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Encontrados 31 textos de janeiro de 2012. Exibindo página 1 de 4.
31/01/2012 -
Faces marrons
Toda estrela tem duas faces, uma clara e outra escura. No entanto, as duas faces de Alcione são marrons. Cantando no ambiente intimista da sala de sua casa ou na quadra da Estação Primeira de Mangueira ela é simples e unicamente marrom em todas as suas faces. Soberana em todos os palcos, sua voz embala sonhos, atiça emoções, cria asas nos corpos mais céticos. Aos quarenta anos de carreira, a diva, para delírio dos apaixonados por uma música de excelência, usa e abusa de suas duas faces.
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30/01/2012 -
Doce mar
Entre as peculiaridades divinas é válido ressaltar a doçura do mar salgado. Poucas coisas são tão doces quão o mar. Aquele sal em movimento constante comendo a areia, perfumando o vento, curando as feridas do corpo e da alma. O mar faz a alegria da criançada como uma panela cheia de brigadeiro. O mar, como se feito de mel, traz inúmeros benefícios à beleza. O mar e as pessoas numa relação de açúcar e formiga.
O mar é um verdadeiro banquete. De uma forma ou de outra, todos desfrutam dessa enorme e constante ceia a céu aberto. O mar abre o apetite e, ao mesmo tempo, sacia todas as nossas fomes. O mar quebra nos olhos como quebra queixo. O mar gruda em nossa pele como calda de caramelo. As conchas são como confeitos de açúcar. As espumas das ondas são chantilly. No mar, o sal tem uma doçura poética. ...
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29/01/2012 -
Imagem e semelhança
Se deus nos fez a sua imagem e semelhança, deus nasceu pelado e talvez ande assim, nu, até hoje. Se deus nos fez a sua imagem e semelhança... Deus tem seus modismos. Deus chora. Deus envelhece. Deus peca. Deus sonha e corre atrás de seus sonhos. Deus acredita em milagres. Deus reclama, se zanga, fala palavrão. Se deus nos fez a sua imagem e semelhança... Deus tem seus erros, suas falhas. Deus não tem asas. Deus tem suas limitações. Deus é metade sim, metade não. Deus boceja. Deus chega e se despede. ...
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28/01/2012 -
Barba estrela
Eu, a reencarnação do pirata barba estrela, navegarei pelos sete mares, pelos cinco continentes, pelos mundos real e imaginário até encontrar a cidade perdida onde brilha o sol de rubi. Por minha perna de pau, juro que navegarei e não descansarei até atracar no cais perdido da cidade proibida. Lá a rainha da terra submersa me espera com seus olhos de redemoinhos. Quero prender a imagem dessa mulher em meu olho de vidro e deixá-la nua no escurinho do meu tapa-olho.
Marujos! Todos ao convés. Levantem suas espadas e coloquem a solidão para andar na prancha. Os tubarões da escuridão estão famintos. Minto, eles estão sedentos de sangue. No fundo do mar tem um galeão afundado por um canhão. Coragem! Vamos desbravar o desconhecido, enfrentar monstros ancestrais e encontrar o amor jamais vivido por outros casais, tempos adiante ou tempos atrás. ...
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27/01/2012 -
O despertar
Alguém me acorde pelo amor de deus. Algo muito grave está por acontecer e eu preciso ver. Eu não sei o que é, mas sei que tenho que estar lá. É melhor eu ir do que ficar aqui nesse sono profundo que me deixa inerte, preso a essa cama e a um mundo que não governo. Preciso despertar dessa maresia onde sonhos e pesadelos vão e vem em feitio de ondas. Tenho de lavar o rosto, calçar os sapatos, pegar meus óculos e partir para o destino que me destina.
Eu tenho que ir. Tenho medo, mas tenho que ir. E além do mais eu não tenho escolha. É questão de sina. Ou eu vou ou ela me assassina. Também não posso ficar mergulhado no meu inconsciente. São tantos fantasmas pessoais e de terceiros. Não há como fugir. Tenho que partir. Partir ao meio. É um trajeto tão desconhecido, mas tão comum e diário que eu sei décor. Não preciso de guias ou de mapas. Eu me levo e se precisar eu me carrego. ...
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26/01/2012 -
Percepções
Nada é tão igual assim como nem tudo é tão desigual. O caos mora dentro de cada um de nós. Somos a confusão, a desordem, a bagunça generalizada. Antes de sermos humanos somos desumanos. Somos a civilização perdida. Nossos sentimentos são atômicos, nossos sonhos são quânticos. O sorriso é a pausa do pranto. Em todas as coisas há uma relação constante de poder e despoder, de querer e desquerer, de ter e desejar. São tantas teorias da conspiração. Para cada sim há um monte de não.
