Daniel Campos

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30/10/2015 - Sendo assim

Eu sou aquele que acredita no amor despido de qualquer interesse, no amor maior, no amor que cura, transforma, edifica. E assim amo intensa e verdadeiramente. Tenho começo, mas não tenho fim. Sou feito de mato, de água de mina, de caminhos de terra batida. Preciso de chuva para brotar, florar, madurar. Falo sozinho. Ando com a cabeça nas estrelas. Escuto sempre o que o vento tem para dizer; E quando ele não vem eu o chamo com assovios que não sei. Protejo as árvores como se defendesse a minha família. Não sou de voltar por onde já deixei rastros, mas meu orgulho não me impede de nada. Sou da lua. Sou cíclico e continuo. Cavalgo em pensamentos que me levam pra longe. Tenho raízes, mas também tenho folhas que vão pelo mundo independentemente se carregadas por uma ventania ou ligeiramente enroscadas nos cabelos da mulher que passa. Sou crônica, conto, verso, poema, prosa, romance. Sou texto, pretexto e contexto. Tenho um coração-lamparina que clareia, alumia, relampeia e até incendia. No passado, já fui pássaro. No futuro, já fui homem. Hoje sou menino e escondo minhas asas. Sou branco, preto, mulato, caboclo. Tenho índios e pretos velhos dentro e fora de mim, que me guiam por aqui e ali e ainda a acolá. Estou entre o céu e a terra. Sou medianeiro. Sou jaguar. Amor incondicional, humildade e tolerância são minhas bandeiras. Caminho deixando marcas. Caminho tentando consertar o ontem. Guardo em mim várias vidas, mas tenho a consciência de que esta pode ser a última. Aproveito, portanto, de tudo, com tudo, no tudo. Por mais que a estrada seja longa, tortuosa, íngreme eu sei que atalhos não me são mais permitidos. Não tenho vergonha de chorar. Não nego o que sou. Não fujo do que eu quero. Lanço-me ao mundo como um punhado de semente. Sou dado ao profundo, mas é no raso que labuto e aprendo. Eu não me vendo por nada. Não sou santo, mas uma tentativa constante de ser aqui e agora o que não dei conta de ser lá atrás. Tenho em mim uma centelha de deus, mas sou humano. Busco a todo instante perdoar e me perdoar. Só não perdoo uma colher bem farta de doce de abóbora ou de um pé pretinho de jabuticaba. Não tenho medo de fantasma, de assombração, somente do que eu podia ter feito e não fiz. Sou melódico, sentimental, passional, pródigo quando o assunto é paixão. Apaixono-me perdidamente a ponto de eu me perder por completo. Perder o chão. Perder o juízo. Perder a cabeça. Perder o rumo. Perder o eixo. Porém, é no amor que me encontro e me reencontro e torno a me encontrar quantas vezes por preciso. Sou mais de escrever do que de falar. Sou daqueles que vivem o que só existe no faz-de-conta. Sou encantado por natureza. Emociono-me com porteiras, trilhos, mares, constelações, enfim, caminhos que me levam. Eu tenho meu livre-arbítrio, mas não ando só. Sei que sempre está por perto quem me quer bem e também quem me quer mal. Sou o fiel da balança. Tudo depende dos meus atos, da minha conduta, da minha vibração. Não enjeito trabalho. Se puder eu faço. Eu me coloco à mercê da espiritualidade maior. Estou a serviço do amor. Tenho ainda muito a aprender, a fazer, a desenvolver. Sou só um grão de poeira no visível do universo invisível. Em minha mudança diária quero levar cada vez menos malas, sacolas, caixas... Só me importa a bagagem interior. O corpo é só uma casca. Meus erros reconhecidos adubam meu território para que a próxima safra seja (ainda) mais proveitosa. Não há oportunidade a ser perdida. Tudo é pelos outros e pelos outros sou por mim. Cuido da minha fé em deus, em meus mentores, em mim, em meus conhecidos e desconhecidos... Fé no hoje, no amor, no auxílio, na transformação, na cura, no perdão, no que está por vir. Não mais brigo com o tempo, pelo contrário, deixo o tempo me temporizar ao seu modo. Estou com corpo, alma e espírito tentando pagar minhas dívidas, aprender a amar de verdade e ser o que eu não fui em outras experiências. Sou um caminhador. Sou um trabalhador. Sou um sonhador tentando fazer um ou outro sonho vingar. Sou imortal. Tenho começo, mas não tenho fim. E sabendo que tudo passa, tenho que praticar o desapego, por mais que isso me doa. É preciso desapegar, inclusive de mim, pois o que terminou de escrever o texto já deve ser um tanto melhor em relação ao que começou.


Comentários

31/10/2015, por Luisa Mendes:

Nossa que lindo. Foi fundo

31/10/2015, por Dalva:

Encantador e Envolvente


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