Daniel Campos

Texto do dia

Se você gosta de textos inéditos, veio ao lugar certo.

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Encontrados 32 textos de outubro de 2012. Exibindo página 2 de 4.

21/10/2012 - Doutora Josefina não pode cair

A mão branca empunha o chicote e lá vem mais uma chibatada nessa mulher que já tem o couro marcado por tantos golpes, traições, injustiças, preconceitos... Estalos e gritos... Negros de pele, de raiz e de coração chorem e lutem por essa mulher que é feita de fibra, da lida e do amor aos seus. Maranhense do interior, filha de quebradeira de coco-babaçu, conheceu de muito perto a fome, a miséria, o racismo. Aos seis anos de idade, antes dos cadernos e livros, suas mãos pegaram em vassouras, rodos, ferros de passar, panelas... ...
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20/10/2012 - Quando a morte chegar

Quando a morte chegar, não morra, ao menos, não de medo. Quando a morte chegar, não grite, pelo contrário, se entregue ao silêncio dos silêncios. Quando a morte chegar, olhe-a no fundo dos olhos mais fundos. Quando a morte chegar, esqueça cálculos, fórmulas e planos. Quando a morte chegar, não se volte para trás. Quando a morte chegar, não fuja. Quando a morte chegar, não nutra qualquer esperança de virar o jogo. Quando a morte chegar não pense que haverá tempo para perdões ou confissões.
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20/10/2012 - Carmelino, o guardião das escadas

Há diversos guardiões de templos e de estradas, de tempos e encruzilhadas, mas guardião de escadas eu tenho notícias somente de um. Quando subindo ou descendo degraus em qualquer lugar do mundo e a qualquer hora encontrar um negro de sorriso farto e olhos de menino pode ter certeza de que suas escadas nunca mais serão as mesmas.

Muitos vão por alamedas, mares, montanhas, mas aquele homem que faz festa por existir e vive buscando sorrir para tudo e para todos prefere as escadas. É alma que ninguém aprisiona em gaiola, tampouco em elevador. É negro que honra sua origem, seu povo, seu sangue e percorre escadas como se voasse por eles como condor. ...
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19/10/2012 - Princesa Janaína

Se princesa Janaina quiser falar comigo, pode vir, estou aqui. Ela pode falar o que tiver para falar que eu vou segui-la até a Cachoeira do Jaguar. Princesa Janaina é da falange de Mãe Yara, odoyá Iemanjá, rainha das águas, mãe dos peixes, senhora do mar. Princesa dos olhos claros de alma negra chega até minha estrada e com calma se aconchega fazendo dela sua morada. Entre o sim e o não, que ela manipule as forças que se deslocam das Sete Raízes para a minha evolução. O que me falta no material, princesa Janaina me dá no espiritual....
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18/10/2012 - Coração atabaque

No lugar do coração eu tenho um atabaque. Sou feito de santo, do santo que me criou. Eu não sou, estou de passagem. E sigo essa estrada com o ritmo de quem serenou. Sigo com o corpo e alma consagrados ao sagrado que há na poesia, na mulher, na fantasia. O meu destino é o meu santo que faz e refaz, e o meu santo sempre bem me quer. O meu santo é o senhor do meu encanto, é quem me dá feitiço. Sou reboliço, sou homem, sou árvore, sou bicho. Sou a batida de um atabaque, sou a poeira levantada do terreiro, sou o sonho mais cabreiro que possa existir. É meu santo que determina a hora da minha chegada e a minha hora de partir....
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17/10/2012 - Ó, Obatalá! Ó, Obatalá!

Sob os olhos atentos de um índio sentado em um trono com uma lança deitada nas mãos e dos altos e crescentes estalos dos dedos dos médiuns, no meio dos tronos vermelhos, um doutrinador abre seu plexo e estende os braços para o alto buscando o céu. Suas mãos rompem as fronteiras de sua aura e sua voz escapa firme e intensa como um rugido de leão: “Ó, Obatalá! Ó, Obatalá! Entrego, neste instante, mais esta ovelha para o teu redil!”.

