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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 58 de 320.
19/04/2015 -
Cavalheirismo
Eu nunca estive tão perto de ser tão longe. Vivo com os pés no chão e com a cabeça nas nuvens. Meu coração se entrega ao tempo e não acumula ferrugem. Tenho tantas palavras gritando, gemendo, sussurrando e se casando com o meu silêncio de monge. Não tenho medo da morte e mesmo nas horas mais complicadas me considero um homem de sorte, lançado à própria estrada. Não caibo em cova rasa, sou pássaro com nove pares de asa. Estou além do aquém. Sou nó cego e desatado também. Não sigo só, não mesmo. Vou a eito e a esmo. Sou fanfarra fazendo algazarra vencendo na marra toda e qualquer amarra. Sou distante sendo perto, sou gigante ainda feto. Meu teto são as constelações, meu corpo é feito de sótãos e porões. Sigo quebrando grilhões, desencantando solidões, venerando paixões. Sou o aço que se dobra para a flor num cavalheirismo sem pavor de pieguismo, pois no fim das contas, como bailarina que mesmo tonta se equilibra e roda em suas pontas, minha sina é o amor.
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18/04/2015 -
Ainda há esperança
Não se lance à lança, pois ainda há esperança. Há esperança em nossas andanças. Há esperança de criança no peito adulto, crescido, idoso... Há esperança de fazer, de acontecer, de ser diferente. Há esperança de ir além do aquém que há no desdém do destino que passa fazendo arruaça. Há esperança no que está por vir, pois enquanto houver futuro nada está perdido. Há esperança de ter o que se queria ontem, amanhã, pois amanhã será ontem depois de hoje. Há esperança em tudo o que nasce, o que brota, o que vinga, o que cresce, o que raia... Há esperança no riso, no beijo, na flor. Há esperança sempre que acontecer um novo amor. Há esperança no gosto da fruta que ainda não madurou, na cor do botão que ainda não abriu, no som do pássaro que ainda não voou. Há esperança no que é incerto, assim como há beleza na incerteza. Então, por maior o desespero, não se lance à lança, pois ainda há esperança.
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17/04/2015 -
Dor de garganta
Minha garganta dói a dor do nascimento. Não tenho dor de garganta em razão de resfriado, amidalite, gripe. Minha garganta dolorosa, dorida, dolorida é pelo parto das palavras. Os amores ditos, benditos ou malditos, que esperam para nascer por meio de versos ou prosas se enroscam, cravando dentes e garras em minhas cordas vocais, as quais escalam como penitentes no purgatório em busca do céu. Do céu da minha boca, da minha língua, dos meus lábios. Querem nascer. Querem liberdade. Querem acontecer. Porém, precisam esperar sua vez. E nessa espera fazem doer porque também doem de silêncio. Ferem a garganta que para “eu te amos” são como cela de prisão ou convento. Querem se lançar, se jogar, se entregar ao vento, aos ouvidos, ao destino. Minha garganta dói grávida de sentimentos de amor sedentos para nascerem como palavras. Palavras...
