Daniel Campos

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Encontrados 254 textos. Exibindo página 26 de 26.

Primavera de esperas

Primavera. Oficialmente, os calendários manifestam a estação mais esperada pelos apaixonados de carteirinha. Consciente disso, mas não sei se por isso, ela tinha um sorriso mais farto no rosto. Na mesa de centro, um jarro com alguns copos de leite. Eles não precisavam da primavera, davam quase o ano todo, mas na primavera pareciam mais vistosos, mais brancos, nascidos de algum seio. E ela adorava copos de leite.

Gostava também de ir ao armário embutido do seu quarto e sair de lá com um vestidinho leve e florido, com umas sandálias rasteiras e com uma fita no cabelo. Saía caminhando por sua rua à sombra dos ipês amarelos que não existiam ali. Como sonhava com aqueles ipês. Sentava-se à sombra de uma árvore que além de não ser ipê não dava flores. E ficava por ali, à espera de alguma inspiração de primavera. Quem sabe o vento lhe soprasse a melodia de uma música e ela pudesse ir ao piano. Piano que não tinha. Quem sabe escrevesse algum poema, mas nunca escrevera um verso sequer. Quem sabe surgisse um grande amor, mas ela sabia que grandes amores não se esperam. ...
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Principado

Depois do baile, quero encontrar teu rosto. Depois das músicas, teu vestido. Depois das linhas, teu texto mais íntimo. Talvez não me convide. Talvez me agrida. Mesmo com todos os riscos, quero encontrar teus últimos passos no salão vazio. Não sei se irei segui-los, mas quero encontrá-los. Quero encontrar tuas confissões pelos cantos, amordaçadas por algum capataz do silêncio. E quem sabe ainda dê tempo. Tempo de uma dança. Tempo de te ver dançar. Quem sabe a música não volte. Quem sabe algum compositor perdido na noite ou no fim da noite resolva se perder por ali. Talvez esteja cansada. Os cabelos talvez já estejam de outra cor. Quem sabe acabemos com a última nota. Quero encontrar teu sorriso após o baile. E se eu não souber dançar? E se não quiser conversar? Deixaremos nossos olhares num balé de silêncios como sempre fizemos. Olhos nos olhos. Silêncio. Os movimentos exaustos. O corpo amarrotado de cumprimentos. Ao fim das contas, o baile será teu. E depois daquela nossa dança de silêncio, com os olhos sonolentos, talvez queira um prato de talharim. Massa. Não conheci ninguém que gostasse tanto assim de massa. E mesmo com manequim de bailarina, certamente, tocará no assunto das dietas, dos regimes. Coisas de mulher. Mas logo jogará todas as regras e dogmas para o alto. Coisas da menina que nunca lhe deixara ou que você nunca quis deixar. Não sei. E, cambaleante de ilusão, sairá escorada na minha contradança. Num último ato, levaremos as últimas luzes do baile para a chama de uma vela solitária. Uma vela ardente dividindo a cor e o furor dos nossos olhares. E se houvesse vento a chama bailaria em silêncio nos olhos que sempre se silenciaram. Se houvesse vento...


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Promessas de cacharrel

Os microfones dispostos em meio aos arranjos de flores envelhecidas aguardam o começo da cerimônia. Atrás de uma plaqueta com inscrições minúsculas, ela se escondia. Mas a mulher, respeitada em todo o mundo, doutorada em micro-partículas, era tomada por uma vontade de falar coisas macros. E no seu entender, o céu, o sol, o amor eram macros. Enquanto outros especialistas da área faziam análises ligadas ao comportamento humano diante das micro-partículas, ela queria falar de amor.

Uma sensação de falta de ar, embora alguns ventiladores tentassem imitar um vento que não existia. Faltava espaço. Uma multidão se aglomerava e se confundia. Os rostos tinham as mesmas expressões, os mesmos desenhos. As luzes frias roubavam o brilho que restava em alguns olhares. As flores se esparramavam secas, embora fosse primavera....
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Comentários (1)

Prova de amor

Por todo o sempre, hei de lhe amar, adorar-lhe e lhe mostrar que o amor, de fato, existe. Por todo o sempre, hei de cultivar a esperança de tê-la ao meu lado. Por todo o sempre, hei de fazer cumprir este juramento ? amar-te, por mais que me doa a dor da separação. Por todo o sempre, hei de lembrar da tua boca, morada perfeita dos sonhos que eu sempre trouxe em mim. Por todo o sempre, hei de ter em mim a marca dos teus olhos, que de tão doces ferem de contentamento a coisa amada.

Por todo o sempre, hei de pensar em você... a forma como amanheceu? A roupa que veste? Está com vontade de quê?... Por todo o sempre, zelarei por ti a espera de teus cuidados. Por todo o sempre, a cada nascer do sol, hei de me consagrar a você. Por todo o sempre, hei de me perguntar - por quê? Por todo o sempre, hei de me referir a você como o meu amor (e nunca o tempo vai atrofiar esse amor, posto que não tem forças para isso). Por todo o sempre, hei de lhe agradecer (você fez valer, pela primeira vez em minha vida, o meu amor poeta). ...
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