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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 29 de 320.
09/02/2016 -
Bethânia de todos nós
Maria Bethânia é emoção, beleza, força, encantaria e devoção. É um pranto de lavar corpo e alma de uma só vez e com tal intensidade que mesmo aqui já traz saudade. É a mistura de Oyá, Iansã, Santa Barbará, São João, Menino Deus e Nossa Senhora da Purificação. Bethânia é água de cachoeira que nos banha por completo e ao mesmo tempo é fogueira que fala o dialeto de quem ama e se faz chama. Explode sentimento, Bethânia é lâmina que corta como raio, trovão que a todos cala e a porta da imaginação. Bethânia, Maria Bethânia, é a tradução daquilo que de fato nos importa. Bethânia é tão nossa, como uma oração, é a bossa da fé, é o poder latente e onipresente da fantasia, da sedução, da encenação da verdade. Palco de todos os palcos, Bethânia é ato contínuo, o impacto da perfeição, o pacto com uma outra realidade, quiçá a ponte com uma outra dimensão que é amanhã, hoje e ontem ao mesmo instante. Sempre, e para sempre vibrante, Bethânia me arrepia, me extasia, me contagia e me excita numa mais que completa poesia. Bonita em uma singeleza que se transforma e se agiganta, canta, canta flor incandescente de Bethânia. Do ventre para o palco, fazendo do parto um abrir de cortinas, Bethânia é rio que não passa, palhaço que não é só graça, mas também o choro que se avista ou não, mas que se sente presente e arrebatador como num refrão. É Maria, é Bethânia, é carcará, abelha rainha, fera ferida, a lida constante e vibrante do artista. É a vista que olha pra dentro, coração ao vento, palavra que fere, adere e firma o alento em todos nós. O canto de Bethânia não nos deixa sós, e roga por mim, por você e por todos nós. Canto que quebra demanda, rompe quebranto, arrebenta corrente, liberta, reboliça, enfeitiça de pureza. É um canto baiano, indígena, brasileiro de aruanda. Bethânia com seus mantos, com seus pés descalços, com seus penachos, com suas entregas, com uma vocação, um sacerdócio que não nega. Bethânia é um canto de ar, de terra, de cascata, de sangue, de fogo, de mata, de néctar, de pólen tão saboroso quão manga madura colhida no pé. Bethânia do que deus quiser, de Santo Amaro, de Gantois, de Mangueira, de Mãe Menininha, de Dona Canô, de Caetano, de Cartola, de Vinícius de Moraes. Bethânia rei e rainha, de tantos plurais, dos circos e dos grandes teatros, aclamada por poetas clássicos e regionais, trilha de solitários e casais, organismo vivo e divino dos apaixonados de toda ordem, certeza de que céu e terra se encontram e de amor explodem.
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08/02/2016 -
Eu faço e ela nem aí
Ela toca viola e não me dá bola. Ela masca chiclete e me chama de pivete. Ela se escancara toda e não me mostra nada. Ela vai, vai, vai e não cai na minha estrada. Ela bamboleia em noite de lua cheia. Ela uiva e sua falta explode na minha boca como se fosse uva. Ela toma seu rumo e me deixa fora do prumo. Ela não se rende a mim, mas leva todas as flores do meu jardim. Ela me faz de palhaço e eu rio feliz só de poder seguir o seu rastro que cheira a anis. Bem que eu a quis e ainda quero, mas ela diz que foi feita para um rei. Eu não sei, mas acho que ela se descobriu mais feliz no dia em que eu confessei que eu fiz romaria, promessa, confusão, peça, ramalhete, sorvete e até poesia para casar meu coração ao dela.
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07/02/2016 -
Mata de dentro e de fora
É o som mata que me embala. A passarada canta, chega que estrala. E tudo se assanha dentro e fora de mim. A vida simples da roça, do mato molhado, da palhoça, do quintal capinado, do jardim de cebolinha, da viuvinha que bica a goiaba, da água da mina que nunca acaba, do céu azulado, alaranjado e carmim. E tudo se alumia dentro e fora de mim. Cascatas, luares de prata, violas de festim. Cigarras, cercas sem amarras, pedaços de mim. O boi mugindo no pasto, o carro de boi que nunca conheceu asfalto e o curió dando oi. Não tem coisa melhor dentro e fora de mim. Sombra de jequitibá, gosto doce de araçá e um cachorro campeiro apelidado de lobo guará. Tem juriti, bem-te-vi, mandi e raiz tupi nesse chão que dá no riachão das dormideiras. Tem ribanceira, ladeira, fogueira e uma amoreira que tinge a boca de quem beija a vida por inteira. De segunda a segunda-feira a mata cheira dentro e fora de mim. ...
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06/02/2016 -
Já passa das nove
Já passa das nove e eu ainda te espero. A não ser que me prove o contrário, eu sempre te quero. Já enxergo seu rosto pelas nuvens e sinto o seu gosto e até o seu silêncio me ruge. Sua pele conversa com a minha e meu coração plebeu a chama de rainha. Meus pés tropeçam nos seus rastros. E eu saio do meu mato para te buscar no asfalto. Eu rebato toda saudade com mais saudade e assim faço da minha a sua, a nossa cidade de memórias e histórias sem idade. Já passa das nove e chove em mim a felicidade de vê-la dançando, se dando, deitando no jardim das bromélias, ou seria das camélias? Não importa, quando chegar saiba que a porta estará aberta e a minha metade de tudo ainda deserta, pronta, plenamente pronta para ser preenchida e vivida por você e seus porquês.
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05/02/2016 -
Feito do mato
Pelas matas eu corro. Com lobos me deito. No madurar dos frutos eu me deleito. No silêncio eu me socorro. Com pássaros eu me aninho e voo. Eu ando sozinho e de amor me doo. Eu não tenho medo de nada. Minha vitória é régia. Meu céu é de onça-pintada. Minha estratégia é abrir minha própria picada. Eu não sigo, eu faço rastro. Meu coração é casto. O tempo brinca em mim. Proseio com as árvores sagradas. Semeio jardins de sentimento. O vento é o meu tudo e o meu nada. Quando chove, floresço. E enquanto o mundo se move, cresço. O meu endereço é a mata fechada. Meus caminhos são riachos. Meu corpo é flecha afiada que avoa por cima e por baixo. Quando inverna, eu durmo. Quando inferna, eu sumo. Tenho meus pés na terra como raízes. Pelas minhas artérias e veias vão e vem inúmeros matizes. Sou das penas, das folhas, das bolhas de orvalho. Sou seringueira, sumaúma, figueira, ipê, jatobá, ingá, carvalho. Sou da seiva, filho de Neiva, da tribo de Tupinambá. Quem precisar, pode me chamar. Não nasci para mim, nasci para os outros. Minha vida não é um bordado solto. Tudo é nó. E eu nunca estou só. Estou para ajudar, auxiliar, amparar, fazer o necessário. O meu santuário é o mato, o verde, o universo sem parede. Estou para aprender a amar. E cada amor que levo é uma pena do meu cocar.
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04/02/2016 -
Gingado bandoleiro
A sua saia rodou e me atirou no chão. E eu, menino sem jeito, ainda não aprendi a rodar feito pião. A sua saia me enfeitiçou. E sinhá bolinou bem no meu coração. O tambor tocou de madrugada. Mariazinha estava fazendo cocada. O céu serenou em noite estrelada. Sinhazinha estava mal-acostumada. E eu não pude fazer nada. Bota cocô no meu tabuleiro. Raspei o tacho, comi do primeiro ao último do seu pedaço, e o diacho fez do meu coração nó de marinheiro. Jogou para lá e para cá debaixo do cajueiro. Zanzou de lá e de cá pelo braseiro. O céu clareou e aluminou feito lampião. Tinha um bocado de estrela subindo e caindo no chão. Era noite de rojão, fogueira e sedução. A sua saia rodopiou pelo meu corpo inteiro. Eu fechei os olhos e o seu gingado bandoleiro ficou com o meu coração de fevereiro.
