Daniel Campos

Texto do dia

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Encontrados 33 textos de julho de 2009. Exibindo página 2 de 4.

21/07/2009 - Eu já não sei

Eu não sei o que fazer. Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. Carcará, pega, mata e come. Tento, mas eu não tenho forças para ir, para seguir, para prosseguir, para aderir ao movimento. Chega de lutar, armas ao chão. Chega de sorrir em vão. Na minha boca só há a língua da ilusão. O mundo está cercado. Os sonhos, de leste a oeste, foram dominados. Deus, grande deus, quando é que você vem? Espelho, espelho meu, o que é que você tem? Será que depois de tudo eu sou alguém ou ninguém?
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20/07/2009 - Esquinas de Brasília

Dizem que Brasília não tem esquinas. Pura lenda. Nos domingos então, esse mito cai por completo. Em cada esquina há uma churrasqueira repleta de frangos. Seja a pé ou de carro, a fumaça das esquinas impregna-se nas narinas. Isso sem falar dos cabelos e roupas. É uma fumaça com gosto de fome. Dentro de instantes, o desejo por um frango assado saliva na boca, bate no peito. E os brasilienses, solitários por natureza, encontram-se nas esquinas.

Também são nas esquinas de Brasília que a rua encontra seus moradores. Gente de rua e gente da rua. De fato, a capital não fora próspera para todos. E carrinhos de papelão, cobertores velhos, cachorros magricelas, mãos espalmadas, garrafas de bebida, preconceitos, inseguranças, rostos sujos e miseráveis habitam as esquinas de Brasília. Um ótimo ponto para pedir, para roubar, para escandalizar. ...
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19/07/2009 - O último pôr-do-sol

Ela o pegou pela mão, subiu as escadas sem corrimão e chegou ao alto da construção só pra ver o sol se desconstruir entre vergalhões, concreto armado e andaimes. Ela havia se tornado amante do pôr-do-sol depois de seu primeiro beijo. Perdera a conta de quantos sóis em queda fotografou, com máquinas ou olhares, ao longo da vida. Foram tantos. Da rua, do morro, da favela, do barco, da janela, do arco da velha, da sacada, do campo... Tinha uma coleção de sóis poentes nos mais diversos lugares, sob vários ângulos e perspectivas. No entanto, aquele era especial....
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18/07/2009 - Na minha varanda

Na minha varanda tem uma rede e, ao menos, três maços de cheiro-verde. Na minha varanda tem um pé de alface bem repolhudo. Na minha varanda, a couve escapuliu para o apartamento vizinho. Na minha varanda tem um casal bem temperado: manjericão e manjerona. Na minha varanda tem uma cebola de batata. Na minha varanda, em meio a folhas de louro, tem periquito fazendo coro. Na minha varanda tem alho em réstia. Contra moléstia, na minha varanda tem tomate cereja. Ora, ora, a minha varanda se põe à mesa. ...
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17/07/2009 - Ilusão, eu não eu não

Hoje é um dia de sucessões de atos desagradáveis. Tudo é perturbador. Os fatos se confundem. Nada parece dar certo. Tudo gira em torno da palavra insucesso. Até mesmo os presságios são desoladores. O desejo segue na contramão da ordem natural das coisas. A contrariedade aumenta. O pessimismo abre os braços e lhe chama para um cafuné. As lembranças negativas passam pela mente como filme velho. E vem o desânimo. O físico e o psicológico sofrem. Sente-se a pressão de forças sobrenaturais. Forças que você acredita não poder combater. E dá-lhe mau-humor, corpo ruim e pensamentos negativos. ...
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16/07/2009 - Guincha, porco, guincha

