Daniel Campos

Texto do dia

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Encontrados 31 textos de novembro de 2012. Exibindo página 1 de 4.

30/11/2012 - Faz de conta nº 3

Faz de conta que o mundo mudou e, que a vida girou e que o barco voltou. Faz de conta que hoje é o que há de melhor para se viver. Faz de conta que a sorte de tanto andar tonta pode cair aos seus pés. Faz de conta que a gente não vai morrer. Faz de conta que a fantasia está liberada. Faz de conta que o proibido é permitido. Faz de conta que a mocinha não se apaixonou pelo bandido. Faz de conta que há uma recompensa no final da estrada. Faz de conta que tudo leva à criatura amada.

Faz de conta que tanto dá para ir mais alto quanto mergulhar mais fundo. Faz de conta que deus não é vagabundo por ter descansado depois de seis dias de criação. Faz de conta que não doeu. Faz de conta que o que é meu é seu. Faz de conta que nossa relação com o calendário não é a mesma do peixe com o aquário. Faz de conta que o parafuso não nasceu pra porca. Faz de conta que a linha do horizonte não é torta. Faz de conta que não se importa com a saudade que lhe enforca. ...
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29/11/2012 - Favor esquecer

Esqueça o meu nome, esqueça o meu rosto, esqueça a minha voz. Esqueça que eu falo a sua língua. Esqueça a dor que parte de mim. Esqueça o meu verso e todas as minhas rimas. Esqueça o meu caminho. Esqueça aquela taça de vinho. Esqueça da minha casa na lua. Esqueça dos meus problemas, dos meus dilemas, dos meus teoremas. Esqueça meus planos, meus enganos, meus 200 anos. Esqueça meus vôos sobre a sua janela. Esqueça minhas fotografias, meus pedidos, minhas fantasias. Esqueça meu santo, meus medos, meu canto. ...
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28/11/2012 - A vida tem que ser assim

A vida é bruta para quem sonha e por seus sonhos vai à luta. A vida é uma loucura para quem ama e completamente maluca para quem tenta manter acesa a chama. A vida é um risco, que o diga o pássaro arisco. A vida é aventura para os que buscam um remédio para o tédio. A vida passa num corisco, numa volta da agulha riscando o disco. Aliás, a vida tem que ser mais, mais, mais do que isto, mais do que o já visto. Moço, a vida tem que ser o que há entre o roxo e o lilás. Moça, a vida tem que ir além de um tanto faz. ...
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27/11/2012 - Utilidades

Quando todos os caminhos se fecham a saída nem sempre é pela porta. Esqueça as janelas porque elas já viraram lugar comum. Procure por um alçapão, por uma saída secreta, por uma parede falsa. Primeiro salte para depois se preocupar em encontrar a alça do pára-quedas. Fique atento às saídas de emergência que estão espalhadas pelo seu destino. Siga as pegadas do passado para alcançar o futuro.

Preste muita atenção nos atalhos que a vida lhe oferece. Firme os trabalhos com o Exu que abre suas estradas, indicando por onde deve seguir a partir das encruzilhadas. Fuja do óbvio, opte pelo subterrâneo. Aprenda a nadar para vencer esse oceano de dúvidas. Redobre o cuidado com as armadilhas, mas não deixe de buscar seu horizonte por conta delas. Aperte o passo e desafogue os nós.


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26/11/2012 - A chuva vem...

Lá vem a chuva, lá vem a chuva, lá vem a chuva, a chuva vem e...

O bêbado enche o copo e toma uma dose de chuva. A moça pensa que o céu é um imenso chuveiro e sai cantando pela rua. O lavrador, de tanta felicidade, dança no ritmo da chuva. Enquanto tem gente correndo, há gente se entregando à chuva. O cachorro se chacoalha tirando de si todo o peso do mundo. Os apaixonados caminham entrelaçados sob o mesmo guarda-chuva. Há quem levante um brinde ao fim da estiagem. A cama ganha colchas e cobertas. Os peixes sobem à flor d’água. O coração de açúcar derrete. A viúva se lembra do marido chegando com a chuva e fica a esperá-lo no portão. Para não estragar os sapatos, a mulher prefere seguir descalça. ...
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25/11/2012 - Com a cara de Interlagos

Teve borracha queimada. Teve rodada. Teve ultrapassagem. Teve champanhe. Teve ronco de motor. Teve abraço. Teve bronca. Teve chuva. Teve choro. Teve vibração. Teve garra. Teve troféu. Teve bandeirada. Teve conquista. Teve suor. Teve adrenalina. Teve incerteza. Teve competição. Teve despedida. Teve herói. Teve vilão. Teve grito. Teve reza. Teve “S” do Senna.

