06/04/2009 - Do original só sobrou as cópias
Depois de ouvir uma dupla sertaneja cantar "Cavalgada" de Roberto e Erasmo Carlos eu só posso pensar, dizer e escrever que o rei e o tremendão estão loucos. Uma das mais belas pérolas do repertório de uma parceria história da música brasileira está em jogo. A interpretação que está nas rádios, nas discotecas e nas televisões é o que se pode chamar, sem medo de abusar, de uma versão pirata, genérica, piorada do conteúdo original. E não é a primeira vez que isso acontece. Vários sertanejos e cantores de outros estilos e ritmos já emprestaram letra e melodia desses dois, produzindo um resultado sempre muito longe do original.
O que passa na cabeça da dupla em conceder essas autorizações? Dinheiro? Creio que, ao menos Roberto Carlos, não precisa mais do vil metal. E a palavra final nas decisões de um reino pertence ao rei. Fama? Também não é esse fator que o fazem colocar um sucesso já estourado no país e mundo na boca de outros cantores. Bondade? Prefiro não entrar nesse mérito, já que é muito particular e abstrato. Fico só com a hipótese da loucura mesmo, posto que esse processo de espetacularização, banalização, deturpação em torno de uma canção consagrada como Cavalgada é, no mínimo, deprimente. Se não para quem escreveu, cantou ou canta a música, para os fãs do original.
"Conservador!" "Careta!" "Robertiano!" "Restrito!" Que venham as pedras e revoltas, mas eu vaio não só essa interpretação, porém a atitude dos compositores em passarem uma canção pra frente como quem passa um jornal velho. Falta respeito e dignidade com a própria criação. O papel prestado pelos dois lados é ridículo. A dupla sertaneja em questão já provou que tem condições de compor grandes hits. De fato, não precisa pegar carona no fenômeno Roberto-Erasmo. Mas invade todos os meios possíveis cavalgando esse alazão que passou com a cela prontinha. Enquanto isso, Roberto e Erasmo vão como que desaparecendo fisicamente. Será que da grande parceria original só sobrou as cópias?
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