e sem pudor, vem vestida e pelada, vem saudade, vem tempero, vem vela, vem jardim, vem outono, vem rio, vem encantaria, vem seresta, vem moda, vem papel, vem sapato e pé descalço, vem cetim, vem clarim, vem flautim, vem preguiça, vem malícia, vem molejo, vem sal e açúcar, vem um agrupamento de óleos e outros olhos, vem valsa, vem bolero, vem quero-quero, vem onça-pintada, vem garra, vem bico, vem asa, vem flor, vem chama, vem balão, vem asa-delta, vem saia, vem anel, vem faísca, vem chá, vem ladeira, vem pintinhas, vem manha, vem malemolência, vem compota, vem capim, vem fotografia, vem mensagem, vem trovoada, vem causo, vem nevoeiro, vem cantiga, vem pipoca, vem maçã-do-amor, vem algodão-doce, vem andorinha, vem mago, vem nave-espacial, vem princesa, vem sereia, vem rainha, vem cavaleiro, vem coração alado, vem formiga, vem alecrim, vem flor de sabiá, vem o verso do mundo pra mor de eu espiar.


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03/04/2015 - Viajando no silêncio

Transmuta do grito ao silêncio. Diminua o volume da televisão, a altura da voz e os repiques do seu coração. Pisa mais leve, de preferência descalço para não haver barulho de solado ou salto e tomando o solo feito de via-crúcis e pranto passado como sagrado. Repara como até os pássaros diminuem hoje a cantoria e a rua de agora não é como ontem se via. Repousa as cordas do violão, observa como os trens chegam quietos na estação, ouça a voz da solidão. O andor da quietude passa e pede respeito. Nada de palavrão, de berreiro, de exaltação... Hoje o amor que perdura por milênios passa em procissão. Porém, nada de se fazer sofrimento, de ser morada de tristeza, de remoer a morte... O silêncio, além de ser uma emanação de respeito, leva-nos para além do tempo a um aprendizado: o que é amar? Solidarizar-se com aquele que foi crucificado há dois mil anos não é passar o dia chorando, mas amando.


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02/04/2015 - Sofrimento transcendental

Semana Santa não tem como não ter aquela levada de tristeza. O que o vento da Sagrada Paixão toca vira dor. O tempo ganha um silêncio natural. O céu fica encoberto, mesmo em dias ensolarados. A cor da vida sai de cena um pouco, deixando tudo mais desbotado. A cidade se aquieta. O peito fica cheio de nós. A beleza nasce doída da angústia. Até os animais mudam de comportamento, ficando cabisbaixos. Mais de dois mil anos depois as feridas ainda sangram, os pontos arrebentam e uma sensação de culpa cobre a nós todos. A dor é latente quarta, quinta, sexta-feira... E vem uma ausência, uma falta de não se sabe o quê, uma saudade indefinida. Há soldados romanos marchando por todos os lados, fora e dentro de nós. Há traições e negações de onde menos se espera. Todas as estradas da Semana Santa parecem levar ao Calvário. As nuvens chegam a chorar uma chuva fina. É como se os senhores das trevas andassem sem medo algum pelo mundo de meu Deus. Uma semana que demora a passar. Vamos queimando como velas. Provações à parte, cabe a nós, filhos do tempo, manipularmos todo esse sofrimento transcendental transformando-o num amor incondicional. ...
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01/04/2015 - Garapa

Depois da tradicional macarronada com aquele bife esfregado no fundo da frigideira, com direito a refrigerante de maçã e pudim de padaria feito em casa, dona Ofélia nos levava para o quintal de sua casa que mais parecia um bosque, com direito a um pouco de tudo, de pitangueiras a pessegueiros, de macieiras a pés de erva-doce, de coqueiros a salsinhas, de gengibres a jabuticabeiras, de mimos de todas as cores a hortênsias, de violetas a orquídeas, de cebolinhas a tomatinhos, de arrudas a poejos, de folhagens a ramas, achávamos feixes da mais doce cana-de-açúcar. Seu Antônio ficava só olhando, meio que fazendo sala com a família, enquanto sua mulher há mais de cinquenta anos passava a mão no facão amolado na pedra e desbastava aquela cana arroxeada. Em tempo, tiramos de um quartinho cheio de tralhas, que pertenciam à coleção de achados e perdidos de seu Antônio, um pequeno engenho pintado de verde claro. E daí começava a brincadeira para moer aquela cana extraindo a mais pura garapa, cujo cheiro atraia abelhas e beija-flores. Os copos eram distribuídos para quem se aconchegava num banco de Kombi ou num improvisado feito de saca de cimento endurecido, ou ainda em cadeiras de madeira do tempo da bisavó. A festa valia a bagunça, de modo que todos, naquela simplicidade, ficavam satisfeitos com o pouco que na verdade era muito.


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31/03/2015 - Quando a gente ama

Quando a gente ama, o mundo inflama. Quando a gente ama, tudo fica em chama. Quando a gente ama, o coração aclama. Quando a gente ama, começa-se e acaba na cama. Quando a gente ama, o romance é uma trama. Quando a gente ama, vamos do céu à lama. Quando a gente ama, a vontade se alastra feito rama. Quando a gente ama, a realidade se acama. Quando a gente ama, a saudade ganha fama. Quando a gente ama, o perdão naturalmente emana. Quando a gente ama, somos cavalheiro e dama. Quando a gente ama, é lúdico nosso panorama. Quando a gente ama, vemos florido um canteiro de grama. Quando a gente ama, os sentimentos raiam em gama. Quando a gente ama, por mais que hajam planos não há cronograma. Quando a gente ama, permite-se o melodrama. Quando a gente ama, esquentamo-nos como pelo de lhama. Quando a gente ama, misturamos nossos pijamas. Quando a gente ama, o cenário se rediagrama. Quando a gente ama, o bem e o mal se tornam um jogo de fliperama. Quando a gente ama, é curto-circuito o resultado do eletroencefalograma. Quando a gente ama, temos asas e escamas. Quando a gente ama, nossos corpos se trocam como telegramas. ...
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