Não há nada mais triste e desesperador do que o guinchar de um porco no momento de sua morte. Nem mesmo uma tragédia de Shakespeare ou um ária de Mozart supera a dramaticidade de um guinchar terminal. Tenho para mim que o guinchado deste mamífero é o grito da própria morte, que se apodera daquele corpo sujo e festeja mais uma alma porca para seu rebanho de bestas. O guinchar é um som que fere por si só, despertando os mais diversos sentimentos em quem está por perto (ódio, repulsa, pena, revolta, prazer, indignação, compaixão). É impossível não ficar mexido diante de um guinchado desses. ...
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15/07/2009 - Insalubridade

Os trabalhadores que, em suas atividades diárias, estão sujeitos à política deveriam ter direito a insalubridade. A insalubridade é definida pela legislação em função do tempo de exposição ao agente nocivo. E política é altamente nociva. Quem trabalha em situações penosas, insalubres ou perigosas pode requerer o benefício, que engorda um pouco o salário. Deste modo, como escrevo política, sinto-me no dever de cobrar: cadê o meu adicional de insalubridade?

Lama, lodo, corrupção, sangue, traição, mentira, falsidade, descaso, incoerência são alguns dos elementos físicos, químicos e biológicos que tornam a política uma atividade insalubre. E quanto mais perto da política, maior a concentração e intensidade desses agentes que comprometem não só o organismo, mas as ideologias que o povoam. O Ministério da Saúde deveria advertir esse tipo de trabalho e combatê-lo arduamente. ...
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14/07/2009 - A sobrinha de Darcy

"Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca".

Da mais incisiva das formas, os olhos de Marilene me alvejaram com essa frase. É nesses momentos em que eu tenho absoluta certeza de que me casei com a sobrinha de Darcy Ribeiro. Pela silhueta de Marilene, corre um pouco do sangue do antropólogo, escritor e político que morreu defendendo os índios e a educação. Basta um beijo para sentir magias e lendas indígenas. Basta observá-la para saber sua educação afrancesada. Em seu corpo e em seus pensamentos encontra-se uma nova civilização, construída a partir de uma comunhão de raças e culturas. ...
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13/07/2009 - Parente só tem dente...

Como dizia dona Alda, parente só tem dente pra morder a gente. Quem é que não tem alguém da família querendo dar uma mordida em alguma coisa? Pode ser no seu bolso, na sua casa, no seu guarda-roupa, na sua geladeira, no seu porta-jóias, no seu casamento, no seu prestígio, na sua felicidade. E preste atenção na fórmula: quanto maior o olho gordo, maior o dente do parente. É cada olhão e é cada boca de tubarão que chega a dar medo na gente.

A ciência comprova: os maiores casos de inveja estão dentro da própria família. Tem sempre uma tia com um olho capaz de secar pimenteira; tem sempre um irmão lhe esconjurando pelas costas; tem sempre um agregado querendo lhe puxar o tapete. A maioria só se aproxima com segundas ou terceiras intenções e, sempre, no intuito de se dar bem com o menor esforço possível. Quando e de onde você menos espera surge uma mordida daquelas. Pode ser de primeiro, segundo ou terceiro grau, parente tem dente de chacal. ...
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13/07/2009 - excluir

Diante dos olhos de ágata de Malena, Sebastian ri, chora, treme, soluça, formiga, enfim, é alvejado por uma série de descargas emocionais. E é assim, atordoado, que segura na mão de sua bela adormecida há quase vinte dias e agradece a São Miguel. Mal sabe ele que naquele encontro de Jhaver com o arcanjo, o anjo castigador não recuou um milímetro sequer de sua posição. E mais, desafiou as ordens de um Deus, não menos castigador, e aceitou enfrentar as conseqüências.

Foi graças ao aviso de Jhaver que um levante de luz comandado por seu Klaus conseguiu deter a invasão dos umbralinos ao Hospital da Cura, protegendo o espírito de Malena e muitos outros. Como a investida foi grande, malfeitores conseguiram levar alguns espíritos em recuperação de volta às sombras. Mas se eles tivessem conseguido pegar Malena, Gastón e outros, certamente o prejuízo seria muito maior....
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