Daniel Campos

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Encontrados 261 textos. Exibindo página 19 de 27.

31/03/2011 - Sementes de Zé Alencar

Zé Alencar morreu como morrem os guerreiros – nas trincheiras da guerra. Morreu fiel a sua luta, temente ao seu Deus, honrado em sua missão. Quem fica, chora. Quem vai embora, parte aliviado sabendo que deixou pra trás um grande legado. Zé Alencar, sinônimo de labuta, de ética, de emoção bruta, ganhou anos, comemorou dias, celebrou a vida, avançou o quanto conquistou. Não abaixou a cabeça, não vestiu uma mortalha, não se entregou nem desafinou uma nota sequer do seu canto de batalha.
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03/03/2011 - Sobrevivendo

De mãos amarradas e boca amordaçada. De palavras silenciadas e sonhos amputados. De olhos vendados e digitais apagadas. De identidades violadas e pensamentos negados. De desejos esquecidos e olhares banidos.

É assim que vou pela estrada afora, tropeçando em ideais e fugindo da autodestruição. Vou perseguido, caçado, procurado. Vou molestado, acuado, açoitado. Vou ferido, banido, entristecido. Vou mesmo em pé caído.

Já perdi a conta de quantos golpes sofri, de quantas maneiras sofri, de quantas vidas não vivi. Já perdi a noção das torturas, das repressões, dos calabocas que ganhei. Já perdi a voz, a força, o ânimo. Já perdi a oportunidade de perder. ...
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23/01/2011 - Sem luz

Estou sem força, sem energia, sem luz, sem eletricidade. Estou ilhado, no escuro, com saudade dos watts e volts. Já perdi a hora de quantas horas vivo em blackout. Perdi o capítulo da novela e da janela só se vê o breu. Voltei ao tempo da roça, dos lampiões e lamparinas, de andar pela rua escura em companhia da lua. Os cachorros não param de latir, assombrações e ladrões aproveitam, cada um ao seu modo, dias e noites assim.

Não há como ligar o computador, recarregar o celular, ouvir um disco, assistir um filme, fazer uma ligação. Em seus altos e baixos, em seus piques e repiques, a energia ainda se dá ao desfrute de queimar o que restou na tomada. Tá tudo um caos. É preciso comprar mais velas e pilhas para as lanternas. Estou, como tudo ao redor, apagado, desligado, exilado... se explodir a terceira grande guerra só irei saber quando os soldados chegarem aqui....
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21/01/2011 - Sertaneja

Antes de se por, o sol entra pela rocha dos seus olhos, que vão mudando de cor, e tudo vai virando sertão. O coração de arenito bate forte e se esfarela ao vento em grãos de paixão. A maré de sentimentos enche, transborda, seu corpo mareia, oceana e sua boca vira refúgio, ilha de garças e beijos esgarçados.

Ao se por, o sol vermelho amarelo laranja vai morrendo em sua pele morena que arde em cheiro e sabor como pimenta sertaneja. E a beleza segue como cacto, resistente com espinhos se transformando em flor. O romance se pendura no varal dos seus cabelos, vira cordel e repete e se reinventa como cordel. ...
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13/01/2011 - Se emenda vá

Bruxa mexeriqueira, leva-e-traz, fofoqueira, sai pra lá. Bruxa dissimulada, sonsa, condenada, não vem cá. Bruxa perguntadeira, falsa, mateira, se emenda vá. Como tem coragem de fazer esse papel? Deveria, ao menos, honrar seus corvos e verrugas. Que decepção. Quanta ilusão. Não tem perdão, não. Ninguém lhe contou que peixe morre pela boca, bruxa louca? Quando vem dessa bruxa toda miséria humana é pouca. Bruxa tirana, insana e carraspana.

Bruxa de araque que quer fazer do meu Éden o seu Iraque. Bruxa agourenta, das histórias a bruxa berebenta. Bruxa amaldiçoada que quer semear o fel na minha estrada. Sai pra lá. Não vem cá. Se emenda vá. Ela devia aprender com velhos ditados como: as máscaras sempre caem e a mentira tem perna curta. Sua língua tem cicuta. Matuta e ladina, faz do meu ouvido a sua latrina. Bruxa canina, caninana, ferina. Bruxa sorrateira, treteira, carniceira. ...
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04/12/2010 - Saídas

Não há o que discutir, é preciso sair. Sair do tempo, do firmamento, da pauta, da fragata. Sair da casa, do trabalho, da asa, do atalho, da brasa. Sair da rua, da lua, da nua. Sair da estrofe, da tosse. Sair do passo, do traço, do aço. Sair do mundo, do fundo do poço, da boca da menina, dos olhos do moço. Sair da vida, da estada. Sair do ritmo, do íntimo. Sair do tom, do batom, do tom sobre tom. Sair da cama, da lama, da trama.

