05/05/2011 - Descuido
Estou com pressa, vamos nessa, a hora é essa. Vamos correr, vamos fazer, vamos nos ver no próximo segundo. Vou mergulhar fundo, revirar o mundo, me perder até lhe achar. E quando lhe achar, caída na memória de um coração, vou lhe encher de beijos, falar de desejo enquanto lhe assoviarei uma canção. Vou engolir estradas, descer e subir lugares, remar sete, oito, nove mares. Vou pela água, pela lama, pelo sangue. Vou de boca fechada e com a alma gritando seu nome, seu signo, seus sinais...
O tempo se esgota e eu parto como um parto de criança, tendo no choro uma só nota. Nasço a cada esperança de lhe reencontrar. Renasço a cada pista, a cada retrato, a cada cheiro, a cada fagulha, a cada textura, a cada luz, a cada traço, a cada fala que remeta a você. E eu, remetente assumido, vou de porta em porta tendo o amor, o amor grande, como destinatário. Vou como um corsário pelas águas das lembranças, enfrentando as tempestades da saudade e a calamidade da realidade. Vou...
Vou passo a passo e de repente ganho asas de aço e de repente rodo num tacho à procura do ponto do seu doce. Pergunto ao vento se ele me trouxe algo de você. Pergunto ao florista se ele, por descuido, enviou-lhe num buquê. Converso com os santos e com os demônios que encontro em minhas peregrinações buscando informações do seu paradeiro. Rodei o mundo dos vivos e dos mortos, caminhei por tantos caminhos tortos e fiquei perplexo quando me lembrei de lhe procurar no meu reflexo.
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