Daniel Campos

Imprimir Enviar para amigo
01/04/2015 - Garapa

Depois da tradicional macarronada com aquele bife esfregado no fundo da frigideira, com direito a refrigerante de maçã e pudim de padaria feito em casa, dona Ofélia nos levava para o quintal de sua casa que mais parecia um bosque, com direito a um pouco de tudo, de pitangueiras a pessegueiros, de macieiras a pés de erva-doce, de coqueiros a salsinhas, de gengibres a jabuticabeiras, de mimos de todas as cores a hortênsias, de violetas a orquídeas, de cebolinhas a tomatinhos, de arrudas a poejos, de folhagens a ramas, achávamos feixes da mais doce cana-de-açúcar. Seu Antônio ficava só olhando, meio que fazendo sala com a família, enquanto sua mulher há mais de cinquenta anos passava a mão no facão amolado na pedra e desbastava aquela cana arroxeada. Em tempo, tiramos de um quartinho cheio de tralhas, que pertenciam à coleção de achados e perdidos de seu Antônio, um pequeno engenho pintado de verde claro. E daí começava a brincadeira para moer aquela cana extraindo a mais pura garapa, cujo cheiro atraia abelhas e beija-flores. Os copos eram distribuídos para quem se aconchegava num banco de Kombi ou num improvisado feito de saca de cimento endurecido, ou ainda em cadeiras de madeira do tempo da bisavó. A festa valia a bagunça, de modo que todos, naquela simplicidade, ficavam satisfeitos com o pouco que na verdade era muito.


Comentários

Nenhum comentário.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar