Daniel Campos

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Encontrados 261 textos. Exibindo página 14 de 27.

30/10/2015 - Sendo assim

Eu sou aquele que acredita no amor despido de qualquer interesse, no amor maior, no amor que cura, transforma, edifica. E assim amo intensa e verdadeiramente. Tenho começo, mas não tenho fim. Sou feito de mato, de água de mina, de caminhos de terra batida. Preciso de chuva para brotar, florar, madurar. Falo sozinho. Ando com a cabeça nas estrelas. Escuto sempre o que o vento tem para dizer; E quando ele não vem eu o chamo com assovios que não sei. Protejo as árvores como se defendesse a minha família. Não sou de voltar por onde já deixei rastros, mas meu orgulho não me impede de nada. Sou da lua. Sou cíclico e continuo. Cavalgo em pensamentos que me levam pra longe. Tenho raízes, mas também tenho folhas que vão pelo mundo independentemente se carregadas por uma ventania ou ligeiramente enroscadas nos cabelos da mulher que passa. Sou crônica, conto, verso, poema, prosa, romance. Sou texto, pretexto e contexto. Tenho um coração-lamparina que clareia, alumia, relampeia e até incendia. No passado, já fui pássaro. No futuro, já fui homem. Hoje sou menino e escondo minhas asas. Sou branco, preto, mulato, caboclo. Tenho índios e pretos velhos dentro e fora de mim, que me guiam por aqui e ali e ainda a acolá. Estou entre o céu e a terra. Sou medianeiro. Sou jaguar. Amor incondicional, humildade e tolerância são minhas bandeiras. Caminho deixando marcas. Caminho tentando consertar o ontem. Guardo em mim várias vidas, mas tenho a consciência de que esta pode ser a última. Aproveito, portanto, de tudo, com tudo, no tudo. Por mais que a estrada seja longa, tortuosa, íngreme eu sei que atalhos não me são mais permitidos. Não tenho vergonha de chorar. Não nego o que sou. Não fujo do que eu quero. Lanço-me ao mundo como um punhado de semente. Sou dado ao profundo, mas é no raso que labuto e aprendo. Eu não me vendo por nada. Não sou santo, mas uma tentativa constante de ser aqui e agora o que não dei conta de ser lá atrás. Tenho em mim uma centelha de deus, mas sou humano. Busco a todo instante perdoar e me perdoar. Só não perdoo uma colher bem farta de doce de abóbora ou de um pé pretinho de jabuticaba. Não tenho medo de fantasma, de assombração, somente do que eu podia ter feito e não fiz. Sou melódico, sentimental, passional, pródigo quando o assunto é paixão. Apaixono-me perdidamente a ponto de eu me perder por completo. Perder o chão. Perder o juízo. Perder a cabeça. Perder o rumo. Perder o eixo. Porém, é no amor que me encontro e me reencontro e torno a me encontrar quantas vezes por preciso. Sou mais de escrever do que de falar. Sou daqueles que vivem o que só existe no faz-de-conta. Sou encantado por natureza. Emociono-me com porteiras, trilhos, mares, constelações, enfim, caminhos que me levam. Eu tenho meu livre-arbítrio, mas não ando só. Sei que sempre está por perto quem me quer bem e também quem me quer mal. Sou o fiel da balança. Tudo depende dos meus atos, da minha conduta, da minha vibração. Não enjeito trabalho. Se puder eu faço. Eu me coloco à mercê da espiritualidade maior. Estou a serviço do amor. Tenho ainda muito a aprender, a fazer, a desenvolver. Sou só um grão de poeira no visível do universo invisível. Em minha mudança diária quero levar cada vez menos malas, sacolas, caixas... Só me importa a bagagem interior. O corpo é só uma casca. Meus erros reconhecidos adubam meu território para que a próxima safra seja (ainda) mais proveitosa. Não há oportunidade a ser perdida. Tudo é pelos outros e pelos outros sou por mim. Cuido da minha fé em deus, em meus mentores, em mim, em meus conhecidos e desconhecidos... Fé no hoje, no amor, no auxílio, na transformação, na cura, no perdão, no que está por vir. Não mais brigo com o tempo, pelo contrário, deixo o tempo me temporizar ao seu modo. Estou com corpo, alma e espírito tentando pagar minhas dívidas, aprender a amar de verdade e ser o que eu não fui em outras experiências. Sou um caminhador. Sou um trabalhador. Sou um sonhador tentando fazer um ou outro sonho vingar. Sou imortal. Tenho começo, mas não tenho fim. E sabendo que tudo passa, tenho que praticar o desapego, por mais que isso me doa. É preciso desapegar, inclusive de mim, pois o que terminou de escrever o texto já deve ser um tanto melhor em relação ao que começou.


Comentários (2)

17/08/2010 - Senhas

E agora, o João teve um apagão. Ao contrário do que acontece nos filmes, ele não acordou desmemoriado em um lugar desconhecido. Ele fez foi acordar em casa mesmo, ao lado da mulher, dos filhos e do cachorro maltês. Lembra perfeitamente de seu nome, de seu endereço, de sua profissão. Sabe o nome completo das crianças e da flor predileta de sua esposa. Tem consciência de que mora no décimo segundo andar de um prédio num bairro não muito distante do endereço do seu trabalho. No entanto, é como se um mundo inteirinho tivesse se apagado de sua memória....
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23/12/2009 - Senhora dos amores

Pelo amor de quem nos tem amor, piedade dos que amam e amam demais, ò senhora dos amores. Eu, filho amoral, peço clemência nos autos da solidão mais que carnal. Socorrei-nos dos demônios da ingratidão e de toda aflição conjugal. Não permita, por favor, ò senhora dos apaixonados, que a humanidade sofra a dor e as dores da saudade. Que suas graças intercedam por nós, amantes convictos, não nos deixando aflitos com nossos corações em carne viva. Priva-nos do medo incisivo e do desamparo afetivo a partir do mais bonito conceito que há: o amor sabiá, que assovia em nossos ouvidos com a fúria dos cupidos. ...
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05/09/2010 - Senhora dos remédios

Olha lá quem vem vindo, subindo as estradas que margeiam o rio Douro, é Nossa Senhora dos Remédios. É ela quem nos cura das doenças do corpo e da alma. Lá vem a imagem da santa trazida pela procissão do Triunfo. Só que não é procissão de velas ou de senhorinhas, mas de bois. Carros e mais carros de boi que vem rangendo, tangendo o estradão que vai se abrindo em torno daquela senhora de mantos rosa e azul. As rodas do carro vão girando como que chorando aos santos pés daquela senhora que cura o pranto de quem chora. ...
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24/08/2012 - Senhora em festa

Senhora do branco, azul e vermelho, passa por mim e me transforma. Torna-me o seu discípulo, o seu peregrino, parte do seu destino. Toma-me como seu filho. Senhora coroada, elevada, anunciada, encha das coisas tuas a minha estrada. Senhora das flores, do amor dos amores, das estrelas mais puras, faz da minha existência uma existência segura. Cura os meus medos, os meus desassossegos, os meus apegos. Espalha beleza, senhora da emoção mais linda que há. Senhora do meu acreditar vem me buscar.
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24/04/2012 - Senhora, auxiliai...

Senhora de tudo o que pulsa, auxiliai. Senhora das fragrâncias florais, auxiliai. Senhora das tardes adocicadas, auxiliai. Senhora sem mancha, auxiliai. Senhora da maternidade absoluta, auxiliai. Senhora do amor incondicional, auxiliai. Senhora que faz sinos badalarem e joelhos se dobrarem, auxiliai. Senhora que vive às voltas com criaturas angelicais, auxiliai. Senhora de toda vida, auxiliai. Senhora do querer bem, auxiliai. Senhora dos mantos sagrados. Senhora que leva o filho sempre em seu colo. Senhora dos ventos azulados. ...
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24/01/2012 - Senhorah

Quando tudo estiver perdido, senhorah. Quando o medo falar mais alto, senhorah. Quando o pessimismo tomar de conta, senhorah. Quando os caminhos se fecharem, senhorah. Quando a dor se agigantar, senhorah. Quando a primavera se for, senhorah. Quando tudo der em desânimo, senhorah. Quando os braços não alcançarem o céu, senhorah. Quando a luz se for, senhorah. Quando as palavras estiverem por um fio, senhorah. Quando a esperança cair, senhorah.

Quando o mal rondar, senhorah. Quando os terços se quebrarem, senhorah. Quando os pensamentos anuviarem, senhorah. Quando os inimigos se multiplicarem, senhorah. Quando o amanhã turvar, senhorah. Quando a morte vingar, senhorah. Quando os milagres sucumbirem, senhorah. Quando a felicidade for censurada, senhorah. Quando a fé for desacreditada, senhorah. Quando as coroas estiverem ao chão, senhorah. Quando o choro reinar, senhorah.


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12/10/2012 - Senhoras Negras

Roga por nós, Nossa Senhora Aparecida. Ora iê iê ô! Oxum. Senhoras negras, amém, saravá! A coroa de Nossa Senhora Aparecida é de ouro, cor de Oxum. O manto de Oxum é dourado, como o trigo que cobre os prados de Nossa Senhora da Conceição. Oxum é paixão, Nossa Senhora Aparecida é perdão. Oxum é o calor, Nossa Senhora Aparecida é a resignação em forma de amor. Oxum é a pureza sensual, Nossa Senhora Aparecida é a beleza virginal. Senhora Aparecida é santa, Oxum é aquela que encanta. Nossa Senhora Aparecida é o espírito do Natal, Oxum é enredo de carnaval. ...
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16/03/2015 - Senhores gaviões

Sobre a cabeça os gaviões rondando tudo olhando tudo cobiçando tudo do mundo. Gaviões sem regras, sem leis, sem pudores, prontos pro ataque, aves do combate. De garras afiadas determinadas a agarrar fundo no mais profundo da carne. Gaviões que não se preocupam com gritos, com choros, com sangue... Matam o aflito, o bonito, o contrito... Gaviões de um bangue-bangue onde só um atira. Ave que delira levando a morte em suas asas. Bicho forte, destemido, meio exótico meio bandido. Narcisista, estufa o peito, levanta a cabeça, inclina as penas e vai para cima impondo respeito. Gaviões reais e imaginários sobrevoando o mesmo cenário. Gaviões que cortam os céus numa força tanta numa elegância quanta como que se cortassem véus. Gaviões do arranha-céu, das torres de babel, do olhar mais cruel. Gaviões que só são doces quando bebem do açúcar de alguma alma boa. Aves milenares que dominam os ares. Gavião não caçoa. Gavião não fica à toa. Gavião cumpre seu papel sem cerimônia e que os anjos tenham parcimônia. ...
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27/02/2013 - Senitudes

Sem rumo, sem passo, sem prumo. Sem nada, sem tudo. Sem abraço, sem esculacho, sem acima ou abaixo. Sem estrada, sem som, sem parada. Sem veludo, sem agenda, sem fundo. Sem prenda, sem mundo, sem renda. Sem preço, sem merenda, sem tenda. Sem endereço, sem venda, sem direção. Sem apreço, sem lenda, sem sim ou não. Sem jardim, sem canção, sem camarim. Sem tela, sem novela, sem tramela. Sem solidão, sem fim, sem essa ou aquela...

Sem folha, sem vinho, sem escolha. Sem caminho, sem sorriso, sem juízo. Sem luz, sem ser preciso, sem cruz. Sem ninho, sem friso, sem brilho. Sem trilho, sem moradia, sem fantasia. Sem dança, sem volta, sem esperança. Sem nota, sem alegria, sem rio. Sem mio, sem nostalgia, sem vazio. Sem rota, sem plurais, sem casais. Sem ar, sem gostar, sem falar. Sem dinheiro, sem praia, sem coqueiro. Sem cheiro, sem saia, sem estar inteiro. Sem adeus, sem deus, sem ateus...


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