07/04/2015 - Naquele tempo
Sou do tempo em que a gente tinha tempo de ter tempo. Tempo de amar, de sonhar, de esperar. Um tempo em que o rio custava a dar no mar. Em que uma casa demorava uma vida para ser erguida. Em que Natal era distante e a dimensão do dia, gigante. Sou do tempo em que o tempo não corria, bailava. E como todo bailado há voltas e volteios, passos que vão e ao mesmo instante não num jogo de ilusão. Sou do tempo em que o tempo levava tempo a nos vencer. Naquele tempo era possível se ater à mudança da lua, à chegada do chuvaredo, à mudança de cor da paisagem. Os filhos demoravam a nascer e a crescer. Uma esperança tardava a morrer, sendo muitas vezes a última a fechar os olhos. Sou do tempo em que a gente se misturava ao tempo, bem diferente de hoje em que parecemos água e óleo. Sou do tempo da inocência, da simplicidade, da paixão acontecendo a cada segundo como se o amor não tivesse teto nem fundo.
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