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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 61 de 320.
20/03/2015 -
Perdeu a graça
No céu não voa mais maranhão... No chão não se roda mais pião... Não se sabe mais pular amarelinha... Ninguém conhece a cor da joaninha... Quem ainda quer uma casa na árvore? Quem ainda sabe o que é uma árvore? Ninguém sobe mais em árvore... Corda já não bate mais na rua... Meia velha já não vira bola... Nem pó de giz tem mais na escola... Ninguém mais tem medo do bicho papão... Virou uma coisa só ser polícia e ladrão... Menina não quer mais cirandar... Menina não quer mais passar anel pra não casar... Criança já nasce crescida, decidida a não ser criança... Criança não quer mais ser astronauta, super-herói, pirata... Leite hoje em dia nem tem mais nata... Quem é que quer dormir com histórias de ninar? Quem é que ainda balança com cantigas de além-mar? Quem é que quer no tempo voltar? Pelos canteiros não tem mais pique-esconde... Não se vê mais nenhum visconde... Derrubaram os pés de fruta-do-conde... Ninguém mais precisa falar pelas bonecas... Hoje em dia é outra coisa ser sapeca... No céu não voa mais maranhão... No chão não se roda mais pião...
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19/03/2015 -
O zóio da menina
O zóio da menina encheu, o zóio da menina vazou e o cabelo da menina cresceu, cresceu que ventou pras bandas de onde coração não anda. O zóio colorido da menina entornou e saiu bêbado pelas pedrinhas da calçada tropeçando em rainhas descoroadas e luas descoradas, todas espreguiçadas, cansadas de reinar. O zóio da menina formou onda, deu peixe, sereia e pescador, e agora por ele ronda marisco em feixe, vapor de cachoeira e farol que clareia. O zóio da menina de cinturinha de pilão balançou, chamou pelo vento de lá pelo vento de cá, e orvalhou ao tempo que dançou de uma só vez com o tempo que passou e com aquele que ainda não chegou. O zóio da menina esverdeou, azulou, avermelhou e até enviuvou em vida como se não escutasse nada do que o timoneiro do amor lhe falou por meio das mensagens engolidas por garrafas que um dia lançou a esse par de zóio tão, mas tão marinheiro que se aninha entre o amanhã e o anteontem na linha do horizonte dando conta de chorar o mar inteiro.
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18/03/2015 -
Você mentia
Você mentia quando dizia que uma vida seria pouca para viver ao meu lado. Você mentia quando dizia que seria para sempre minha. Você mentia quando dizia sobre nossa casa no campo, com cachorros, patos, porcos e horta. Você mentia quando me prometia uma princesa tal qual você. Você mentia quando me pedia para nunca lhe deixar. Você mentia quando bramia que eu seria seu último homem. Você mentia quando ria feliz da vida com nossos momentos tão bobos quão inesquecíveis para mim. Você mentia quando ouvia eu lhe falar dos meus sonhos que sempre incluíam você. Você mentia quando sentia que nós éramos para sempre. Você mentia quando se comovia com o brilho dos meus olhos fitando você. Você mentia quando me fazia o seu melhor presente. Você mentia quando frigia por mim um desejo que parecia inesgotável. Você mentia quando fugia do nosso adeus. Você mentia quando fingia se preocupar comigo, pois quando eu mais precisava dos seus abraços carregou para longe de mim os seus braços. Você mentia quando dormia só para sonhar comigo. Você mentia quando previa tanto futuro para nós dois. Você mentia quando podia ter falado a verdade desde o início ou ter mentido pelo resto das nossas vidas para continuarmos vivendo uma só vida.
