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Encontrados 261 textos. Exibindo página 17 de 27.
23/09/2011 -
Sommelier
Num dia eu escondo segredos, noutro eu os sirvo numa taça. De manhã, finjo para agradar. Na hora do almoço, me calo sobre todo e qualquer pecado. À noite, falo verdades demais. Sou uma espécie de sommelier das palavras. Sou crítico e não aceito críticas nem de deuses nem de mortais. Tenho universidades, pés que já amassaram muitas uvas e os mistérios da arte da sinceridade. Olhe-me nos olhos e tente me decifrar.
Eu indico poetas e romancistas, cronistas, contistas e cantores de poesia. Conheço-os a fundo. Vivo com eles dentro e fora de mim. Confie em minhas sugestões sem medo de se aventurar por textos de amores profundos e mundos de solidões. Ou não confie e fuja com muitos passos das minhas páginas como quem foge de outros braços. Sou um sommelier querendo lhe fazer provar o meu eu literário, a minha era de aquário......
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22/09/2011 -
Sombras são
Tudo às escuras. Não há faísca alguma de luz pelo ar. Tudo escuro. Luzes apagadas. Abajures invisíveis. Carros sem faróis. Lanternas quebradas. Postes nus como árvores sem frutos. Noite de luto. Vagalumes extintos. Santos sem velas. Estrelas caídas. Lua em curto. Sol do Japão. Negro neon. Cegueira coletiva. Fontes de escuridão. Criaturas das sombras. O mal vencendo o bem. Anjos das trevas reinam absolutos.
Os fósforos estão úmidos. Os isqueiros se perderam. O acendedor elétrico dos eletrodomésticos não funciona mais. Os escoteiros se esqueceram de como tirar fagulhas das pedras. Nem Santa Barbara nem Iansã nem Zeus nem Thor mandam um raio sequer. Os fumantes morreram e com eles, seus cigarros. Não há qualquer curto-circuito, explosão, incêndio em curso. Depois da era de luz, o tempo do breu. ...
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19/09/2011 -
Santos ouvidos
O santo, cansado de tantos pedidos, tapou com suas mãos seus santos ouvidos. Basta, gritou aos devotos que não param de pedir. Há quem peça por meio de orações, rezando terços e ladainhas. Há quem vai direto ao assunto, sem rodeios, botando o dedo na cara do santo, exigindo um milagre. Há quem peça chantageando o santo com promessas de velas, de flores, de mudanças de comportamento, de sacrifícios. Há quem peça em jejum e quem cobra de barriga cheia.
Um único santo e milhões de pedidos engavetados em seus ouvidos. Um único santo promovido à última saída para diversos problemas. Cada um quer se salvar usando a condição de santo daquele homem escolhido por Deus. Querem agora que o santo, promovido a tal, se vire para curar doenças, arranjar emprego, arrumar casamento, conseguir dinheiro, proteção e perdão divino. Querem que ele derrame seu santo suor como uma espécie de poção milagreira. ...
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09/09/2011 -
Se for
Se for para me tirarem o ar, que seja por meio de um beijo asfixiante. Se for para me tirarem o chão, que me levem para bem alto. Se for para me tirarem o paladar, que me deixem intacto, ao menos, o sabor de um uísque. Se for para me tirarem o brilho, que não matem as estrelas que me habitam. Se for para me tirar a saúde, que minha dor seja nobre. Se for para me tirarem o olfato, que eu não passe incólume pelo perfume dos anjos. Se for para me tirarem o sonho, que me engravidem de ilusão.
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07/09/2011 -
Sete setembros
Eram sete pedros, sete gritos, sete cavalos, sete ipirangas. Era sete dúvidas, sete desejos, sete mentiras, sete libras esterlinas. Eram sete coroas, sete chacotas, sete personagens, sete botas. Eram sete verdes, sete amarelos, sete riachos. Eram sete príncipes, sete espadas, sete ilusões. Eram sete independências, sete mortes.
Eram sete contestadores, sete guerras, sete iluministas. Eram sete napoleões, sete destinos, sete fugas. Eram sete colônias, sete políticas, sete acordos, sete pecados. Eram sete famílias, sete amores, sete traições. Eram sete contradições, sete escravocratas, sete sonhadores. Eram sete prosas, sete territórios, sete purgatórios. ...
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01/09/2011 -
Senna, mais do que um sobrenome
Um sobrenome diz tudo e, ao mesmo tempo, nada. Por maior que seja a tentação, não se deve criar expectativa em relação a um sobrenome, a uma linhagem, a um laço consangüíneo ou genético. Ninguém é a continuação idêntica de alguém. Os reinados, as virtudes, os olhares, os feitos, enfim, tudo muda de pessoa para pessoa. Muitos – por serem indignos dele - não deveriam sequer fazer uso do brasão da família.
