Daniel Campos

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Encontrados 254 textos. Exibindo página 14 de 26.

15/06/2012 - Pai Joaquim das Matas

No verde é que mora Pai Joaquim das Matas. Preto velho do cabelo branco-algodão e dos olhos de esmeralda é Pai Joaquim das Matas. Pai Joaquim das Matas é do signo do mato, tem a alma de luz esverdeada. Pai Joaquim das Matas conhece as folhas, as raízes, as sementes e tudo mais o que brota na mata. Pai Joaquim das Matas nos descarrega com sua natureza, rompendo nossas demandas como rompe suas matas. Pai Joaquim das Matas canta o canto que o vento do mato carrega pelas matas. Pai Joaquim das Matas dança a dança do mato. Pai Joaquim das Matas está na copa das árvores mais altas e nos olhos dos animais que caminham pela floresta....
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23/05/2012 - Piegas

Eu me jogo aos seus pés. Eu rasgo o meu peito. Eu pulo da ponte. Eu levo flores. Eu roubo a lua. Eu beijo seu chão. Eu escrevo quilômetros de carta. Eu exibo meu coração flechado por cupidos. Eu me faço pecado para ser seu penitente. Eu caio doente de amor. Eu nego a minha vida pela sua. Eu em você sou onipresente. Eu lhe entrego meus sonhos para serem seus. Eu acendo velas. Eu lhe digo coisas belas. Eu lhe encho de beijinhos e outros carinhos. Eu escrevo seu nome pelos muros da cidade. Eu choro de saudade a poucos metros do seu corpo. Eu me procuro no espelho e só vejo você. Eu sou pouso, a sua condição, o seu porquê. Eu sou o seu duble. ...
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12/05/2012 - Perdedeiras

Estou sempre diante de uma grande encruzilhada. Não sei que caminho tomar. Não sei se avanço pra trás ou se volto pra frente. Meus pés giram em círculos. Eu me pego fazendo as mesmas coisas que nunca fiz. Eu me esqueço de tudo. Não me lembro para onde ia ontem, para onde vou amanhã, onde estou agora. Minha bússola interna quebrou. Meus olhos não conseguem decifrar o caminho das estrelas. Meu anjo da guia deixou há anos de guiar qualquer um dos meus passos.

A minha rosa dos ventos despetalou. Estou sempre em dúvida em relação às direções e aos sentidos. A estrada sob meus pés é uma grande interrogação. Queimei os mapas. Quebrei os celulares. Não quero encontrar. Não quero ser encontrado. Eu não deixo rastro. Eu devoro rastros. Alimento-me das minhas próprias pegadas. Sou feito de portas, porteiras, janelas, cancelas, pontes, pontilhões, trilhos e estações. Caminho de verso em prosa, carregando ou sendo carregado por canções....
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02/05/2012 - Para sempre verde, de Tom para Dilma

Presidenta,

Quem escreve esta carta é um Brasileiro.

Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim.

Sentado no piano de cauda, observava as árvores do Jardim Botânico que rodeavam minha casa me acompanharem com cadência e ritmo próprios. Balançavam seus ganhos, suas folhas dançavam ao vento, faziam coro no tom das matas.

A senhora já escutou a seiva correndo pelo tronco de uma sumaúma?

Antes de decidir o futuro do novo código florestal escute o que a natureza tem para lhe dizer....
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28/04/2012 - Prece a Vinicius de Moraes

Vinícius de Moraes, patrono daqueles que amam demais, tomai de conta do mundo dos sentimentos porque tudo que é de amor e de paixão lhe pertence. Senhor dos versos líricos e dos tempos oníricos, velai pelos que sonham acordados passando de braços dados com a criatura amada. Poeta das almas enluaradas, das cartas apaixonadas, das estradas alongadas, abençoa os que se entregam ao coração alheio sem quaisquer medos ou contraindicação.

Poetinha dos amores impossíveis e possíveis, das rimas e das prosas, das rosas de carne e das trovas improváveis, interceda junto aqueles que vivem em estado de licença poética em razão de um romance. Embaixador dos que criaram asas e voaram alto fazendo das nuvens suas casas. Vinicius de Moraes dos sonetos, dos amores-perfeitos e também dos imperfeitos, unge-nos com a sua boemia abrindo os nossos caminhos à fantasia....
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11/04/2012 - Procuras

Procura-se um sonho exilado. Procura-se um amor desmemoriado. Procura-se um santo realmente santo. Procura-se um pouco de encanto. Procura-se um verso esquecido. Procura-se um sentimento foragido. Procura-se um céu de carmim. Procura-se o eco de um bandolim. Procura-se um pouco de esperança. Procura-se uma temporada de bonança. Procura-se um caminho seguro. Procura-se um desejo puro.

