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Encontrados 60 textos de junho de 2015. Exibindo página 1 de 6.
30/06/2015 -
Demão sentimental
Meu coração
Feito pião
Roda de mão em mão
E meu rosto
Vai levando
Demão atrás de demão
Para esconder a solidão
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30/06/2015 -
Mais do ser só
O cupido parece ter indeferido meu pedido. O curió canta, canta, canta a tristeza de ser só. Nuvem sozinha não faz tempestade tal e qual um único galo não faz rinha. Uma corda não configura um violão. Quem disse que a primavera é casada com o verão? O que as ondas do mar vêm buscar? O astronauta, na carência do espaço, tenta trazer estrelas no laço. Sem musa não há poeta. São precisos dois corações para fazer-se um amor completo.
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29/06/2015 -
Fica comigo
Ainda sinto seus aromas em minha pele tatuada de remorso
Por não ter lhe prendido, impedido o seu ato de ir-se embora
E agora onde está você lá fora? Está mais além do que posso
Ir. Que tal cê fugir de novo para mim com a certeza mais certa
De que nunca mais vou lhe deixar escapar do meu nó de poeta
Volta, volta, volta e não me solta, eu ainda não fechei a porta
Que dá pra nossa felicidade. Pra que se perder pela cidade
Se sua vontade é a minha vontade de ficar aqui, juntinho,...
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29/06/2015 -
As maçãs-do-amor de Sinhazinha
Sinhazinha se arrumou toda pra se sentar na pracinha esperando alguém que lhe desse uma maçã-do-amor. Mas na pracinha não tinha macieira e nem era tempo de fogueira. Mesmo assim ela esperou, ela esperou, ela esperou e dançou com o tempo que seus olhos caramelizou. Sinhazinha não estava grávida, mas ardia numa vontade parideira que faz a desejosa subir e descer ladeira dia após dia até matar as lombrigas que brigam e fazem intriga e desdém em torno da fome do que não se tem. Passaram fulanos, ciclanos, beltranos sem que ninguém oferecesse maçã alguma à salivação crescente da sinhazinha que estava acostumada a viver sozinha. Passaram-se horas até que a menina chora e um tal moleque, longe de ser pivete, aproximou-se e enxugou aquelas lágrimas com um beijo certeiro daqueles que desmancham o coração por inteiro. Sinhazinha ficou pasma, faltou-lhe o ar como numa crise de asma, e suas maçãs do rosto ficaram coradas, avermelhadas como as maçãs-do-amor que ela tanto queria e pedia. Coisas da poesia.
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28/06/2015 -
O tempo de seu Antônio
O tamanho, a careca e a simpatia não intimidavam ninguém, mas o olhar firme era capaz de colocar qualquer um pra correr. Os olhos de seu Antônio Bueno de Campos chegavam a gargalhar junto com ele em suas piadas, mas quando se impunham metiam mais medo do que suas histórias de assombração. Muitas vezes, sentado numa cadeira de ferro com tecido esticado, quando me perguntava das notas da escola chegava me dar um frio na barriga. Para minha sorte, sempre trilhei pelas notas azuis. Suas perguntas eram incisivas, feitas repetidas vezes, até que ele se convencesse da resposta. E era melhor não levar problema ou preocupação alguma para ele, pois aquilo não saia de sua cabeça e volta e meia rendia prosa. Era o jeito de ele cuidar da família, de tentar proteger aqueles que ele fazia questão de estarem por perto. Queria cada um cuidando de sua vida, mas a uma distância em que ele pudesse acompanhar. Eu, falando em sorte novamente, tive a oportunidade de pegá-lo mais manso pela velhice. Mesmo assim, tinha uma rigidez, um gosto de ver tudo e todos na linha. Não me lembro de tê-lo visto chorando. Suas lágrimas eram secretas e por escorrerem sempre para dentro foram dando aquele caráter de diamante aos seus olhos: encantadores, mágicos, mas duros. Fruto da criação bruta, por muitas vezes ter sido tratado feito bicho e terem roubado muito do seu futuro. Seu Antônio sempre precisou acordar dia após dia para sobreviver, para dar conta daquele dia. Os dias futuros não importam. Por mais que apreciasse uma viola, uma sanfona, uma roda de catira, seus parceiros de dança tinham de ser a enxada, o machado, as guias do arado puxado por boi. As esporas de uma vida sem regalias lhe deixaram marcas profundas que o faziam, a todo custo, querer que tivéssemos um caminho melhor que o dele. Estudou quase nada, mas via na nossa educação a certeza de uma vida que ele não teve. Ainda guardo até hoje a alegria daqueles olhos de me verem formado em Jornalismo. Tinha orgulho do meu caminho, dos meus feitos. Foi ele quem me deu o meu primeiro e único violão. Foi ele quem me dava público seja levando seus passageiros para verem meus quadros expostos nas paredes de casa ou carregando minhas crônicas, publicadas no jornal da cidade, para suas praças. Aqueles olhos fundos viam em mim o que ele não pode ser e, por mais contentes que estivessem, continuava com aquele quê de dureza para que eu não me perdesse. Aquele homem de aparência frágil, sempre vestido com mais blusas do que o necessário para espantar o frio acumulado em tantas noites passadas na lida dentro de um carro ou na