Daniel Campos

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06/07/2010 - País cara de pau

Todos pintam o rosto. Todos falam com gosto. Todos levantam uma bandeira. Todos se esquecem da canseira. Todos viram técnicos. Todos têm palpites proféticos. Todos falam mal da mãe do seu juiz. Todos vivem por um triz. Todos se reúnem com todos. Todos vão do céu ao lodo. Todos têm um feitiço particular. Todos bebem de bar em bar. Todos têm suas crenças. Todos têm suas exigências. Todos se esforçam para cantar o hino nacional. Todos se esquecem do mundo real.

Todos entram no gramado. Todos dizem: isso ta certo, aquilo ta errado. Todos têm um motivo para comemorar. Todos querem apostar. Todos comem pipoca com coca-cola na frente de uma tv japonesa e ainda dizem que são nacionalistas. Todos são anônimos e artistas. Todos têm uma receita infalível. Todos se unem para combater o mesmo pesadelo terrível. Todos têm uma escalação na cabeça. Todos têm no coração o desejo de vença.

Todos se abraçam depois de uma conquista. Todos esquecem a razão e enchem a vista. Todos se amam e se adoram numa coisa louca. Todos riem e choram no mesmo olhar, na mesma boca. Todos torcem. Todos se contorcem. Todos cruzam os dedos. Todos entregam seus segredos. Todos formam uma mesma massa. Todos agem em prol da raça. Todos se unem no desejo de condenar o responsável pela derrota. Todos se revoltam numa mesma nota.

No entanto, segundos depois...

Todos inventam um novo amor. Todos beijam a face do traidor. Todos deixam de ser todos no conceito universal. Todos deixar cair suas máscaras revelando a mesma cara de pau.


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