Sair. É preciso sair. Sair da novela, da tela. Sair da roupa, da louca. Sair do caminho, do destino. Sair da história, da memória. Sair do prato, do fato, do mato. Sair do rio, do frio, do assovio. Sair da brecha, da mecha. Sair do pranto, do encanto, do canto. Sair do telefonema, do poema, do teorema. Sair da política, do ridículo, da titica, do monociclo. Sair do tédio, do prédio, do médio. Sair da água, da mágoa, da anágua. ...
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27/11/2010 - Se eu pudesse morrer

Se eu pudesse morrer, de amor morreria. Se eu pudesse morrer, tão logo o faria. Se eu pudesse morrer, me libertaria. Se eu pudesse morrer, voltaria ao pó, e do pó à poesia. Se eu pudesse morrer, não me choraria. Se eu pudesse morrer, dar-lhe-ia todas as minhas fantasias. Se eu pudesse morrer, nada mais quereria. Se eu pudesse morrer, enfim descansaria. Se eu pudesse morrer, lembraria de você para todo o sempre e me esqueceria. Se eu pudesse morrer, perderia a noção da noite e do dia. Se eu pudesse morrer, não mais me atormentaria. Se eu pudesse morrer, no seu fogo mulher, arderia. Se eu pudesse morrer, na verdade, viveria. ...
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07/11/2010 - Saudadeira

Saudade é tudo aquilo que a gente não consegue disfarçar. É fardo pesado de se carregar. Saudade do que já foi geme doído igual carro de boi. Saudade não é passageira, é matadeira de sonho e dor. Saudade é um tempo perdido, jamais esquecido ou banido do coração. Saudade é a terra nua vazia de plantação. Saudade é o choro que cai sem avisar, é o peito apertado e a certeza de que toda tristeza do fado caminha ao lado por onde passar.

Saudade é espinho encravado, é a distância de um olhar cruzado, é o passado que não passa. Saudade abre buraco na vida da gente igual goteira de canto de cumeeira. Saudade é um sentimento sem eira nem beira que vai tropeçando nas nossas próprias pernas. Saudade é o pássaro que canta em busca do canto cantado ontem, anteontem, trasanteontem. Saudade é cavalo xucro pulando no pasto, impossível de domar. Saudade é nó de boiadeiro, difícil de desmanchar. ...
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06/11/2010 - Sonhos à venda

Quem quer vender um pouco de sonho quem quer vender? Estou aberto à negociação. Quanto custa seu sonho? Será que eu posso pagar? Você aceita fiado, vale refeição, um trocado? Quem quer vender um pouco de sonho quem quer vender? Estou disposto a sonhar seus sonhos, pode ser? Quer me dá-los de coração ou, parcelados no cartão ou será que preciso pechinchar para levar esses sonhos. Quem quer vender, quem quer?

Quem quer vender um sonho real ou de ficção, quem quer vender? Pode ser sonho grande ou compacto, breve ou eterno, possível ou impossível. Eu aceito sonhos de todas as medidas, todas as cores, todos os modelos. Quem quer vender um pouco de sonho quem quer vender? Vamos, façam suas ofertas. Vamos, porque eu tenho metas de levar um caminhão de sonhos pra casa até o fim do dia. Quem quer vender? Pode vender......
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29/10/2010 - Saudade pescadora

Perto do ribeirão havia uma saudade pescadora. Ela molhava os pés, lançava sua rede à solidão e pergunta ao vento: quem és tu que eu não te vejo? A saudade trançava fios de rede e destino e navegava pelos rios salgados do oceano sem ter direção ou plano. Acendia suas velas, conversava com orixás, abria suas velas, voava em feitio de sabiá do mar. E quando ia puxar sua rede não achava nada, só um monte de lembrança embaraçada e um vazio que dava corrupio no seu coração.

Pobre saudade pescadora, ferida pelos anzóis da ausência. Por mais que se esforçasse e força botasse não conseguia jogar sua rede a ponto de alcançar a distância necessária para aliviar seu mal. Mais do que distância de espaço, a saudade sofria de distância temporal. Quanto tempo se passou do começo ao final de sua existência sem que houvesse meio. O meio se perdeu em algum lugar daquelas águas que voltam. Águas correntes. Águas passadas. ...
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