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03/02/2016 -
Santo umbu
Quando a meninada passou debaixo do pé de umbu, a menina ajoelhou de fé e o menino ficou nu. Como é que é, umbu? Umbu é a árvore sagrada do sertão, desperta reza e paixão. Umbuzeiro é ninheiro de ave, árvore que dá de beber, espécie que na hora da sede vale mais do que dinheiro. Umbuzeiro é de rede, com sua copa de guarda-chuva aninha mais do que parede. Se veste de branco, como noiva do cerrado, e se dá para as abelhas num amor melado. Tatu se refestela na raiz do umbuzeiro. Inhambu vem pelo cheiro. O fruto amarelo é doce, azedo, doce, azedo, doce, azedo e chega de lero-lero. Quando a meninada passou debaixo do pé de umbu, o menino atiçou de fé e a menina ficou de olhar nu....
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02/02/2016 -
Quereria
Quereria um banho de mato. Quereria ir com o rio. Quereria um picolé de beijo. Quereria asas sem moderação. Quereria um destino sem freios. Quereria um amor maior que a palavra e ainda maior que a intenção. Quereria um tempo só meu. Quereria uma felicidade de extravasar as margens do sorriso. Quereria um dengo de Deus. Quereria um abraço das estrelas. Quereria uma cesta de olhares revigorantes, estimulantes, apaixonantes sem quaisquer contraindicações. Quereria uma música para dois, mas que pudesse ouvir sozinho e, magicamente, sentir a dois. Quereria uma paixão instantânea a cada segundo arrebentando cá dentro de mim. Quereria me deitar com um bom livro e acordar com suas páginas em minhas memórias, como numa transfusão de conhecimento, de histórias, de belezas. Quereria ganhar um cheiro de boa noite da lua. Quereria a paz de se viver em paz.
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01/02/2016 -
Fabulante
Como que saída dos cogumelos, com olhos de marmelo e cabelos amarelos, ela apareceu com um colar de joaninhas chorando por ter nascido sozinha. E, seguindo borboletas, coloridas e bem-feitas, foi logo engatinhando, e andando e tropeçando nas folhas caídas das árvores da vida que preenchiam o bosque encantado, que ficava entre o futuro e o passado. Ela conversava com os esquilos, respondia aos grilos, falava com os sabiás, comia ingá, jatobá, araçá... E ela foi crescendo e se desenvolvendo rapidamente, como se fosse mágica, ora criando asas e penas ora nadadeiras e escamas. Brilhava igual vagalume e cantava igual pássaro em dia santo. Tinha um encanto e uma predileção por fazer de qualquer lugar sua cama, sua casa. Sabia conquistar e se aninhar como ninguém. Quando menos se percebia, já fazia parte de outro alguém.
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31/01/2016 -
Tom precisa voltar
Tom Jobim precisa voltar. É necessário tratar com urgência urgentíssima o processo reencarnatório do maestro. A nossa música carece do Antônio Brasileiro para não morrer pobre, vulgar e desacreditada. Falta o piano, a flauta, o violão dando o tom para outros seguirem seu Wave, seu caminho. Tom precisa voltar para salvar a Mata Atlântica, a Bossa Nova, a MPB, a juventude... E em razão da necessidade extrema, é fundamental que Tom já nasça grande com notas, partituras e letras-poema. Ah, e se não for pedir demais, que Vinícius de Moraes o acompanhe para reeditar o casamento perfeito entre poesia e melodia. Eu quero mais Jobim, mais Vinícius, mais disso que é bom. Aumenta o som, com as bênçãos de Drummond, volta Tom. Volta para o nosso meio, para o seio da fina flor da música brasileira que sem seu maestro chora perdida, luto por uma vida inteira. O Tom de Ipanema, o Tom de Mangueira, o Tom carioca da gema, o Tom Arpoador, o Tom das Águas de Março, o Tom do Samba do Avião, o Tom do compasso, o Tom do Amor, do Sorriso e da Flor precisa voltar, Eu Sei Que Vou Te Amar, eu sei que vou esperar sua volta pelo resto dos meus dias, a porta está aberta, o piano que nas suas mãos nos dá gosto está posto e há por todo o Jardim das Rosas, de Sonho e Medo, uma esperança de te (re)ver o quanto mais cedo.
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