Teve luta. Teve duelo. Teve guerra de nervos. Teve sonho. Teve desejo. Teve sorte. Teve azar. Teve simpatia. Teve marca no asfalto. Teve zebra traiçoeira. Teve arquibancada. Teve festa. Teve frustração. Teve capacete tomando o lugar do rosto. Teve gosto, muito gosto. Teve volta da vitória. Teve honra. Teve aplausos. Teve vontade de bis. Teve coração na boca. ...
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24/11/2012 - Os truques de Seu Antônio

Seu Antônio, em sua última passagem pela Terra, era um homem cheio de truques e mistérios. Pouco se sabia sobre sua vida. Ele praticamente não falava de sua infância, de sua adolescência, de suas aventuras. Suas histórias sempre falavam sobre outros personagens. O segredo, para conhecê-lo, era ir juntando em seus causos e piadas pedacinhos dele. Como todo autor de boas histórias, coloca pitadas de si e do que o rodeio em suas narrativas.

Ele era o menino da história que nunca brincou. Ele era a criança tratada como bicho pelo pai. Ele era aquele de corpo franzino que carregava e descarregava mil caminhões de lenha por dia. Ele era o aluno que não pode estudar. Ele era um apaixonado pela dança. Ele era o jovem que teve que abrir mão dos bailes. Ele era o recém-casado que saia de casa com uma enxada nos ombros a procura do pão de cada dia. ...
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23/11/2012 - O axé de Joaquim Barbosa

Ir à cerimônia de posse de Joaquim Barbosa foi como ter ido ao redescobrimento do Brasil. Um país sem máscara, sem vergonha de ser o que é, assumido e feliz. O Salão Branco do Supremo Tribunal Federal nunca foi tão negro. Como foi bom ver a mais alta corte do país com a cara do Brasil. A negritude de Lázaro Ramos, de Milton Gonçalves, de Djavan, de Martinho da Vila, de Hamilton de Holanda traduzia o sentimento de festa. Entre homens de terno e mulheres de tailleur, uma senhora negra com as roupas de santo totalmente inserida na carga simbólica daquele momento. Impossível ficar indiferente ao clima instaurado por aquela arquitetura de Oscar Niemeyer. Depois do axé trazido por Joaquim Barbosa, a certeza de que o Supremo nunca mais será o mesmo....
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22/11/2012 - A saudade corta

Por mais que meu corpo fique quarando sob sol e chuva, a saudade continua impregnada. Eu me lembro, com nitidez, da senhora estendendo as roupas vindas da roça no cimentado do quintal formando um jardim de tecidos e cortes. Uma arte tão abstrata em sentidos quão concreta em perseverança.

Manchas de terra, de óleo, de comida sendo tiradas por meio de uma receita tão antiga quão nossa identidade. De quando em quando, as mãos, também manchadas, jogavam punhados de água com sabão sobre aquelas peças. Um, dois, três dias quarando, as roupas soltavam toda a sujeira, por mais pesada que fosse....
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21/11/2012 - E aí, vai encarar?

Leva seu olho gordo para lá senão vai se cegar na força do meu patuá. Não preciso da sua opinião, da minha vida cuido eu e cuido bem cuidado. Da minha história você não é nem futuro nem presente nem passado. Vá canalizar seus maus fluidos na frente de um espelho, pois seu mal não passa do meu tornozelo. Chega de roubar a minha energia, de querer possuir a minha poesia. Em mim sua feitiçaria não dá pé, corto seu mau-olhado no meu candomblé.

Meu babalorixá já falou que quem desejar meu mal pode se preparar para chorar. Pode chorar, ai chora, pois sua energia ruim eu mando embora com meus trabalhos de limpeza. E para sua supresa, o jogo de búzios já me indicou as oferendas, os ebós, os boris, os obis, os âbôs, as pembas que eu preciso providenciar para me libertar desse seu campo negativo. E é bom ficar vivo, pois toda maldição que me mandou, vou devolver com juros e correção. ...
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