Procura-se um tempo esquecido. Procura-se um louco varrido. Procura-se a hora que não tarda. Procura-se uma gata na noite parda. Procura-se um coração febril. Procura-se a terceira margem do rio. Procura-se o que há por trás do espelho. Procura-se o segredo do escaravelho. Procura-se a dama escarlate. Procura-se a criatura que não parte. Procura-se o pássaro ladrão. Procura-se o comboio da criação. ...
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22/03/2012 - Paisagem pitoresca

Casinhas com quintais de terra e abacateiros ao fundo. Abacateiros verdes, grandes como não existem mais. Um romance anda por estradinhas em ziguezague. Um vira-lata latindo pra ninguém. O vento faz dançar o capim dourado ao mesmo tempo em que traz ecos da montanha de pedra. A saudade é quente e úmida. Os desejos são esticados na janela em feitio de cobertas. Um cavaleiro galopa por vielas estreitas e alongadas.

Na beira dos caminhos há flores e pedras. Dizem até mesmo que são as pedras que florescem. Histórias não faltam. Lendas então... A cana sangra cachaça. Até o vento tem sotaque. O lugarejo acolhe e embala. Tudo ali tem tempero incomum. As lembranças grudam nas paredes como lagartixas. Há um tilintar de prece pelo ar. O sol tem cor de caco de telha. Ali, a linha que separa os mundos não é imaginária. ...
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11/03/2012 - Prosa de bijuteria

Entre olhares de pedrarias e beijos de miçangas eu lhe encontro no colo dos colares. Sigo em seu corpo como um pingente folheado de desejo. Contas de saudade, fios de esperança. Uma sequência de pequenos detalhes. Cada argola é uma nova aliança, um novo voto, um novo casamento. E que nosso tempo não tenha fecho. Mas se tiver, que o fecho esteja quebrado. Abraços de couro. E uma paixão semipreciosa, presa em nós e mais nós de marinheiro.

Que nossos genes se cruzem nos emaranhados dos colares que seguem em seu colo. Que nosso destino seja o destino das pérolas brancas, negras, rosas, madrepérolas que laçam seu pescoço. Que nos casemos tão bem quanto as pedras e as fitas. Que as sementes de ilusão despertem num futuro próximo. Que haja equilíbrio perfeito entre o brilho e o fosco, entre o rústico e o sofisticado, entre o bruto e o delicado assim como entre você e eu....
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09/03/2012 - Preto velho adorai, saravá!

Preto velho que me acompanha para lá e pra cá, saravá! Preto velho que veio de Luanda, vamos pro Congá ao lado do nosso orixá! Preto velho que trabalha nas linhas das almas, ampara, oi, ampara a minha fé. Preto velho que é meu protetor, com cachimbo na mão, axé, ô ô. Preto velho é, Preto velho é Egun no Candomblé. Preto velho que é do batuque e do canjerê, bate tambor, oi bate tambor que eu quero ver. Adorei as minhas almas, as minhas santas almas, preto velho chegou na batida das palmas.
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26/01/2012 - Percepções

Nada é tão igual assim como nem tudo é tão desigual. O caos mora dentro de cada um de nós. Somos a confusão, a desordem, a bagunça generalizada. Antes de sermos humanos somos desumanos. Somos a civilização perdida. Nossos sentimentos são atômicos, nossos sonhos são quânticos. O sorriso é a pausa do pranto. Em todas as coisas há uma relação constante de poder e despoder, de querer e desquerer, de ter e desejar. São tantas teorias da conspiração. Para cada sim há um monte de não.

Nossas vidas são pré-fabricadas, mas a nossa obra jamais se conclui. Nosso tempo é relativo. A liberdade só existe enquanto utopia. Estamos todos condenados a algo ou a alguém. O retrocesso está no processo do progresso. Nem tudo pode ser dito ou ouvido. Ora estamos dentro ora, fora. Quase sempre o agora está no ontem ou no amanhã. A poesia é semente à espera das condições ideais para vingar. ...
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