A força dessa expressão arrepia. De alguma forma, mexe com quem a escuta no interior do Vale do Amanhecer. A chave abre um canal para onde é projetada aquela vítima do passado. Espíritos que após serem doutrinados, devidamente harmonizados com o choque magnético da doutrina, são elevados. Dependendo da força do doutrinador, o espírito é lançado ao segundo, ao quarto, ao sexto ou para além do sétimo plano. ...
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16/10/2012 - O negro e o STF

Na fachada do Palácio do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, assim como na do Congresso Nacional e na do Palácio do Planalto, predomina a cor branca. No caso específico da mais alta corte do país, a composição dos ministros é tão branca quão a pintura externa.

Em mais de 100 anos de existência, o Supremo Tribunal Federal (STF) teve apenas três ministros negros: Pedro de Lessa (1907 a 1921), Hermenegildo de Barros (1919 a 1937) e Joaquim Barbosa (2003).

É pouco. Aliás, é muito pouco em se tratando de um país que, segundo o Censo de 2010 do IBGE, declara-se cada vez mais negro. Porém, para fazer justiça à realidade, os presidentes, que desde o início da República são brancos, precisam indicar negros ao STF....
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15/10/2012 - Patrões

Eles são aqueles que não honram as bandeiras que empunham. Eles são aqueles que não praticam, em hipótese alguma, os discursos que vivem a fazer. Eles são aqueles que encontram prazer ao fazerem sofrer. Eles são aqueles que caminham de salto alto enquanto enchem a boca para falar de “povo”, “base”, “gente”, “categoria”. Eles são clichês ambulantes, estereótipos retros, revolucionários quando reformistas, burgueses com máscaras de operário. Eles falam em ideologia, mas só conhecem o amor dos robôs. Eles são os gritos de guerra fora das trincheiras. Eles são a tortura, a loucura, a usura e a face mais impura do ser humano. Eles são ilusionistas, falsários, lobos em pelo de cordeiro. Pela frente eles evocam o manifesto da liberdade e por trás, sustentam as grades do nosso cativeiro....
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14/10/2012 - Seu Caboclo Liberato

Seu Caboclo Liberato, rei do mato, em ligação direta com a linha de Oxóssi, dê-me a sua proteção. Caboclo do cabelo de índio e dos olhos verdes, serdes o meu guia no clarão da noite, na sombra do dia. Com seu facão, vá abrindo a picada do meu destino. Seu Caboclo Liberato é espírito corajoso e trabalhador, idoso com o coração de menino, homem com asas de condor. Seu Caboclo Liberato aparece de chapéu de palha, roupa remendada e engomada, e bigode. Com Caboclo Liberato nem o diabo pode.

Seu Caboclo Liberato faz valer o sangue da terra vermelha trazendo uma centelha acesa nos olhos. Seu Caboclo Liberato entende a língua dos bichos, conversa com o vento, doma o fogaréu, leva e traz as nuvens do céu. Seu Caboclo Liberato sabe o feitiço da chuva e o que se esconde atrás de cada curva. Tudo o que seu Caboclo Liberato toca, dá fruto, semente e flor. Chega aboiando e assoviando, fazendo escarcéu junto dos boiadeiros. Conhecido por sua alma de pássaro e por suas rédeas de aço....
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13/10/2012 - Poeta

Poeta viajante, poeta andante, poeta navegante, poeta cavaleiro dos temporais. Poeta prisioneiros dos amores surreais, poeta dos solteiros, dos apaixonados e dos casais. Poeta al dente, poeta fruto, flor e semente. Poeta da chuva, poeta do vento, poeta do leste e do sul. Poeta alma, poeta sentimento, poeta sem calma, poeta verde, vermelho e azul. Poeta das entrelinhas, poeta do destino, poeta das meninas, poeta do caminho, poeta das encruzilhadas, poeta das noites enluaradas.

Poeta das porteiras, das cancelas, das portas, das janelas, dos portões, enfim, poeta de tudo o que abre ao coração. Poeta dos carrilhões de sinos, poeta menino, poeta deus, poeta da chegada, poeta do encontro e do reencontro, poeta do adeus. Poeta da maré cheia, poeta da luz que clareia, poeta da paixão que tonteia. Poeta de um cheiro, poeta faroleiro, poeta malandro, poeta dos meandros, poeta das horas certas e incertas. Poeta por natureza, poeta de vocação, poeta para a beleza. ...
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