boleia de um caminhão e de sandálias de dedo demonstrando claramente que ele precisava de tão pouco, sempre quis o melhor para mim. E, na cabeça dele, esse melhor era justamente um caminho diferente do dele. Nunca teve estia em sua jornada. Capinou. Carregou, descarregou, voltou a carregar caminhões de lenha. Tocou boi. Arou. Rodou pelas estradas e pelas memórias de muitos. Um dos principais passageiros do seu táxi era o ontem. Seu Antônio quase nunca falava de futuro, sempre nos contava sobre o que já tinha passado. É como se ele, tão direito com as regras de trânsito, insistisse em ir pela contramão da vida. Remoía incontáveis vezes histórias que eram suas ou que pegava emprestado. E contava sempre todas elas com muita riqueza de detalhes. Era navegando no mar de suas histórias que ele rompia com sua realidade que não lhe permitia ousar. Comia praticamente o mesmo arroz branco com frango frito todos os dias. Dormia assim que o dia escurecia e acordava de madrugada e ficava ouvindo modas caipiras num radinho até o dia amanhecer. Sentava no banco do jardim e ficava por horas olhando o movimento dos passarinhos que vinham se refestelar num bebedouro. Ia para suas praças, a do ponto de táxi e a de caminhada, perto de sua casa, tentando fazer o dia passar. Por isso, as histórias vividas por ele de forma direta ou não, faziam-no romper com sua rotina e navegar num oceano de sensações, de impressões, de exclamações. Tornou-se um exímio contador de histórias. Para ele, cada detalhe precisava estar no seu devido lugar de forma da muito da bem feita para que a narrativa alcançar o seu resultado. Colocava tudo no seu lugar, seja cada peça do quebra-cabeça do acontecido, seja cada parafuso que ele achava perdido na rua, seja cada engrenagem dos relógios que ele montava e desmontava com precisão cirúrgica. Perdi a conta de quantas vezes o vi as voltas com seus relógios de pulso ou de bolso. Dava corda, limpava, consertava, acertava a hora. Só se esquecia de dar corda em seu tempo interior que, aos olhos daqueles que não sabiam o compreender, estava sempre atrasado, marcando o ontem, o anteontem, o trasanteontem...
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28/06/2015 -
Trilha do Tamanduá
Oiá, pela trilha do tamanduá
Não passa boi nem jumento
Só onça com muito do ajeito
Muito do bem-feito de cá e lá
Pra livrar as pintas do espinhento
Oiá, pela trilha do tamanduá
Quem bobeia fica sem colar
Sem sapato e até sem pescoço
Bicho homem só vai nesse caroço
Se tiver muita fome e fé no patuá
Oiá, pela trilha do tamanduá
Pra apear, carcará pede licença
E até mesmo cobra engole rabo
A presença da morte é sentença...
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27/06/2015 -
Ei canoeiro
Ei canoeiro, ô canoeiro,
Canoeiro canoando a fio
Dobrando a curva do rio
Com esse jeito trigueiro
Pelas correntezas do vazio
Benditas almas das águas
Que se mostram no arrepio
Pelo profundo e corrente
Leito que é a maternidade
E ainda a cova do canoeiro
Que nascendo e morrendo
Vai pelas águas de janeiro
Feito mais um mensageiro
Do que brota da terra e enche,
Preenche e corre como rio
De sentidos, sonho e saudade...
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27/06/2015 -
O seu hoje
Hoje os pássaros são todos seus. Hoje quem já foi, volta para ter você nem que seja por um segundo a mais. Hoje a arte é sua. Hoje toda parte é sua. Hoje até Marte é sua casa. Hoje você ganhou o mel das abelhas. Hoje você ganhou o véu das centelhas. Hoje você ganhou o céu das ovelhas. Olhe você ganhou asas e um coração em brasa. Hoje as ruas são suas passarelas. Hoje, para você, abrem-se todas as janelas. Hoje o príncipe que você escolher vai te chamar de donzela. Hoje o mundo se faz mais doce por você. Hoje os olhares se voltam todos para você. Hoje os querubins oferecem suas flechas para você. Hoje estrelas e mais estrelas te são entregues por um deus apaixonado em forma de buquê. Hoje todo e qualquer adeus perde o seu porquê. Hoje há uma multidão de poetas procurando por você. Hoje há um turbilhão de almas inquietas esperando por você. Hoje há um tempo de paixão nascido para você.
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26/06/2015 -
Bela Portela
O céu serenou
Quando ela falou
Seu nome:
Bela Portela
E azul e branco
Raiou o sol
No estandarte
Da última donzela
Que pisou o salão
Como se o chão
Não estivesse lá
Mais não
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26/06/2015 -
Toadinha
No meu violão eu digo sim, bendigo não. Todo mocinho tem seu dia de vilão. E nem todo ladrão rouba mais não. E se a canção for de amor não se importe nem note se a rima barata se casar com dor. O pássaro mais afinado nem sempre é o mais cobiçado. É preciso ter vida, sobrevida e ainda vencer a despedida. Quem vai querer uma melodia assim, aonde o fim vem antes do começo? Quem vai entender a letra que diz que para ser feliz é preciso sofrer? E se a lágrima for o preço do verdadeiro amor quem vai, quem vai se opor? Deixe-me propor uma canção calada, pois agora, que o coração chora, não é preciso dizer mais nada...
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