Daniel Campos

Prosas

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04/06/2010 - Ainda lá

Lá e ainda lá é possível respirar o cheiro de capim molhado impregnado no ar. Lá é permitido desenhar com os pés na terra orvalhada. Ainda lá os pássaros fazem poleiro das galhas de um coqueiro. Lá e ainda lá as santas têm andores de madeira no canto da sala. Lá e ainda lá a vida segue em charretes. Lá as calças rasgadas são remendadas em pedaladas de uma máquina de costura. Ainda lá as bocas têm gosto de ingá. Lá e ainda lá o coração de quem ama é de tafetá.

Lá e ainda lá a chuva nos empurra para debaixo da coberta. Lá até o estômago barulha em som de seresta. Ainda lá é possível fazer festa todo dia com o nascimento de um bezerro, de uma estrela, de uma cotovia. Lá e ainda lá poesia se pega no anzol e o céu está livre do besteirol da televisão. Lá a boneca tem cabelo de espiga de milho e o romance tem mais tomilho. Ainda lá a gente se encanta e espanta com tanta crendice. Lá e ainda lá o amor nos choca sobre as asas da boa e velha caipirice. ...
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03/06/2010 - Capítulo 26

- Se sou inocente, Jhaver, por que prosseguir com tal castigação?

- Porque há algo de muito errado nessa história.

- Você mesmo admitiu que eu não possuo vibrações, energias ou sinais que me tornem culpado.

- Quando fechei minha posição sobre o seu castigo, suas vibrações lhe condenavam sim.

- E como explica essa mudança?

- Eis o que tento descobrir em minhas incursões aqui. Primeiro pensei que foram seus protetores espirituais, sob o comando de sua sogra, que influenciaram sua aura....
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03/06/2010 - O corpo de Cristo

Dia de Corpus Christi. Dia de corpos e cristos. Dia de humanos e reis. Dia de carne e coroa. Dia que me leva aos meus poucos anos de idade e à pequena igreja de Nossa Senhora de Mont Serrat. Nunca me esqueci dos cheiros, das cores e dos sentimentos daquela igreja. Foi em mesas quadradas de madeira pintadas a óleo num tom de azul celeste, que serviam para festas e velórios, que tive minhas aulas de catecismo. Sob as assustadoras olheiras de dona Nair, a catequista, eu desvendei aquele livrinho que falava de pecados, mandamentos e outras informações vitais a um católico. Foi ali também que aprendi a decorar aquelas orações antigas, repetidas de geração em geração. ...
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02/06/2010 - Para além dos limites

Cheguei ao limite. Aliás, acho que já ultrapassei o limite em alguns passos. Tudo agora parece mais complexo. Ah! Como seria mais fácil caminhar com os pés no chão. Mas eu quis viver com a cabeça nas nuvens. Meu pai queria que eu fosse doutor advogado servidor de carreira. Porém, eu escolhi sonhar. Ou melhor, os sonhos me escolheram como poeta. E não troco os meus romances por nada. Prefiro os meus personagens a muitas pessoas de carne e osso. Aliás, sempre preferi ficção à realidade.

Por isso dou duro para transformar o dia-a-dia em ilusão. Não é fácil viver um conto, uma crônica, um poema por dia. Mas eu tento e invento um caminho paralelo, um violoncelo no meio da rua, um olhar que flutua em outro olhar, um astronauta apaixonado por um escafandrista trocando beijos entre o mar e o luar. Viver transformando pedra em coração é uma tarefa desgastante, angustiante, apaixonante. Por isso, cheguei ao limite. De agora em diante não sei o que mais pode acontecer. ...
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01/06/2010 - Capítulo 25

O promotor, agora na condição de réu, é envolvido por suores e arrepios frios. A cabeça ameaça doer. Os olhos ardem. Uma tosse forçada, como que um pigarro inconveniente, surge como sinal de estresse. O corpo se contrai, a respiração fica difícil e o coração dispara. É acometido por uma vontade irresistível de se beliscar para saber se aquilo tudo é real. Mas não tem coragem. Assim como tem vontade de ir lavar o rosto, de tomar um drinque, de sair correndo, de perguntar o que aconteceu com Malena, com Valentina, com dona Soledade e seu Esteban. Mas falta coragem. Afinal, isso tudo pode demonstrar fraqueza. E tudo o que ele não quer é se mostrar fraco diante de seu anjo castigador. ...
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01/06/2010 - Mais polêmica em torno do amor