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16/04/2015 -
Sete vezes sete
Naveguei por sete séculos, sete mares, sete espaços até chegar aos meus sete vezes sete amores. Foram sete ilusões, sete traições, sete perdões. Sete vezes o meu corpo no seu corpo. Sete milhões de beijos, sete milhares de abraços, sete infinitos olhares trocados, confiados, guardados, jurados para sempre. Sete universos contidos em sete zilhões de poemas vem verso e em prosa. Sete espelhos com sete mil reflexos. Sete luas, três além das conhecidas nova, cheia, minguante e crescente. Sete raios, sete linhas, sete cruzas em sete estradas consecutivas. Sete corações com sete, setenta, setecentos mil, milhares, milhões de sonhos, projetos, esperanças... Sete vidas num retrato sete por sete. Sete passos entre os sete de ontem, os sete de agora, e os sete que virão. Sete filhos de sete tempos. Sete nuvens riscando os sete céus. Sete sementes vindas de sete frutos advindos de sete flores bem-vindas de sete pássaros. Sete pares de asas ou de pernas ou de nadadeiras dançando ao som de sete músicas. Sete promessas, sete confissões, sete novelas nas sete cores de uma aquarela. Sete janelas dando para sete horizontes, montes, frontes... Sete cabalas, sete rezas, sete mantras, sete pontos de força, sete luzes no sétimo da fé. Sete caminhos, sete destinos, sete rios. Sete passagens, sete viagens, sete paisagens. Uma aposta de sete para sete. Sete galáxias de palavras, sentimentos, ações e pensamentos. Sete pés a sete mil pés em sete pés de vento. Sete operações, sete mil transações, sete milhões de relações. Sete profecias, sete mil fantasias, sete milhões de poesias. Sete colinas de Roma, sete torres de Constantinopla, sete sacramentos. Sete algarismos romanos, sete tiranos, sete elevado a sete planos. Sete cores, sete notas, sete virtudes. Sete pecados mortais para sete mil pecados casuais para sete milhões de passados culpados deixados pra trás. Sete portas para o inferno, sete pedras para afugentar o demônio, sete quedas de Cristo. Sete primaveras para um novo tempo. Sete Cleópatras para chamar de rainha, sete jóias de Chakravarti, sete mistérios rondando a coroa. Sete vezes sete dias de meditação de Buda debaixo de uma árvore de sete sombras e sete luzes. Sete sábios nascidos do olho direito de Amon Rá, sete cegos de paixão nascidos a cada sete milionésimos de segundo no mundo. Sete glórias e sete espadas atravessadas no peito da Virgem. Sete tubos na flauta de Pã, sete cordas na lira de Apolo, sete véus na cabeça de Íris. Sete meninas e sete meninos sacrificados para satisfazer a fome do Minotauro. Sete segredos, sete revelações, sete dúvidas na cabeça dos sete. Sete fôlegos, sete eclipses, sete gozos para chegar ao sétimo céu. Sete charadas da esfinge para abrir o que foi trancado a sete chaves. Sete labirintos habitam o bicho de sete cabeças. Sete dias, sete elegias, sete romarias. Sete braços para fazer sete mil abraços, sete milhares de milhões de adeuses, um só candelabro. Sete trombetas, sete milagres, sete ventres, sete partos. Sete, o triângulo e quadrado no mesmo ângulo. Sete tribos de sete constelações de sete almas de sete sopros de sete inspirações. Sete vezes sete romances para além do alcance do sétimo filho da solidão com a saudade, partida sete vezes como espelho de sete anos de azar. Sete vidas felinas, sete cruzes maltinas, sete esquinas de sete quinas. Sete pontas, sete contas, sete montas. Sete retas, sete curvas, sete setas, sete viúvas no estradão dos sete. Sete milhões de sete milhares de amores professados, lançados, depositados nos sete leitos do nascido do sete sétimo.
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15/04/2015 -
Ouça o moto-contínuo da criação
Ouça o que o pássaro veio lhe contar, o que os rios estão a lhe falar, o que as nuvens querem lhe revelar... O mundo está aí para ser ouvido. Pode ser um grito, um gemido, um sussurro... Mas tudo está a conversar... Ouça a língua dos ipês, das pedras, das águas profundas, do fogo vermelho... Basta colocar em prática o ouvido interior, aquele que compreende a tudo e a todos... Escuta o que diz o vento, o horizonte, a folha, o bicho, o coração... Ouça o que soluça, o que aguça, o que pulsa... Já parou para ouvir o pirilampo, a lua, a arruda...? Quantas histórias há pelos galhos de uma roseira, pelos anéis do cerne de uma árvore milenar, pelas ondas do mar... Sem cerimônia, ouça a conversa das raízes, dos matizes, das perdizes... Ouça o capim brotando, a chuva chegando, o universo conspirando ao seu favor... Escuta o quão bonito é o nascimento e o desenvolvimento de um amor... Quanta música há ao seu redor, para, vai, para e escuta... Escuta as estrelas brilhando, as sereias cantando, a vida raiando em todo lugar... Ouça os pensamentos, os sentimentos, os firmamentos... Escuta a poesia versada de tantas maneiras pelas ladeiras, seringueiras, cumieiras, poeiras, gafieiras, biqueiras, fogueiras, mangueiras... Ouça o moto-contínuo da criação...
