Daniel Campos

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05/02/2016 - Feito do mato

Pelas matas eu corro. Com lobos me deito. No madurar dos frutos eu me deleito. No silêncio eu me socorro. Com pássaros eu me aninho e voo. Eu ando sozinho e de amor me doo. Eu não tenho medo de nada. Minha vitória é régia. Meu céu é de onça-pintada. Minha estratégia é abrir minha própria picada. Eu não sigo, eu faço rastro. Meu coração é casto. O tempo brinca em mim. Proseio com as árvores sagradas. Semeio jardins de sentimento. O vento é o meu tudo e o meu nada. Quando chove, floresço. E enquanto o mundo se move, cresço. O meu endereço é a mata fechada. Meus caminhos são riachos. Meu corpo é flecha afiada que avoa por cima e por baixo. Quando inverna, eu durmo. Quando inferna, eu sumo. Tenho meus pés na terra como raízes. Pelas minhas artérias e veias vão e vem inúmeros matizes. Sou das penas, das folhas, das bolhas de orvalho. Sou seringueira, sumaúma, figueira, ipê, jatobá, ingá, carvalho. Sou da seiva, filho de Neiva, da tribo de Tupinambá. Quem precisar, pode me chamar. Não nasci para mim, nasci para os outros. Minha vida não é um bordado solto. Tudo é nó. E eu nunca estou só. Estou para ajudar, auxiliar, amparar, fazer o necessário. O meu santuário é o mato, o verde, o universo sem parede. Estou para aprender a amar. E cada amor que levo é uma pena do meu cocar.


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