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17/03/2015 -
Deixa-me
Deixa-me oficialmente porque coloquialmente já tinha se esvaído dos meus braços. Deixa-me fechando, trancando, lacrando as portas porque a dor das dores se chama esperança. Deixa-me à deriva num oceano de incertezas à mercê dos piratas cegos de amor. Deixa-me sem precisar apelar para as falsas acusações, pois saiba que não precisa de desculpa para seguir seu caminho. Deixa-me sem compreender o meu amor que foi tanto, mais que tanto, e mesmo tanto, insuficiente para matar a sua sede. Deixa-me atordoado, machucado, tombado sobre os escombros do que construí por nós. Deixa-me como quem deixa o que perde a validade. Deixa-me e, por favor, não ouse falar em saudade. Deixa-me porque todos os seus motivos são o bastante para tal deixa. Deixa-me sem culpas ou arrependimentos, não somos melhores que os ventos que acabam e começam e reacabam e recomeçam a todo instante. Deixa-me levando a certeza do meu amor sincero, verdadeiro, intenso... Deixa-me sabendo que será para sempre, todo o sempre, sempremente, inesquecível. Deixa-me atolado nessa areia movediça de lembranças na qual quanto mais mexo mais afundo. Deixa-me doendo o seu sofrimento, pois nunca suportei lhe ver sofrer, quanto mais lhe fazer... Deixa-me com as marcas dos meus erros. Deixa-me insuportavelmente carente. Deixa-me no que resta de nós. Deixa-me iludido com o que fui, com o que signifiquei, com o que simbolizei para você. Deixa-me de uma vez por mais que a vontade seja de deixar aos poucos. Deixa-me sem voz, sem cheiro, sem tato, sem som... Deixa-me como quem deixa um porco para o abate, sabendo que por mais que doa a dor alheia só fará doer-me mais. Deixa-me sangrando nossos sonhos incompletos. Deixa-me como uma mensagem dentro de uma garrafa, seja eu um pedido de socorro ou uma declaração de amor perdida no tempo. Deixa-me como numa música de Chico Buarque. Deixa-me como quem deixa um livro sem terminar de ler. Deixa-me com espaços vazios entre os primeiros parágrafos e o derradeiro ponto. Deixa-me como uma aliança sem par, como um romeu sem julieta, como um poeta sem musa. Deixa-me tentando me convencer de que é o melhor para nós dois. Deixa-me como quem deixa a vida para depois. Deixa-me para além de um blefe, numa cartada final, e se quiser maltratar de vez é só chamar de moleque, de cafajeste ou de pivete. Deixa-me e se for para não ter volta é só afirmar que sou igual a todos os homens que já passaram e ainda vão passar pela sua vida. Deixa-me e se for de verdade, basta se despedir uma só vez sem me chamar de amor. Deixa-me como fruto mordido, como um dia esquecido, como um mal resolvido, como um sentimento proibido. Deixa-me no desejo de ter vivido muito, muito, muito mais ao seu lado antes de ter sido decretado passado. Deixa-me porque mais dia menos dia o que pesa na bagagem deve ser deixado pela estrada. Deixa-me porque ninguém é obrigado a suportar um amor demais. Deixa-me pelos cantos, só não precisa dizer com todas as letras que acabou o encanto. Deixa-me, mas não rasgue de seu diário as páginas que dizem sobre mim, pelo menos não na minha frente. Deixa-me inesperadamente depois de tantos ensaios. Deixa-me consciente de que por uma época me chamou de vida e acreditou que eu fosse sua metade perdida. Deixa-me com sua pele ainda em minhas mãos, com seu cheiro grudado em minhas narinas e com meu destino ainda se casando com sua sina.
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16/03/2015 -
Senhores gaviões
Sobre a cabeça os gaviões rondando tudo olhando tudo cobiçando tudo do mundo. Gaviões sem regras, sem leis, sem pudores, prontos pro ataque, aves do combate. De garras afiadas determinadas a agarrar fundo no mais profundo da carne. Gaviões que não se preocupam com gritos, com choros, com sangue... Matam o aflito, o bonito, o contrito... Gaviões de um bangue-bangue onde só um atira. Ave que delira levando a morte em suas asas. Bicho forte, destemido, meio exótico meio bandido. Narcisista, estufa o peito, levanta a cabeça, inclina as penas e vai para cima impondo respeito. Gaviões reais e imaginários sobrevoando o mesmo cenário. Gaviões que cortam os céus numa força tanta numa elegância quanta como que se cortassem véus. Gaviões do arranha-céu, das torres de babel, do olhar mais cruel. Gaviões que só são doces quando bebem do açúcar de alguma alma boa. Aves milenares que dominam os ares. Gavião não caçoa. Gavião não fica à toa. Gavião cumpre seu papel sem cerimônia e que os anjos tenham parcimônia. ...