Vira e mexe uma pesquisa diz que o amor engorda ou emagrece. E eu sempre digo aos caros pesquisadores: o amor não se pesquisa, vive-se um amor. É preciso pesquisar o motivo pelo qual se continua votando em corruptos e a civilidade se tornou um artigo de luxo nos dias atuais. Há tanto a pesquisar antes de se importunar o amor. Amar sobe o colesterol, o diabetes ou promove um profundo bem-estar ao corpo e à mente dos apaixonados.

Para um amor dar certo - nascer e transcorrer sem traumas e lesões – é necessário amar sem pensar em conseqüências. Se for começar um relacionamento pensando que ele lhe trará sobrepeso ou anorexia é melhor abortar seus planos relacionados ao coração. Amar consiste em não se ligar em detalhes, regras, limites e outras coisas mais que só servem para emperrar o romantismo. Pesquisas desse tipo são como bulas de remédio, se as seguir cegamente ninguém se trataria das mazelas físicas e sentimentais....
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31/05/2010 - O pingado e a mulher

A coloração da mulher amada é complexa como o prisma que filtra o leque de cores primárias, secundárias e terciárias; ampla como uma caixa de 48 lápis de cor aquarela nas mãos de um menino; e, ao mesmo tempo, simples e mágica como um pingado. Um copo de café com um pingo caudaloso de leite. A mulher amada é uma presença constante em nossa vida, seja em matéria de utopia ou realidade. É um sabor cotidiano como um bom pingado. E como o tradicional copo americano no qual é servida a bebida, não se quebra com facilidade. ...
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30/05/2010 - Crise inspiratória

Eu não escrevi nada ontem, anteontem, trasanteontem. Por hoje, a caneta ainda não riscou o papel que, com sua palidez desvairada, continua suplicando por um borrão de tinta. Como pode o papel viver sem uma história, sem um arroubo de amor, sem palavras que lhe façam viver novamente como no tempo em que era árvore rodeada de pássaros, nuvens e sementes. Infelizmente, senhor papel, não consegui lhe ofertar nada neste dia. O resto de hoje, assim como nas datas anteriores, deve ser marcado por um misto de esperança e aflição. Queima em mim a vela de um desespero subido e indeterminado. ...
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29/05/2010 - Para além dos pãezinhos

O tempo passa e tudo se atualiza. A onda de modernidade atingiu as padarias. Além do design fashion das fachadas, prateleiras modernas para pães e vitrines requintadas para frios e doces. Paredes com textura, mesas agradáveis e decoração com tons de atualidade invadiram o lugar. Há pão de tudo quanto é jeito e café mais incrementado. Além de outras opções no cardápio dignas de um bistrô, como sanduíches e pratos mais elaborados.

Encaro com certa nostalgia essa mudança das padarias. Lembro do meu tempo de criança em que os pães bengala (os franceses chegaram depois) eram oferecidos aos clientes numa espécie de cesto de palha. Os pães - perdoem-me os incrédulos - tinham outro gosto. Hoje, os pães não resistiram ao feito artesanal rendendo-se à lucratividade do processo industrial. Hoje as máquinas substituem a mão do artista, no caso, do padeiro. ...
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28/05/2010 - Os tentáculos do câncer

Poderia ser apenas o nome de um crustáceo que caminha de lado, ou de um dos doze signos zodiacais, ou de uma das 88 contelações escritas na noite escura ou do trópico situado a norte do Equador, no entanto, é mais... É mais intenso, é mais assustador, é mais complexo do que animais, estrelas e coordenadas geográficas. É câncer.

Ele já mata mais do que a Aids, a malária e a tuberculose juntas. Os números assustam e evidenciam, como nenhuma outra doença, a vulnerabilidade humana. De fato, somos falíveis. O câncer faz com que coloquemos os pés no chão e enxerguemos que toda cultura tecnológica desenvolvida até então não consegue nos salvar de nós mesmos. ...
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