Nossas vidas são pré-fabricadas, mas a nossa obra jamais se conclui. Nosso tempo é relativo. A liberdade só existe enquanto utopia. Estamos todos condenados a algo ou a alguém. O retrocesso está no processo do progresso. Nem tudo pode ser dito ou ouvido. Ora estamos dentro ora, fora. Quase sempre o agora está no ontem ou no amanhã. A poesia é semente à espera das condições ideais para vingar. ...
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25/01/2012 -
Lua uivante
A lua uiva no céu deixando claro seu parto permanente de estrelas. A lua quase nunca relaxa ou dorme, está sempre acesa e desperta. Alimenta-se dos flertes dos enamorados que a adoram. A lua é o aconchego de tantos sonhos. Ela se queima ao sol e se molha numa chuva de meteoros só para brilhar por nós. É um caso de paixão explícita. Mesmo quando nova, traz consigo o peso das coisas. A lua desta noite já foi muitas outras luas. A nossa lua já foi de muitos.
A lua uiva lá fora agitando as marés, as barrigas, as sementes, os ventos, os pensamentos. A lua mexendo com vivos e com mortos, com este e outros tempos. A lua e seu obscuro prazer de ficar acordada quando todos dormem. A lua imersa na escuridão e no silêncio dos astros. Por minutos chega a ser absoluta. A lua tão rica de emoções e de fatos é um romance a céu aberto. Quantos mistérios sem resposta caminham em sua atmosfera? ...
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24/01/2012 -
Senhorah
Quando tudo estiver perdido, senhorah. Quando o medo falar mais alto, senhorah. Quando o pessimismo tomar de conta, senhorah. Quando os caminhos se fecharem, senhorah. Quando a dor se agigantar, senhorah. Quando a primavera se for, senhorah. Quando tudo der em desânimo, senhorah. Quando os braços não alcançarem o céu, senhorah. Quando a luz se for, senhorah. Quando as palavras estiverem por um fio, senhorah. Quando a esperança cair, senhorah.
Quando o mal rondar, senhorah. Quando os terços se quebrarem, senhorah. Quando os pensamentos anuviarem, senhorah. Quando os inimigos se multiplicarem, senhorah. Quando o amanhã turvar, senhorah. Quando a morte vingar, senhorah. Quando os milagres sucumbirem, senhorah. Quando a felicidade for censurada, senhorah. Quando a fé for desacreditada, senhorah. Quando as coroas estiverem ao chão, senhorah. Quando o choro reinar, senhorah.
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23/01/2012 -
É preciso sonhar
Mais do que nunca é preciso sonhar. Não duvide de seus sonhos. Por mais imprevisível que seja aposte suas fichas nele. O sonho, como o mar, nos encanta e nos move. Ele nos atrai, nos puxa e nos devolve transformados. Precisamos nos entregar ao sonho como oferendas ao mar. Precisamos defender nosso sonho como fruto de um parto, com fúria e ciúme. Precisamos sonhar nos contraindo e nos dilatando, nos aproximando e nos distanciando, nos fazendo parte e contraparte desse sonho.
É preciso que nosso sonho seja in. Indomável, indivisível, incrível, inquebrável, incorruptível, insaciável, insubstituível... É preciso que ele esteja dentro da nossa cabeça, da nossa pele, da nossa alma. O sonho precisa ser o gelo do nosso uísque, o recheio do nosso sanduíche, o todopoderoso da nossa religião. O sonho precisa ser o nosso circo e o nosso pão. O sonho precisa nos guiar e, nos embalar e nos embaralhar a ponto de todos os destinos possíveis e impossíveis passarem por ele. ...
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22/01/2012 -
Cavaleira do vento
Ela cavalga em noite de tempestade como um raio no meio da noite. Cavalga a pelo e em certas horas é o próprio cavalo. Cavalga com uma espada nas mãos. Uma espada de fogo. Aliás, cavalga quente, suando de prazer. Cavalga como uma lenda feita de carne. Cavalga coroada de rubis. Cavalga como um clarão vermelho flamejando a escuridão. Cavalga movida pela fúria, pela paixão, pelo ciúme. Cavalga sem destino, mas sabendo perfeitamente onde vai chegar.
Ela cavalga no ritmo dos tambores que batem do outro lado do oceano. Cavalga numa passada firme e decidida. Cavalga calando bocas, firmando sua verdade, levando e deixando saudade. Cavalga conduzindo o rumo, a forma e a intensidade do vento. Furacões e vendavais, brisas e tufões, surgem de seu galope. O coração passa em trote. Mulher do ar. Do ar em movimento. Cavalga em terras, céus, mares e corpos. Cavalga em linha reta, sempre em frente, como o próprio tempo que nasce de seus cascos. ...
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