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15/03/2015 -
Não, não e não
Não larga de mão o que nos une. Não deixa de lado o nosso futuro por conta do passado. Não abandona as esperanças que ainda resistem ao tempo. Não aparte de mim os sonhos que são nossos. Não apeie da minha música. Não troque minhas imperfeições por suas aspirações. Não desista do que ainda podemos mudar. Não esvazie meu corpo de minha alma. Não deseje a outra margem antes de desejar uma ponte. Não jogue fora tudo o que coloquei dentro de você. Não apague uma linha sequer do que escrevemos juntos. Não faça nada se não tem certeza. Não corte se não poderá emendar. Não provoque se não for capaz de mais dia menos dia saciar essa provocação. Não rasgue palavras que talvez nunca mais se juntem. Não desperdice o que pode não voltar. Não desfaça do que será útil. Não semeie solidão para não colher o vazio. Não apague estrelas porque um dia o medo do escuro pode voltar. Não minta nem desminta apenas siga com uma verdade que nem é sua nem minha nem de ninguém. Não se traía nem debaixo de muita tortura. Não me venha com ingratidão, tampouco com falta de perdão. Não saía de cena, pois atrás de um poema sempre vem outro poema. Não pare, pois o verbo parar nega o movimento que é a vida. Não sepulte agora o que pode estar vivo, ou ainda mais vivo, amanhã.
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14/03/2015 -
Borboleta bruxa
Por algum feitiço, vindo de alguma deusa mal-amada ou de algum deus traído, quando a noite desce as borboletas viram bruxas. No decorrer dessa transformação ganham em tamanho e perdem o colorido. Desproporcionais e cinzentos, os seres admirados tornam-se odiados. As pobres borboletas não dão contam de voar, e como que bêbadas, voam aos pulos trombando lá e cá. Geralmente enroscam-se em alguma cortina ou se encolhem em qualquer soleira esperando o dia clarear para voltarem ao corpo de borboletas poéticas. Mas nem sempre isso lhes é permitido porque diante da figura assombrosa não faltam chineladas e vassouradas. Os poucos que seriam capazes de atentar contra uma borboleta ainda continuam inquisidoras contra as bruxas. Pobre sorte das borboletas que de criaturas divinas passam a sombrias mensageiras da morte, no caso, da própria morte.
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13/03/2015 -
Uma só caminhação
Seus pés, pequeninhos e macios, dado à cocegas iminentes e, até mesmo, permanentes, carecem de caminhar por meus caminhos. Seus pés devem pisam em mim como se pisassem nas filhas das videiras para fazer vinho. Seus pés precisam conhecer não só meus rastros, como as estradas que pretendo tomar, jamais me deixando à deriva, perdido ou sozinho. Seus pés necessitam de estar junto do meu corpo, da minha pele, das minhas caminhações, das minhas primeiras às últimas intenções, como flor de linho. Seus pés nunca podem se apartar dos meus, pois o adeus em nossas estradarias deve ficar restrito às canções que vibram as cordas do pinho.
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12/03/2015 -
Sereno de fantasia
O dia serenou. A vida transbordou. A boca bendisse um nome. E veio uma fome louca. E veio uma vontade de ir além. O canário belga saiu cantando meu bem. Será que ela vem, será que ela vem? As nuvens se casaram. As folhas se refestelaram pela ventania. Um poeta falou que garimpo de amor é poesia.
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11/03/2015 -
Um dia não é um dia
Um dia é pouco para quem é louco. Um dia é muito para quem não tem assunto. Um dia é dilema, problema e ao mesmo tempo poema. Um dia é belo e pode ter gosto de marmelo. Um dia é fundo quando se dá conta do que é o mundo. Um dia é sublime se formos além da vitrine. Um dia é intimista ao gosto do artista. Um dia é enfático para o lunático. Um dia é vendaval para manchete de jornal. Um dia é avesso para quem não tem preço. Um dia é incisivo para quem é vivo. Um dia é solitário para quem o peixinho dourado do aquário. Um dia é multidão para a galinha que leva a vida de grão em grão. Um dia é o recomeço do começo ou o contraponto do final em ponto. ...
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