20/07/2009 - Esquinas de Brasília
Dizem que Brasília não tem esquinas. Pura lenda. Nos domingos então, esse mito cai por completo. Em cada esquina há uma churrasqueira repleta de frangos. Seja a pé ou de carro, a fumaça das esquinas impregna-se nas narinas. Isso sem falar dos cabelos e roupas. É uma fumaça com gosto de fome. Dentro de instantes, o desejo por um frango assado saliva na boca, bate no peito. E os brasilienses, solitários por natureza, encontram-se nas esquinas.
Também são nas esquinas de Brasília que a rua encontra seus moradores. Gente de rua e gente da rua. De fato, a capital não fora próspera para todos. E carrinhos de papelão, cobertores velhos, cachorros magricelas, mãos espalmadas, garrafas de bebida, preconceitos, inseguranças, rostos sujos e miseráveis habitam as esquinas de Brasília. Um ótimo ponto para pedir, para roubar, para escandalizar.
Os brasilienses que saem de casa, recém-acordados, em busca do frango da família, chocam-se, ou são convidados a se chocarem, com a realidade de uma capital que tem gosto de desigualdade como qualquer capital do Brasil. São dezenas de frangos empilhados sobre as brasas da churrasqueira e são dezenas de bocas vazias, contentando-se com a fumaça aromatizada que se espalha pelo leque de esquinas que ao contrário de juntar, divide.
Divide destinos, divide oportunidades, divide classes, divide olhares, divide realidades e, por que não, divide cidades...
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