Daniel Campos

Texto do dia

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Encontrados 31 textos de abril de 2009. Exibindo página 3 de 4.

10/04/2009 - Sexta das dores

Santa, mais do que santa, santificada. Sexta das dores, sexta da santa, dores sêxtuplas, dores santas, santa das feiras, das freiras, das ladeiras, das beiras que doem dores inteiras. Sexta feira Santa, da Paixão, dia das dores de Cristo, dia das dores de Deus, dia das dores de Santa Maria, Virgem Maria, santíssima, prudentíssima, altíssima... Amém.

Dores em cruz. Dores cruzadas. Dores reviradas. Chagas apedrejadas, latejadas, encravadas na alma. Sexta dos pecados. Sexta dos pecadores. Sexta dos silêncios avassaladores. Sexta das trevas. Sexta do fim do fim do fim. Sexta do redentor. Sexta do dês-criador. Sexta da santa, sexta sem feira, sexta da dor atrevida, da dor remida, da dor não esquecida....
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09/04/2009 - Lavações e louvações

Lava, lava seus pés nos meus pés, num ritual de lavações e louvações. Lavo seus pés para você marchar. Lavo seus pés para você pontear. Lavo seus pés para você volitar. Lavo seus pés de todas as impurezas, de todas as incertezas, de todas as indelicadezas dessa vida. Seus pés tão puros, tão certos de si e tão delicados. Pés de luz, pés de flor, pés de buquê de sol.

Humildemente, lavo meus pés nos seus pés e vou conhecendo quem é você ou quem tu és. Sabonetes de rosa, pedras de cheiro e de espuma, e água corrente da mina de um rei. Rei sol. E se um pintagol cantar enquanto nossos pés dançam no sabão se abrirá uma nova estrada pra gente trilhar, pra gente rumar, pra gente pecar e confessar nossos dias, nossas fantasias....
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08/04/2009 - Quarta-feira de trevas

São 15 velas dispostas em um tipo de candelabro triangular sobre as toalhas roxas do altar. Aliás, o padre veste roxo. Os santos estão todos cobertos com panos roxos. Até mesmo as árvores lá fora vestem roxo. Quaresma, quaresmeiras. Mas aqui dentro tudo está escuro e não é o escuro do roxo. É o escuro das trevas. A cada instante, a escuridão se avoluma, se agiganta, se prolifera diante de nossos olhos arroxeados.

São 15 velas com fogo em riste, simbolizando os 150 salmos da Bíblia. Durante a realização do Ofício das Trevas, celebração medieval da Igreja Católica, cada vela é apagada à medida que se canta um salmo. Vozes tristes, gregorianas, doridas. O ritual antecipa o tríduo pascal e marca as trevas, as dores e o sofrimento de Cristo. De cântico em cântico, as velas vão morrendo até que apenas uma ilumine a Igreja - a vela que simboliza a luz do filho de Deus e a esperança em sua ressurreição. ...
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07/04/2009 - Gripe a dois

Corpo ruim. Cabeça que dói, que pesa, que ferve. Paracetamol. Anador. Neosaldina. Chá de vick. Halls negro. Garganta inflamada. Terramicina. Tetraciclina. Vontade de deitar e permanecer ali, pra sempre. Um leito, um leito macio e quentinho, por favor. Sopinha dada na boca. Colheradas de amor. Febre. Banho frio. Cobertor. Filme. Beijos de 40 graus Celsius. Brigadeiro. Espirros. Tosse. Peito cheio. Xarope de folha de pitanga. Nariz congestionado, nariz escorrendo, nariz avermelhado. Mel, agrião, própolis. Atestado médico. Desânimo. Moleza. ...
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06/04/2009 - Do original só sobrou as cópias

Depois de ouvir uma dupla sertaneja cantar "Cavalgada" de Roberto e Erasmo Carlos eu só posso pensar, dizer e escrever que o rei e o tremendão estão loucos. Uma das mais belas pérolas do repertório de uma parceria história da música brasileira está em jogo. A interpretação que está nas rádios, nas discotecas e nas televisões é o que se pode chamar, sem medo de abusar, de uma versão pirata, genérica, piorada do conteúdo original. E não é a primeira vez que isso acontece. Vários sertanejos e cantores de outros estilos e ritmos já emprestaram letra e melodia desses dois, produzindo um resultado sempre muito longe do original. ...
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05/04/2009 - Não diga mais nada