No circo da Fórmula-1 os sobrenomes são maiores que os próprios nomes. O que soa mais forte: Juan, Jack, Alain, Niki, Jackie, Nigel ou, respectivamente, Fangio, Brabham, Prost, Lauda, Stewart, Mansell? O problema é quando filhos, netos, sobrinhos ousam trilhar o caminho de seus parentes famosos. Nelsinho Piquet, Nico Rosberg, Ralf Schumacher, Jackie Villeneuve, Damon Hill são exemplos de que o sobrenome não faz o mito. Ajuda muito fora do carro, dentro dele não faz mágica. ...
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30/08/2011 -
Sozinho
O mar dos seus olhos arrebentou e me inundou inteirinho. O céu da sua boca serenou e me molhou de beijos miudinhos. A sua alma morena fermentou e virou vinho. A sua pele descosturou e um deus alfaiate lhe remendou com um pedaço do meu linho. O seu passo cruzou o meu e me levou para o seu caminho. O seu verso voou e pousou no mato, no mais alto ninho. A sua flor desabrochou e me falou que não tem espinho.
A sua bola de cristal quebrou e me indicou para ser seu adivinho. A sua canção desafinou e entornou meu cavaquinho. O sino do seu peito badalou e me chamou bem de mansinho. O seu passado levantou e rodou nos braços do moinho. O moreno lhe tomou de abraços e sacolejou seu corpo no pelourinho. O seu pé de vento virou e formou um redemoinho. A saudade rodopiou e o tempo se instalou como meu vizinho.
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27/08/2011 -
Sem mais
Sem mais a dizer. Essa é a frase, escrita no pé da página ou dita no decorrer da fala, que acaba com uma série de expectativas. Sempre há algo a ser dito. Não importa se bom ou ruim, se é o que se pretende realmente ouvir, se verdade ou mentira, mas há sempre algo por detrás da última palavra. Muitas vezes há mais coisas não ditas do que propriamente ditas. Há um universo de coisas e criaturas proibidas por detrás de um sem mais...
Sem mais a dizer. Sem mais a fazer. Sem mais a sofrer. Sem mais a nascer. Sem mais a querer. Sem mais a florescer. Sem mais a esquecer. Sem mais a convencer. Sem mais a colher. Sem mais a tecer. Sem mais a enlouquecer. Sem mais a beber. Sem mais a escrever. Sem mais a oferecer. Sem mais a poder. Sem mais a prometer. Sem mais a falecer. Sem mais a envolver. Sem mais a aprender. Sem mais a amanhecer. ...
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24/08/2011 -
Será Maria... Será...
Maria... Será que ainda lembra o meu nome? Será que ainda me reconhece nas ruas? Será que ainda ouve as minhas preces? Será que ainda escuta quando eu lhe chamo de mãe? Será que ainda me pega pelo braço me mostrando o caminho? Será que ainda me apazigua as dores? Será que ainda me vê com bons olhos? Será que ainda me defende? Será que ainda me coloca em seu colo?
Será Maria... Será...
Maria... Será que ainda sofre por mim? Será que ainda me concede suas graças? Será que ainda me perdoa? Será que ainda me deseja bom dia? Será que ainda acredita em mim? Será que ainda me espera? Será que ainda me chama? Será que ainda me acolhe? Será que ainda semeia sua lavoura em mim? Será que ainda me entoa canções de ninar? Será que ainda me entrega um sorriso seu? ...
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22/08/2011 -
Sorriso selado
Ela sorri em preto e branco, como um selo, de um jeito recatado e melancólico como há tempos não sorria. Sorri para trás. Sorri de uma forma incapaz de insuflar felicidade em alguém. Quem se aventura pelas sombras de seu riso e toma sua boca num beijo ardente se espanta com tantas cores. A simplicidade do riso, estampado nostalgicamente em seu rosto, esconde um mundo que vai fundo na vivacidade das coisas.
E o sorriso, que parecia triste, parado no tempo, refém do espaço e da saudade, na verdade está embutido numa paleta de tantos minirisos, que vão colorindo aquela boca pelo avesso. Misturadas às tintas, crônicas e poesias de uma mulher que de amor se quer. E o primeiro sorriso – oficial até então – suave e delicado – dá margem a outros tantos sorrisos arrebatadores, que causam prazeres e dores nos lábios alheios. ...
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