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14/04/2015 -
Na hora do medo
Na hora do medo, seja tarde seja cedo, é você que eu chamo. Chamo pra perto de mim. E ainda digo “amo” implorando para não me deixar, tampouco me fazer só. Preciso grudar em seu corpo para a correnteza da solidão não me carregar. Necessito de agarrar em suas pernas para o vento da tristeza de ser só, tão só, não me arrastar. Sem sua boca eu não me encaixo. Sem você sou oco por dentro, sou louco por fora e não me aguento. Sem seus olhos sou cego, perdido, doído, vencido pela cegueira como fagulha que escapa da fogueira para morrer na escuridão. Necessito urgentemente de segurar em seus cabelos para o redemoinho do eu-sozinho não me levar a rodar pela falta de caminho. Na hora do medo é você que eu chamo em segredo pro meu enredo. ...
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13/04/2015 -
O inesquecível ao inesquecível
Nunca se esqueça do que é inesquecível. Por mais que lhe digam o contrário, lembre-se do que lhe faz gosto ao coração. Não jogue no esquecimento aquilo que é parte de você, mesmo que isso ou esse ou essa já se vai longe. O que é para sempre não se perde, tampouco pode se perder. Tenha certeza de que uma vez marcado, sempre estará ligado ao que ou a quem lhe marcou. Portanto, não seja ingrato, não se esqueça do que não é para ser esquecido. Lembre-se de um beijo, de uma palavra, de um gesto, de um olhar, de uma cena, de um perfume, de uma música, enfim, lembre-se de todas as peças que lhe compõem, mesmo que elas pareçam desconexas e sem sentido no tempo de hoje. Só há futuro quando há passado. É claro que para ir adiante temos que aliviar o peso, mas o segredo não é esquecer o passado, tampouco negá-lo ou queimá-lo. O passado é o combustível para seguir em frente, basta saber utilizá-lo como impulso e não como fardo. Dê ao inesquecível o que é inesquecível.
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12/04/2015 -
Curtas
A fruta que madura no pé tem gosto de mulher. O violão que ponteia na roça tem aconchego de palhoça. O coração é como nuvem pode passar pelo tempo que for sem apresentar ferrugem. O voo do mandarim traz aos céus perfume de jasmim, assim como as asas da açucena batem num cheiro de alfazema. A flor que desabrocha no sertão é uma mistura de cor e procissão.
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11/04/2015 -
(Re)Encontro com o Pai
Estou totalmente entregue ao Simiromba de Deus. Os fluidos da projeção do espírito do grande cacique Tupinambá alcança cada poro, célula, pulso do meu corpo em suas três dimensões – físico, alma, espírito. Os três reinos de minha natureza são iluminados, habitados, inundados por Seta Branca. Como chuva, a energia desce da cabeça aos pés, por todo o meu ser. Uma energia intensa e ao mesmo tempo tão serena, que acalma e fortalece ao mesmo tempo. Uma sensação única que me transporta às nuvens, ao universo, ao astral. Ao contrário de sangue, fluidos de Seta Branca parecem caminhar pelas minhas artérias e veias. Ganho asas. Minha voz muda. Meu esqueleto muda. Meu olhar muda, mesmo estando de olhos fechados, e nada mais é como antes. A emoção fala mais alto. O choro é de felicidade, de reencontro, de realização, de paz interior e exterior. É mais do que a alegria de depois de muito tempo, de muitos caminhos errados, chegar à casa do pai; É a casa do pai chegando até você.
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10/04/2015 -
Eis-me
Porque urjo eu fujo do subterfúgio inerente ao seu olhar depois das seis. Será que um dia, qualquer dia, mais dia menos dia, o meu sonho por entre os seus seios ainda tem vez? Eu já lhe contei que venho de outro planeta, que já fui árvore na paisagem e minha linhagem é de reis... Eu já duvidei do que sinto e, sinto muito, não minto, do seu eu mais bonito, situado entre o seu eco aflito e a sua alma de absinto, continuo o mesmo freguês. Então, ilusão na mesa, coração que troveja, demônio de igreja, para além da boca que beija: ainda me quereis?
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