Uma mulher, sentada na beira de uma ponte, olhava seu reflexo na água e, para espanto de quem passava por ali, conversava com ele (o reflexo), ou melhor, com ela:

- Não diga mais nada. Eu não quero ouvir suas acusações. Também não quero escutar seu silêncio condenatório. Vá ao terapeuta. Vá ao psicanalista. Vá ao cardiologista cuidar desse coração inconsequente. São tantos absurdos, são tantos abusos, são tantos maus-usos dos sentimentos. Vê se me tira do banco dos réus ao menos por alguns minutos de seu dia. Você não vê que esse seu espírito promotor só promove a nossa destruição. E eu não quero destruir nada....
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05/04/2009 - Devorações

Pela mulher que me devora, peço alguns minutos mais de vida. Vida para beber mais algumas taças de lua, ser carregado por cometas e dormir em estrelas falando "eu te amo" na língua dos extraterrestres. Pela mulher que me devora, pelo alguns minutos mais de febre. Febre para arder nos receios de uma época que nos poda ao meio e nos cava em decotes, atirando-nos aos seios da revolução que ainda não revolucionou, do verbo revolucionar.

Pela mulher que me devora, peço alguns minutos mais de paciência. Paciência para combater a fúria de matar e morrer que ultimamente, e inconsequentemente, roda na mesma moeda, ora cara ora coroa. Pela mulher que me devora, peço alguns minutos mais de perdão. Perdão para me autoperdoar em razão desse amor demais, que me fere a paciência, que me rouba a vida, que me adoece me curando, que perdoa me culpando e me devora entre dentes, línguas e sentimentos. ...
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04/04/2009 - A vida é cor-de-rosa

A vida é linda. A vida é bela. A vida é cor-de-rosa. Não podemos dizer o contrário. Não podemos bater o pé, levantar o dedo em riste, apenas aplaudir, ou melhor, aplaudi-la. Ela, a vida, necessita de aplausos a todo instante, como uma diva ensandecida. Engula as reclamações e, se for abrir a boca, diga somente palavras doces e sutis. Se lhe baterem em uma face, ofereça rapidamente a outra. Essa é a lei. Essa é a ordem. Essa é a regra. Tudo é bonito. Tudo é up. Diga sim mesmo quando quiser dizer não. Não contrarie. Não desobedeça. Não cresça e muito menos apareça. Não negue. Só diga sim, o mundo é bonito e tudo está bem assim....
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03/04/2009 - Yorkshire hippie

Em um dos maiores centros comerciais e de prestação de serviços de Brasília, por entre uma plantação de prédios e um mar de pessoas que se movimentavam em ondas, indo e vindo, vindo e indo, um yorkshire destoava do cenário. Aquele cão pequeno e de pelos longos, andava de um lado para o outro, sem saber para onde ir. Cheirava aqui, olhava ali, corri para lá e esbarrava na perna dos passantes e nas paredes dos edifícios. Na verdade, era uma yorkshire, pois levava um laço rosa na cabeça. Definitivamente, com toda aquela pelagem azul-aço escuro e fulvo tão reluzente quão limpa, não era uma cadela de rua....
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02/04/2009 - Arraial dos carreiros

Tive notícias de que vô Antônio está feliz da vida, ou melhor, da nova vida. Afinal, com a recente morte de Carreirinho, mais um violeiro dos bons vai poder solar seus dias lá no plano celestial. Afinal, nem só de harpas vive quem passou dessa pra melhor. E que emoção deve ter invadido meu avô, que ouvia Carreirinho em seu radinho de pilha pelas madrugadas sem sono, quando o cantador chegou lá pras bandas do divino. Dia desses, ele já havia organizado uma roda de catira por lá. E não há nada de pecado nisso, afinal estou falando de moda de viola e não da promiscuidade musical, ou melhor, anti-musical que dominou a terra nos últimos tempos. ...
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